Brasil participa de cúpula sobre Ucrânia, no sábado (24), na Dinamarca

Celso Amorim deve participar desta primeira reunião sobre a guerra, envolvendo países neutros, numa oportunidade para discutir a paz

O assessor especial de política externa Celso Amorim, em Kiev - Reprodução Twitter

A Dinamarca sediará, neste fim de semana, uma reunião de conselheiros de segurança nacional de países ocidentais que apoiam a Ucrânia e países que se recusaram a condenar a invasão russa ou mantém neutralidade.

O governo brasileiro participará desta primeira tentativa efetiva de discutir a paz na Ucrânia, a partir de um encontro com países que não estão envolvidos no financiamento da guerra. Celso Amorim, assessor especial da Presidência e diplomata, será o representante brasileiro. Amorim vem pilotando o esforço brasileiro por juntar ucranianos e russos numa mesma mesa de negociação.

Os EUA enviarão o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan e a subsecretária de Estado Victoria Nuland para a reunião em Copenhague, que se concentrará em como alcançar uma paz justa na Ucrânia. A iniciativa foi tomada devido a pressão de dezenas de países que vocalizam seu interesse no fim do conflito, enquanto EUA e Europa apenas enviar armas para a defesa ucraniana, sem ouvir qualquer demanda russa. 

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O evento ocorre num momento em que a contraofensiva liderada por Kiev para recuperar territórios ocupados pelos russos enfrenta dificuldades e avança mais lentamente do que se imaginava entre os aliados da OTAN. 

O colunista do UOL, Jamil Chade, relata a conversa que teve com Amorim, nesta quinta-feira, enquanto Lula viaja pela Itália e França. O Brasil evita, segundo ele, esses encontros que só servem para reforçar o apoio irrestrito a Zelensky (Ucrânia), sem colocar na pauta a situação russa e as possibilidades de uma negociação real para acabar com a guerra.

Segundo ele, porém, o encontro é o primeiro no qual existe uma abertura para países que não estão envolvidos na guerra. Ele defende que o próximo passo seja trazer a Rússia para o debate.

Não se sabe exatamente quem estará presente, além do Brasil, África do Sul e Índia. Acredita-se que os turcos e chineses também compareçam.

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Segundo os europeus, trata-se de um encontro para falar sobre “princípios de paz”, uma forma diplomática para debater quais seriam as bases de um eventual acordo de cessar-fogo. Amorim insiste que será preciso envolver os russos em algum momento os russos, assim como a ONU.

Kiev repete que o único plano de paz possível é sua proposta, que exige a retirada imediata das tropas russas de suas terras para que uma negociação possa começar. Moscou já deixou claro aos diplomatas brasileiros que isso seria o equivalente a uma derrota.

Em Roma, com o Papa

Em Roma nesta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a meta de todos os esforços, ainda, é a de encontrar “um denominador comum” para permitir que russos e ucranianos possam dialogar.

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Segundo relato de Chade, Lula enfatizou que nenhum dos lados vai assumir uma rendição, por isso, é preciso um acordo que envolva vantagens para ambos. “Os dois precisam ganhar alguma coisa. Se não, não é acordo. É imposição”, disse.

Em sua visão, quem sabe quais são os critérios de um acordo são os ucranianos e russos. “Não eu, brasileiro, e nem outras pessoas”, alertou. Lula voltou a criticar o Ocidente. “O problema é que a Europa e os EUA estão totalmente envolvidos na guerra”, disse.

Segundo Lula o papa Francisco concorda que é preciso ter gente envolvido discutindo a paz. Em vez de parar de atirar, todos acreditam que vão ganhar a guerra, enquanto milhares morrem.

O brasileiro acredita que a ONU precisa se envolver nessas negociações. Atualmente, a ONU tem apenas confirmado os interesses da OTAN em condenar a Rússia e defender os interesses ucranianos. O próprio Lula enfatiza que aprovou uma resolução da ONU condenando a invasão russa, como forma de demonstrar sua neutralidade no conflito.

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No entanto, o brasileiro criticou a postura das potências que criticam a invasão russa, mas promovem outras pelo mundo. 

“O Brasil condenou a ocupação territorial na Ucrânia. Mas é uma moda dos membros do Conselho de Segurança invadir sem pedir licença para ninguém. Os americanos invadiram o Iraque, os franceses e britânicos na Líbia e russos na Ucrânia. Eles não poderiam fazer isso. Por isso queremos nova governança mundial”, defendeu.

Amorim no Vaticano

Nesta quarta-feira, enquanto Lula se reunia com o papa Francisco, no Vaticano, Amorim se encontrou com o enviado da Santa Sé para negociar uma saída para a guerra, cardeal Matteo Zuppi.

O Vaticano mantém uma posição sobre o conflito que dialoga com a postura do Itamaraty. Zuppi, assim como Amorim, foi para Kiev nos últimos dias, na esperança de buscar espaços para que um diálogo possa ocorrer.

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Zuppi é arcebispo de Bolonha, presidente da Conferência Episcopal Italiana e ajudou a mediar os acordos de paz da década de 1990 que puseram fim às guerras civis na Guatemala e em Moçambique. Ele ainda chefiou a comissão que negociou um cessar-fogo.

Em Paris, nesta quinta-feira e sexta-feira, o tema da guerra voltará ao debate. Num almoço, Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, tratarão da crise. Os franceses, segundo fontes diplomáticas europeias, tentam convencer os ucranianos a modificar alguns pontos do acordo de paz proposto por Kiev para que ganhe o apoio também de Brasil e outros emergentes.

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