EUA x China: uma trégua que durou pouco
Mais: Putin – “Parece que Otan decidiu, de fato, lutar até o último ucraniano”/ Terroristas fazem “pogrom” contra cidade palestina / Portugal pede “oportunidade à paz”.
Publicado 22/06/2023 19:18 | Editado 23/06/2023 15:29
EUA x China: Uma trégua que durou pouco
A visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, à China, nos dias 18 e 19 deste mês, foi recheada de declarações de ambos os lados no sentido de melhorar a “confiança mútua” entre Washington e Pequim, com a parte chinesa considerando que as relações bilaterais com os EUA estão no ponto mais baixo da história desde que os dois países reataram relações diplomáticas, em 1979. Mas, como adiantamos na Súmula Internacional do dia 19/06, “o tom geral da mídia chinesa foi o de advertir contra ‘expectativas altas’ para os resultados da viagem que dependem de ‘gestos concretos’ da parte dos EUA, já que ‘a maioria das dificuldades encontradas nas relações China-EUA deveu-se às políticas e ações unilaterais e erráticas de Washington (Global Times)”. A precaução da mídia chinesa revelou-se realista. Na noite desta terça-feira (20), mal Blinken havia desembarcado em Washington, vindo de Pequim onde se reuniu com Xi Jinping e outras altas autoridades chinesas, no que foi descrito em comunicado conjunto como conversas “longas, sinceras, profundas e construtivas”, o presidente dos EUA, Joe Biden, em campanha eleitoral para reeleição, voltou a atacar a China. O presidente estadunidense gabou-se de ter derrubado, em fevereiro, o suposto “balão de espionagem” chinês (a China insiste que os EUA derrubaram um balão meteorológico) e em um discurso confuso, disse que Xi Jinping ficou irritado com o fato, pois, segundo Biden, o dirigente chinês “não sabia que o artefato estava lá (…) isso é a grande vergonha para os ditadores, quando eles não sabem o que aconteceu”. Biden disse ainda que “a China enfrenta dificuldades econômicas”, o que soa estranho pois apenas quatro dias antes o Departamento do Tesouro americano anunciou que a dívida nacional dos EUA ultrapassou os US$ 32 trilhões pela primeira vez na história.
EUA x China: A reação chinesa
Mao Ning, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, declarou que “este comentário da parte americana é realmente ridículo, muito irresponsável e não reflete a realidade”. Alguém pode alegar que Biden teria dito o que disse em clima de campanha, falando para o público interno. No entanto, Trump iniciou uma guerra comercial com a China que Biden vem aprofundando. Durante os debates da última campanha eleitoral, analistas chineses registraram que o establishment estadunidense está majoritariamente unido diante da visão expressa em inúmeros documentos do departamento de Estado, de que a China é uma “ameaça estratégica”. Os fatores principais que impendem uma evolução negativa mais rápida nas relações sino-americanas são as conexões econômicas entre os dois países que, se rompidas, podem prejudicar importantes setores da economia dos EUA e a pressão de aliados ocidentais para os quais o mercado chinês é atualmente imprescindível, principalmente depois que foram forçados a, contra seus próprios interesses, confrontar a Rússia. Yang Tao, diretor-geral do Departamento de Assuntos da América do Norte e Oceania do Ministério das Relações Exteriores da China, antes das declarações de Biden repercutirem, havia enumerado “5 consensos alcançados entre a China e os EUA”, durante a visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken: “1. Implementar o consenso alcançado pelos dois chefes de Estado na cúpula do Grupo dos 20, em Bali, gerir adequadamente as divergências e promover o diálogo, intercâmbio e cooperação; 2. Manter intercâmbios de alto nível. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, convidou o Conselheiro de Estado e Ministro das Relações Exteriores Qin Gang para visitar os Estados Unidos; 3. Continuar avançando nas consultas sobre os princípios orientadores das relações China-EUA; 4. Criação de grupos de trabalho conjunto para abordar questões específicas nas relações bilaterais; 5. Incentivar a expansão bilateral de intercâmbios culturais e educacionais, aumentar os voos de passageiros entre a China e os Estados Unidos, aprofundar o intercâmbio acadêmico e empresarial”. Na verdade, em essência nada mudará com as declarações de Biden que apenas comprovam o que a direção chinesa sabia de antemão e que a Rússia sutilmente ressaltou, condenando o episódio e dizendo que isso mostrava o quanto a política externa americana era instável. A China seguirá usando doses de pragmatismo, habilidade e firmeza, em proporções adequadas à cada momento, única forma de lidar com um “parceiro” que se julga dono do mundo e age de acordo com esta visão.
Putin: “Parece que Otan decidiu, de fato, lutar até o último ucraniano”
A agência Sputnik News reportou que, nesta quinta-feira (22), o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, durante uma reunião com o presidente Vladimir Putin e os membros permanentes do Conselho de Segurança da Rússia, relatou que o Exército ucraniano sofreu perdas significativas, reduziu suas atividades e está se reagrupando. De acordo com o relato, as Forças Armadas ucranianas até o momento têm capacidade de ofensiva, mas a Rússia está se preparando para responder às próximas ações. O ministro da Defesa afirmou que está claro que as armas entregues a Kiev e as que serão entregues não afetarão significativamente o curso da operação especial. Ao mesmo tempo, as Forças Armadas da Rússia recebem diariamente uma média de mais de 110 equipamentos atualizados e novos. Além disso, o Exército russo recrutou 114.000 homens sob contrato direto e 52.000 voluntários, informou o ministro. Até o final de junho, as Forças Armadas russas formarão um exército de reserva e, em um futuro próximo, um corpo de exército, que receberão mais de 3.700 novos equipamentos, informou o Ministro. “Estamos formando reservas para o corpo de exército, um exército, além de cinco regimentos do 20º Exército de Tropas Blindadas. Tudo está indo de acordo com o planejado. De fato, até o final de junho, terminaremos a formação do exército de reserva e, em breve, concluiremos a formação do corpo de exército“, acrescentou.
Putin: “Parece que Otan decidiu, de fato, lutar até o último ucraniano” II
Por sua vez, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, disse, na reunião mencionada acima, que as perdas da Ucrânia na contraofensiva já ultrapassam 13.000 homens, informação que teria sido confirmada por relatos interceptados nas comunicações de oficiais ucranianos. Segundo ele, entre 4 e 21 de junho, o Exército russo destruiu 246 tanques da Ucrânia, dos quais 13 eram de fabricação ocidental, 595 veículos blindados de combate, 279 peças de artilharia e morteiros, dez caças táticos e 264 drones. Putin, por sua vez, afirmou que as reservas da Ucrânia nesta ofensiva ainda não estão esgotadas e que isso deve ser levado em conta durante a operação especial. “(os países da Otan) Podem fornecer também equipamento adicional. Mas a reserva de mobilização não é ilimitada. E parece que os aliados ocidentais da Ucrânia decidiram, de fato, lutar contra a Rússia até o último ucraniano“, disse o presidente da Rússia. Enquanto isso, em entrevista à BBC, nesta quarta-feira (21), o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, admitiu que a contraofensiva está “mais lenta do que desejado”. Autoridades ocidentais e americanas declararam à CNN, que a contraofensiva ucraniana “não está atendendo às expectativas em nenhuma frente”. Tropas e blindados ucranianos estão se mostrando “vulneráveis” aos campos minados, mísseis e poder aéreo russo, acrescentaram. “As linhas de defesa russas têm se mostrado bem fortificadas, tornando difícil para as forças ucranianas violá-las”, relatou a CNN, citando oficiais anônimos. “Além disso, as forças russas tiveram sucesso em bloquear a blindagem ucraniana com ataques de mísseis e minas e têm implantado o poder aéreo de forma mais eficaz.”
Terroristas israelenses fazem “pogrom” contra cidade palestina
A cidade palestina de Turmus Ayya, na Cisjordânia, foi atacada, nesta quarta-feira, por centenas de colonos israelenses armados e mascarados que mataram um palestino, destruíram ou danificaram 35 imóveis e 50 veículos. Segundo o prefeito de Turmus Ayya, Lafi Adeeb, eram entre 200 e 300 os atacantes, embora a agência AP mencione 400. O pretexto do ataque seria vingar assassinatos de israelenses por palestinos, mas o prefeito disse que “em Turmus Ayya somos atacados dia após dia pelo agressivo avanço dos colonos”. De acordo com relatos de moradores, o exército sionista interveio disparando balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os agredidos, sendo que um deles, Omar Qatin, 27, foi morto pelas forças israelenses. Os moradores afirmam que Qatin era pai de dois filhos pequenos e trabalhava como eletricista para o município local e não havia se envolvido no confronto. Nenhum dos terroristas mascarados foi preso. Durante a noite, na mesma região, um drone israelense atacou um automóvel e matou o motorista e dois passageiros, todos palestinos que, alegam as autoridades sionistas, estavam armados. Há dias a Cisjordânia sofre cruéis ataques sionistas e o que faz o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu? Anuncia, provocativamente, na terça-feira, a construção de mais mil residências para colonos israelenses no território palestino. São incontáveis as ocasiões em que Netanyahu, um neofascista violento e notoriamente corrupto, afronta a consciência humana e o direito internacional, tendo como única resposta concreta a coragem indomável do heroico povo palestino. Com informações de O Globo e da AP NEWS.
Mobilização em Portugal pede “uma oportunidade à paz”
O jornal Avante!, na edição desta quinta-feira, informa que o lema “Parar a guerra! Dar uma oportunidade à paz”, levou, no último sábado (17), milhares de pessoas às ruas de cinco cidades do país: Lisboa, Porto, Coimbra, Faro e Funchal. “Aquilo que estamos a dizer, juntando a nossa voz a milhões de seres humanos que estão a lutar pela paz em todo o mundo, é que é possível encontrar caminhos para a paz”, afirmaram nas várias iniciativas os representantes do Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC), de quem partiu o apelo à sua realização. Relata o Avante! que “o grande desfile que na quente tarde de sábado percorreu as ruas da baixa lisboeta, entre o Largo Camões e a Praça do Município, encerrou a série de cinco ações públicas convocadas para – como se lê no Apelo – ampliar ‘as vozes que se unem em torno da defesa de políticas de paz, soberania, solidariedade, cooperação e amizade entre todos os povos’. Vozes essas, acrescenta-se, que ‘são cada vez mais e soam mais alto’”. Ilda Figueiredo, representando o CPPC, defendeu “uma solução política negociada, no respeito pela democracia, pelas liberdades, pelo direito dos povos a decidirem do seu futuro, de forma a garantir a paz na Ucrânia e na Europa”. O que os povos precisam neste momento, acrescentou, “não é uma escalada que pode ter consequências ainda mais terríveis para os povos ucraniano e russo e para todos os povos do mundo», e sim uma aposta séria em iniciativas que “visam desanuviar a tensão e abrir caminhos para o diálogo e a paz”. O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, encabeçando uma delegação do Partido, esteve presente, “perante um apelo destes, de parar a guerra, dar uma oportunidade à Paz, tínhamos de estar aqui presentes (…) quantos mais milhares de mortos serão necessários e quanto mais destruição será necessária para se perceber que o caminho é exatamente esse?”, questionou.
Os senhores da guerra
Aliás, nesta mesma edição do Avante!, que é o órgão Central do PCP, foi publicado um excelente artigo de Pedro Guerreiro, membro do secretariado do Comitê Central, intitulado “Ampliar a Luta pela Paz!. Segue trecho “São os EUA, a OTAN e a UE que continuam a boicotar, a rejeitar ou desvalorizar os apelos, iniciativas e propostas para uma solução política para o conflito na Ucrânia, como se verifica com as iniciativas protagonizadas pela China, Brasil, países africanos ou Vaticano. Na verdade, o imperialismo norte-americano, com o alinhamento da Otan e da UE, não quer parar a guerra que trava na Ucrânia e, pelo contrário, continua a apostar no seu prolongamento, porque necessita dela, sendo aliás o primeiro e principal responsável pela sua eclosão em 2014. É de grande importância continuar a desenvolver e a ampliar a luta pela paz, pela verdade, contra o militarismo, o fascismo e a guerra, pela amizade e cooperação entre todos os povos do mundo”.