Corpolítica, sobre eleições de LGBT+, representa Brasil em festival de cinema, nos EUA
Festival nos EUA marca Dia do Orgulho LGBTQIA+ nas Américas. Filme mostra candidaturas municipais que disputaram em 2020
Publicado 29/06/2023 10:40
O documentário Corpolítica é o único representante do Brasil no Ciclo de Cinema Queer das Américas, promovido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington (EUA), que começou nessa quarta-feira (28), marcando a celebração do Dia do Orgulho LGBTQIA+.
O longa-metragem do diretor Pedro Henrique França, com produção de Marco Pigossi, foi selecionado pela Missão da Colômbia, que atualmente exerce a coordenação do core group (grupo principal) LGBTQIA+ da OEA, do qual o Brasil é fundador.
O festival não tem caráter competitivo e exibirá um total de 12 filmes, no auditório da Embaixada da Colômbia em Washington. O longa-metragem brasileiro será apresentado no dia 6 de julho. O Ciclo de Cinema Queer das Américas se estenderá até o dia 29 de julho. Corpolítica é ganhador do Prêmio Félix do júri de Melhor Documentário no Festival do Rio, do prêmio do público de melhor documentário no Queer Lisboa, em Portugal, e de melhor filme nacional no MixBrasil.
Ao pé da letra, a palavra Queer, o Q da sigla, significa “estranho”, que no Brasil sempre foi identificado com o termo “bicha” e usado como ofensa a pessoas LGBT+. No entanto, a comunidade LGBTQIAPN+ se apropriou do termo e hoje é uma forma de designar todos que não se encaixam na heterocisnormatividade, que é a imposição compulsória da heterossexualidade e da cisgeneridade (pessoas que se identificam com o sexo biológico com que nasceu).
O documentário Corpolítica explora as candidaturas LGBTQIA+ no país, citando personalidades como Jean Wyllys (G) que se exilou do país após ameaças violentas após a eleição de Jair Bolsonaro, personalidades que se elegeram com uma pauta conservadora como Thammy Miranda (T), Clodovil (G) ou Fernando Holliday (G) e candidaturas mais progressistas como Andréa Bak (B), Erika Hilton (T), Monica Benicio (L) e William de Lucca (G).
Baixa representatividade
Diante de um recorde de candidaturas LGBTQIA+ nas eleições de 2020, em meio ao reacionarismo da extrema-direita no poder, o diretor ficou intrigado e encontrou seu personagem: o vazio de representatividade desta população no cenário político do Brasil. O recorde de 546 candidaturas levou à eleição de apenas 96 candidaturas, como as de Erika Hilton, em São Paulo, hoje deputada federal em Brasília, e de Monica Benicio, para a Câmara de Vereadores carioca. Já em 2022, mais de 300 candidaturas LGBT+ foram registradas para as eleições gerais, sendo que 18 delas foram eleitas (16 mulheres, 14 pessoas negras e 5 trans).
Segundo França, os LGBTQIA+ representam hoje 0,16% dos cargos eletivos em todo o país. “A gente está falando de menos de meio por cento. Uma sub-representação alarmante no Brasil, país que mais mata LGBTQIA+ no mundo, muito mais que em países onde essas orientações sexuais e identidades de gênero são crime”.
Váries candidates e governantes do Brasil relatam as suas experiências e violências na afirmação e luta por direitos no âmbito da política institucional do país. Com depoimentos importantes de candidates em vários partidos, o filme acompanha duas campanhas durante as eleições de 2020.
“O discurso apolítico é perigoso porque nos afasta. Quando a gente fala de subrepresentatividade, a gente fala de subrepresentatividade feminina, LGBTQIA+, negros, indígenas. A política tem que deixar de ter essa fotografia que a gente se acostumou, de homens brancos, héteros e ricos”, diz o diretor.
França denuncia que todas as leis de promoção e proteção dessa população foram criadas por intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF). “Ou seja, por omissão do Poder Legislativo. A gente não tem nenhuma lei até hoje no Brasil de proteção à população LGBTQIA+ promulgada em Legislativo”, completa, observando que isso se deve a baixa representatividade política dessas populações vulneráveis.
“É preciso melhorar esse número”. Pedro Henrique França afirmou que tudo que envolve a população LGBTQIA+ no Brasil é motivo de polêmica, de reações conservadoras na sociedade. “Sempre que houve uma tentativa de se falar sobre isso no Legislativo virou uma grande questão e nenhuma avançou”. Lembrou que, em 2011, quando se tentou coibir a homofobia nas escolas, o assunto acabou proibido pelo governo federal, pressionado pela extrema direita no país. O tema também é abordado no documentário, disse o diretor. Destacou ainda que os temas humanitários para proteção à comunidade LGBTQIA+ acabam “envelopados em questões conservadoras, para que não saiam do papel”.
O filme Corpolítica continua em cartaz nos cinemas do Brasil e em festivais internacionais. Pedro Henrique França informou que ele acaba de ser selecionado para o OutfestPeru, festival internacional de cinema LGBTQIA+, que ocorrerá em Lima, entre os dias 2 e 6 de julho. O documentário nacional será também o único representante do Brasil e competirá ao grande prêmio, com exibições nos dias 4 e 6 de julho.
O site da campanha Vote LGBT acompanha a evolução desta representatividade a cada eleição.
Com informações da Agência Brasil