Racismo amplia risco de mortalidade materna

Análise diz que elas têm 1,6 vezes mais chances de morrer durante parto em países como Brasil e Colômbia; agência alerta para maus-tratos no setor de saúde

Mãe com bebê sob cuidados da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Nebbi General Hospital, em Uganda | Foto: Zahara Abdul/Unicef

Mulheres e meninas afrodescendentes nas Américas enfrentam um risco desproporcionalmente alto de mortalidade durante o parto, de acordo com o relatório recente do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa). Países como Brasil e Colômbia apresentam uma probabilidade 1,6 vezes maior, enquanto nos Estados Unidos essa taxa é ainda mais alarmante, com mulheres negras enfrentando três vezes mais riscos durante o parto ou nas seis semanas seguintes.No Suriname, a taxa é 2,5 vezes maior.

O relatório destaca a conduta e os maus-tratos enfrentados por mulheres e meninas afrodescendentes no setor de saúde. Esses maus-tratos incluem abuso verbal e físico, negação de atendimento de qualidade e recusa de alívio da dor. Essa realidade resulta em complicações crescentes durante a gravidez, atrasadas e, muitas vezes, morte.

A coleta de dados também é problemática, com apenas 11 dos 35 países das Américas coletando informações discriminadas por raça. Apenas um terço dos 32 planos nacionais de saúde pesquisados ​​identificaram os afrodescendentes como uma população que enfrenta barreiras à saúde. Além disso, apenas quatro países coletam dados de mortalidade materna comparáveis ​​globalmente, discriminados por raça.

A diretora executiva do Unfpa, Natalia Kanem, ressalta que o racismo continua sendo um flagelo para mulheres e meninas negras nas Américas, muitas das quais são descendentes de vítimas de escravidão. Elas enfrentaram abuso e maus-tratos, enquanto suas necessidades não são levadas a sério, resultaram na destruição de suas famílias pela morte inevitável durante o parto. Kanem enfatiza que a justiça e a igualdade só serão alcançadas quando os sistemas de saúde atenderem a essas mulheres, fornecendo cuidados respeitosos e compassivos.

Ação urgente e conscientização são necessárias para enfrentar os desafios enfrentados pelas mulheres afrodescendentes e garantir que todas as gestações e partos sejam seguros e saudáveis, independentemente da origem étnico-racial. O relatório do Unfpa exige a implementação de políticas para acabar com o abuso físico e verbal nos hospitais, bem como a coleta e análise de dados robustos de saúde discriminados por raça e etnia. Além disso, é fundamental combater a ideologia racista nos currículos de treinamento médico.

A atenção aos cuidados maternos de qualidade é um direito fundamental que deve ser garantido a todas as mulheres, independentemente de sua origem étnica. Somente quando os sistemas de saúde se voltarem para atender às necessidades das mulheres afrodescendentes e fornecerem tratamento respeitoso, poderão alcançar uma sociedade mais justa e igualitária.

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com agências
Edição: Bárbara Luz

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