Racismo amplia risco de mortalidade materna
Análise diz que elas têm 1,6 vezes mais chances de morrer durante parto em países como Brasil e Colômbia; agência alerta para maus-tratos no setor de saúde
Publicado 14/07/2023 16:58 | Editado 14/07/2023 17:05
Mulheres e meninas afrodescendentes nas Américas enfrentam um risco desproporcionalmente alto de mortalidade durante o parto, de acordo com o relatório recente do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa). Países como Brasil e Colômbia apresentam uma probabilidade 1,6 vezes maior, enquanto nos Estados Unidos essa taxa é ainda mais alarmante, com mulheres negras enfrentando três vezes mais riscos durante o parto ou nas seis semanas seguintes.No Suriname, a taxa é 2,5 vezes maior.
O relatório destaca a conduta e os maus-tratos enfrentados por mulheres e meninas afrodescendentes no setor de saúde. Esses maus-tratos incluem abuso verbal e físico, negação de atendimento de qualidade e recusa de alívio da dor. Essa realidade resulta em complicações crescentes durante a gravidez, atrasadas e, muitas vezes, morte.
A coleta de dados também é problemática, com apenas 11 dos 35 países das Américas coletando informações discriminadas por raça. Apenas um terço dos 32 planos nacionais de saúde pesquisados identificaram os afrodescendentes como uma população que enfrenta barreiras à saúde. Além disso, apenas quatro países coletam dados de mortalidade materna comparáveis globalmente, discriminados por raça.
A diretora executiva do Unfpa, Natalia Kanem, ressalta que o racismo continua sendo um flagelo para mulheres e meninas negras nas Américas, muitas das quais são descendentes de vítimas de escravidão. Elas enfrentaram abuso e maus-tratos, enquanto suas necessidades não são levadas a sério, resultaram na destruição de suas famílias pela morte inevitável durante o parto. Kanem enfatiza que a justiça e a igualdade só serão alcançadas quando os sistemas de saúde atenderem a essas mulheres, fornecendo cuidados respeitosos e compassivos.
Ação urgente e conscientização são necessárias para enfrentar os desafios enfrentados pelas mulheres afrodescendentes e garantir que todas as gestações e partos sejam seguros e saudáveis, independentemente da origem étnico-racial. O relatório do Unfpa exige a implementação de políticas para acabar com o abuso físico e verbal nos hospitais, bem como a coleta e análise de dados robustos de saúde discriminados por raça e etnia. Além disso, é fundamental combater a ideologia racista nos currículos de treinamento médico.
A atenção aos cuidados maternos de qualidade é um direito fundamental que deve ser garantido a todas as mulheres, independentemente de sua origem étnica. Somente quando os sistemas de saúde se voltarem para atender às necessidades das mulheres afrodescendentes e fornecerem tratamento respeitoso, poderão alcançar uma sociedade mais justa e igualitária.
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com agências
Edição: Bárbara Luz