Ata do Copom revela que juros já poderiam ter baixado

Divulgada nesta terça (27), a ata mostra que os membros do comitê estão divididos entre aqueles que já pretendem abaixar a Selic em agosto e aqueles que seguem com “cautela”

Integrantes de centrais sincicais fazem protesto contra os juros altos em frente à sede do Banco Central. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou, nesta terça (27), a ata oficial da reunião que decidiu pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. Segundo a ata, a maioria do Copom vê espaço para início de “processo parcimonioso” de corte de juros em agosto.

“Observou-se divergência no Comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos”, diz a ata do Copom.

Na ata é possível notar a divisão do Copom em dois grupos começam a se distinguir com mais força. A avaliação predominante entre os membros do comitê é de que existe um processo desinflacionário em curso que pode permitir a queda da Selic. Outro grupo, porém, defendeu maior cautela.

Para o grupo predominante, a ata já poderia sinalizar uma queda condicional para os juros. “A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.

Já o outro grupo acredita ainda não ser o momento para a sinalização de um novo ciclo. “Outro grupo mostrou-se mais cauteloso, enfatizando que a dinâmica desinflacionária ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário até então implementado”.

Em suas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou a alta dos juros. “Como uma pessoa que ganha R$ 2 mil, que pega R$ 1 mil no consignado, está pegando crédito a 30% ao ano, enquanto se empresta dinheiro aos grandes por 18% ao ano, e no Plano Safra, estamos fazendo 10% ao ano. E ainda é caro, porque a Selic está 13,75%. Vou conversar com o [ministro] Fernando Haddad sobre isso”.

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Processo desinflacionário e crescimento econômico

Os economistas ortodoxos defendem o aumento da taxa de juros como forma de frear o processo inflacionário. Para eles, uma vez que o consumo se encontra em efervescência os preços tendem a seguir subindo.

No Brasil, no entanto, a inflação não é por demanda. “Não tem inflação de demanda. Pelo contrário, precisamos estimular a economia”, disse o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), em um evento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O consumo das famílias no primeiro trimestre 2023 cresceu apenas 0,2% em relação ao último trimestre de 2022.

Fonte: IBGE

“Acreditamos no bom senso. Não tem inflação de demanda. Pelo contrário, precisamos estimular a economia. O mundo inteiro passa por um momento mais difícil. Hoje, grande parte dos países do mundo têm juros negativos. Como disse bem o ministro Fernando Haddad (Fazenda), tem uma gordura muito grande, (juro de) 8% acima da inflação acaba dificultando o consumo, atrasa investimentos e onera o fiscal. Não há nada pior para o fiscal do que isso, porque metade de dívida é (indexada à) Selic. Acreditamos no bom senso, de que vamos ter aí uma redução na taxa de juros”, afirmou Alckmin.

Além disso, o processo desinflacionário já é possível observar desde fevereiro deste ano. A prévia da inflação de junho, medida pelo IPCA-15, do Banco Central, ficou em 0,4%. Em maio, o indicador estava em 0,51%.

Com isso, o IPCA-15 em 12 meses atingiu 3,4%, o menor valor desde setembro de 2020, no auge da pandemia. Os resultados reafirmam o caminho de desinflação da economia brasileira, o que já poderia vir acompanhado de uma queda da taxa Selic.

Impacto fiscal

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, criticou a decisão do Banco Central de manter a Selic em 13,75% ao ano, mesmo com inflação em queda.

Segundo Alckmin, além de causar danos à atividade econômica, inibindo investimentos e prejudicando o comércio e a indústria, esse patamar de juros tem impacto forte na situação fiscal do país, já que grande parte da dívida está indexada à taxa Selic.

“Quase metade da dívida pública brasileira é selicada [indexada à Selic]. Então, cada 1% da taxa Selic custa R$ 38 bilhões [de pagamento do serviço da dívida pública]. Não há nada pior para a questão fiscal do que uma Selic desnecessariamente elevada. Então, R$ 38 bilhões a cada 1%, se você tem uma taxa 5% acima do que deveria estar, isso custa praticamente 190 bilhões”, criticou.

“Você fica fazendo economia de um bilhão, meio bilhão, e acaba gastando aí quase R$ 200 bilhões em razão de ter uma taxa Selic nessa altura”, acrescentou.

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Mobilização

O movimento sindical e populares estão em campanha pela redução da taxa de juros no Banco Central (BC), a Selic. Na última terça (20), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) se manifestaram em frente às sedes do Banco Central e em locais movimentados, visando exercer pressão para que o presidente do BC, Roberto Campos Neto interrompa o ciclo de alta dos juros.

São Paulo (SP), 21/03/2023 – Centrais Sindicais protestam contra juros altos em frente ao prédio do Banco Central, na Avenida Paulista. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O movimento tem utilizado como lema “Com juros assim o Brasil para” para mobilizar as redes sociais. As hashtags a serem utilizadas em postagens são #JurosBaixosJá e #ForaCamposNeto.

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