Jornal alemão Bild substituirá profissionais por Inteligência Artificial

Cerca de 200 trabalhadores serão afetados para acomodar “transformação digital”; crescente adoção da IA no jornalismo ameaça empregos e levanta preocupações sobre futuro da profissão

Foto: Monika Skolimowska/dpa/picture alliance

O avanço da Inteligência Artificial (IA) está provocando grandes mudanças no cenário do jornalismo, com empresas de mídia adotando a tecnologia cada vez mais em suas operações. Recentemente, a editora Axel Springer, responsável pelo Bild, jornal mais vendido da Alemanha, anunciou a intenção de cortar 200 vagas de trabalho, além de fechar um terço de seus escritórios regionais, como parte de uma transição para a produção digital.

Segundo publicação do jornal alemão Deutsche Welle (DW) nesta quarta-feira (21), essa transição resultará na substituição gradual de funções por IA, tornando alguns empregos obsoletos.

“As atuais mudanças estruturais estão resultando em cortes de postos. Estamos nos distanciando de produtos, projetos e maneiras de fazer coisas que nunca mais serão lucrativas”, dizia um e-mail enviado pela direção aos trabalhadores da Bild na tarde desta segunda-feira (19).

A editora planeja ainda reestruturar toda a equipe executiva para se adaptar à “transformação digital e impressa” até janeiro de 2024. Segundo a agência de notícias EPD, os cortes de empregos afetarão principalmente os departamentos editorial, editorial e de marketing, com redução estimada de 200 postos de trabalho. Além disso, o número de edições regionais será reduzido de 18 para 12.

Avanço da IA

À medida que o layout das edições impressas se torna padronizado, a maioria das funções de produção será gradualmente eliminada e substituída pela IA. Funções como chefe de redação, editor-chefe, revisor, secretário e redator fotográfico também sofrerão um impacto significativo.

Os cortes totalizam cerca de 100 milhões de euros. O conglomerado Axel Springer pretende agilizar workflows e hierarquias além de enxugar níveis de chefia. No final de fevereiro, o CEO da empresa, Mathias Döpfner, já havia anunciado planos de reduzir os quadros tanto o Bild quanto o jornal diário Die Welt sob o slogan “Digital only” (“Somente digital”).

Na ocasião, ele ressaltou que a IA seria melhor do que jornalistas humanos na “agregação de informações”. Segundo ele, apenas as editoras que produzirem “o melhor conteúdo original”, como jornalismo investigativo e comentários originais, sobreviverão nesse novo cenário.

Microsoft e BuzzFeed também adotam IA

Essa não é a primeira vez que a IA ameaça empregos jornalísticos. Em 2020, a Microsoft dispensou dezenas de jornalistas que trabalhavam em suas plataformas de notícias, substituindo-os por uma ferramenta de IA que realiza a busca e sugestão de reportagens de forma rápida e sem salário no final do mês.

Já a agência de notícias BuzzFeed, que teve seu capital aberto em 2021, comunicou, em dezembro do ano passado, a demissão de 180 funcionários, cerca de 12% do quadro total. Na sequência, a empresa, que recebe cerca de 100 milhões de visitas por mês, anunciou investimentos na ferramenta ChatGPT, desenvolvida pela Open AI, para a produção de textos.

É o fim do jornalismo?

O anúncio do BuzzFeed é mais um reflexo da crise financeira enfrentada pelas empresas de comunicação, aliada à “possibilidade tentadora” de fazer mais com menos gente. A ideia de utilizar IA para realizar tarefas antes exercidas por jornalistas pode parecer atraente para empresários do setor, mas levanta preocupações sobre o futuro da profissão e o papel humano no jornalismo.

À medida que a Inteligência Artificial avança, é evidente que jornalismo como conhecemos hoje está em risco. Embora a IA possa trazer benefícios em termos de eficiência e velocidade, é importante considerar o impacto social e profissional dessas mudanças.

O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre o uso de uma tecnologia que veio para ficar e a preservação do valor único e insubstituível que jornalistas e redatores humanos trazem para a sociedade, “como a investigação, a análise e a interpretação de informações complexas, além da capacidade de julgamento ético e de decisão na escolha do que é notícia.” 

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com informações de agências

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