Lula, Miguel Díaz-Canel e o “plano” do Papa Francisco
Mais: Notícias da Guerra / Israel ataca Jenin / Nações Unidas adotam Tratado para Proteger Alto Mar.
Publicado 20/06/2023 17:25 | Editado 20/06/2023 18:04
Lula desembarcou nesta terça-feira (20) na Itália, onde fica até quinta-feira (22). Já o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel foi recebido hoje em audiência no Vaticano pelo Papa Francisco. Na Itália, o presidente brasileiro se reúne com o intelectual Domenico de Masi, com o presidente italiano, Sergio Mattarella, com o prefeito da capital, Roberto Gualtieri (que visitou Lula enquanto ele esteve preso em Curitiba) e, graças a negociações de última hora, com a primeira-ministra de extrema-direita, Giorgia Meloni. Lula também irá ao Vaticano e será recebido, nesta quarta-feira (20), pelo Papa. Quando em 2016, a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa, depois de mais de 900 anos sem contatos oficiais, resolveram restabelecer laços, qual o local escolhido pelo Papa Francisco e pelo Patriarca Kirill para o encontro? Havana, o que não deixou de ser um poderoso gesto de solidariedade com a ilha socialista. Durante a injusta prisão do presidente Lula, o Papa Franciso enviou um emissário a Curitiba com uma carta pessoal onde o confortava: “quero lhe manifestar minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus” e expressava a certeza de que a justiça iria prevalecer: “o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”. Ou seja, os presidentes de Cuba e do Brasil têm razões sólidas para uma relação de confiança com o Papa Francisco. Mas a Folha de S. Paulo, sempre arguta, descobriu uma motivação extra, pelo menos da parte do Papa, para as audiências com os líderes latino-americanos. Em manchete da editoria Mundo, na sua edição digital desta terça-feira, a Folha afirma o seguinte: “Lula vai a Roma como peça no xadrez do Papa Francisco para a Guerra da Ucrânia”. Isso é o que eu chamo de “forçar a barra”. Segundo o sofisticado raciocínio da jornalista Michele Oliveira, que assina o texto, o Papa Francisco usará um ingênuo Lula como canal para acessar o presidente da Federação Russa, o mais ingênuo ainda Vladimir Putin, visando qualificar o Vaticano como mediador de uma solução diplomática para o conflito na Ucrânia. Tanto Lula, quanto o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, são, segundo a matéria publicada pela Folha, “peças” usadas pelo Papa, para seu genial plano.
Lula e o “plano” do Papa Francisco II
Sem dúvida que o Vaticano, assim como o Brasil, a China, a Índia, países da África e outros “jogadores”, desejam que a paz seja alcançada através de um cessar-fogo imediato e o estabelecimento de negociações sem pré-condições, o que não deixa de ser um jogo complexo que pode ser comparado ao xadrez. Na audiência de hoje com Miguel Díaz-Canel, o Papa disse que Cuba é “um símbolo”. O Itamaraty, em nota à imprensa, destaca que Brasil e Santa Sé “convergem em matérias de paz e segurança internacional, desarmamento e não-proliferação (de armas nucleares), direitos humanos, refugiados, globalização, combate à fome e à pobreza, negociações comerciais voltadas para o desenvolvimento e meio ambiente” e a visita do Presidente Lula “será oportunidade para repassar a expressiva convergência que caracteriza a pauta bilateral e multilateral do relacionamento”. Portanto, a Folha ignora, ou finge ignorar, que existem nítidos pontos de contato entre a visão geopolítica atual do Vaticano, de Cuba e do Brasil que facilitam construir uma base para sustentar propostas de caminhos visando a paz na Ucrânia, sem que ninguém seja mero “peão” um do outro, forma de abordagem que faz parte da incansável tentativa da Folha de S. Paulo de desqualificar a política externa do governo Lula. Isso para além do fato de que não estamos mais na idade média, onde o poder do Papa era tal que podia fazer com que chefes de Estado fossem usados como peças que o Santo Padre movia a seu bel prazer. A Folha demostrou tanto amor pela coroa britânica durante a cobertura da coroação de Charles 3º, que talvez seja uma constatação dura essa de que a idade média já passou. Porém, mesmo que a Folha de S. Paulo não goste do fato, neste jogo geopolítico do ano de 2023, o Papa Francisco, Miguel Díaz-Canel e Lula estão, de certa forma, do mesmo lado do tabuleiro e, pior, para desespero do aristocrático jornal paulista, se alguém mexer a peça nesse jogo de xadrez, provavelmente será o ex-metalúrgico.
Notícias da Guerra
Embora o conflito Otan/EUA/Ucrânia contra a Rússia traga fatos novos todos os dias, no front da comunicação há poucas variações: a Rússia informa que Kiev está falhando na sua contraofensiva e sofrendo pesadas perdas e Kiev segue garantido que “tudo está correndo dentro do planejado” e os avanços seriam contínuos. Em meio à fumaça desta batalha de comunicação conseguimos, no entanto, enxergar um vislumbre do que pode estar realmente acontecendo. As agências internacionais informam, nesta terça-feira, que o grosso das forças ucranianas preparadas para a ofensiva não foi usado, esperando que uma “brecha” significativa seja aberta nas linhas de defesa russas e só então este grande contingente iria entrar em ação para “alargar a brecha” e semear o pânico entre as tropas inimigas. Esta informação permite duas observações: 1ª – 16 dias de contraofensiva sem que uma brecha significativa tenha sido aberta é um elemento a apontar que a contraofensiva está, de fato, fracassando, como alegam os russos; 2ª – as agências internacionais fizeram inúmeras matérias ANTES da contraofensiva, ouvindo especialistas atlantistas e ucranianos que apostavam em uma RÁPIDA evolução em campo, com as defesas russas entrando em colapso com o uso combinado de armas modernas, infantaria, etc., tal fato não ocorreu e a narrativa, agora, se adapta à realidade, “a contraofensiva não é um sprint é uma maratona”, diz um dirigente da OTAN, que não faz muito tempo, falava da importância de um avanço rápido para o sucesso da contraofensiva.
Notícias da Guerra II
A Reuters publicou, nesta terça-feira, uma matéria afirmando que “a Ucrânia pagou centenas de milhões de dólares a empresas que não entregaram armas prometidas, e alguns dos equipamentos doados com ampla divulgação por seus aliados estavam tão decrépitos que foram aproveitados apenas para obter peças reservas (…) Documentos do governo (ucraniano) mostram que, da invasão russa em fevereiro de 2022 até o final do ano passado, o país pagou a fornecedores de armas mais de US$ 800 milhões por contratos não cumpridos ou apenas parcialmente atendidos”. Quer dizer que os incondicionais amigos do regime neofascista ucraniano entregaram material militar imprestável? Que empresas de armamento não cumpriram o contrato? Pode ser. Pode ser ainda que o possível fracasso da contraofensiva exija um reposicionamento de discurso. Pode ser igualmente que os contratos que não foram cumpridos sejam frutos da notória corrupção do governo ucraniano, incluindo o presidente Zelensky. E pode ser inclusive que seja verdadeira esta notícia de hoje da agência Sputnik News: “Ofensiva ucraniana sofre novo revés e grandes perdas contra forças russas – Nas últimas 24 horas, as forças ucranianas sofreram revés e grandes perdas nas direções de Donetsk, sul de Donetsk e Zaporozhie. Na direção de Donetsk, as forças russas frustraram nove ataques do Exército ucraniano, eliminando até 220 combatentes adversários, um obuseiro M777 e outros equipamentos. Na direção de Krasny Liman, as forças russas eliminaram mais 100 combatentes adversários”. A agência Sana informa que a CNN estadunidense levou ao ar, hoje nos EUA, reportagem admitindo que a contraofensiva ucraniana fracassou e atribuindo tal fato à atuação da aviação russa.
Notícias da Guerra III
O chefe do Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia (SVR), Sergey Naryshkin, declarou ao jornal Rossiyskaya Gazeta, nesta segunda-feira (19) segundo reporta o site Pravda, que as agências de inteligência ocidentais temem que a contraofensiva da Ucrânia possa levar a resultados completamente opostos aos esperados por Kiev. O chefe da espionagem russa afirmou que “membros autorizados dos serviços de inteligência e departamentos militares dos EUA e da Europa não descartam que a contraofensiva possa levar a resultados diretamente opostos” dos esperados pela Ucrânia. Apesar de apoiar a contraofensiva em suas declarações públicas, “nos bastidores, muitos analistas militares ocidentais expressam sérias dúvidas sobre o sucesso da aventura ucraniana”, disse Naryshkin durante entrevista ao veículo. “Sem entrar em detalhes, direi que as tarefas anunciadas pelo regime de Kiev são avaliadas como inatingíveis” por especialistas estrangeiros, acrescentou. A preocupação em Washington e Bruxelas é que a “morte de um número significativo de militares treinados pela OTAN e a destruição de equipamentos prejudicarão a capacidade de combate do exército ucraniano. Isso, por sua vez, afetará negativamente a estabilidade do regime de Zelensky”, explicou Naryshkin. Ele acrescentou que, de acordo com várias avaliações ocidentais, o próprio estado ucraniano pode estar sob ameaça por causa da contraofensiva.
Israel ataca Jenin
Um palestino ferido durante uma incursão israelense contra a cidade de Jenin, na Cisjordânia, morreu nesta terça-feira, elevando o número de mortos para seis desde que os criminosos ataques do regime sionista começaram ontem. Durante a operação militar, quase uma centena de palestinos ficaram feridos, vários deles em estado grave, inclusive um menor de 15 anos. Segundo a agência oficial de notícias Wafa, na manhã de segunda-feira um grande contingente de soldados invadiu a cidade e o campo de refugiados, onde se espalharam para fazer prisões. Isso provocou confrontos em várias áreas, aos quais os policiais uniformizados responderam com munição real. Por sua vez, o Crescente Vermelho Palestino denunciou que um veículo militar atingiu deliberadamente uma ambulância quando esta se dirigia para resgatar os feridos. O Canal 12 de Israel destacou que em Jenin, pela primeira vez em 21 anos, o Exército usou helicópteros de combate durante um confronto na Cisjordânia. Enquanto isso, um porta-voz militar revelou ao portal de notícias Walla que seis soldados ficaram feridos quando um artefato explosivo atingiu o veículo em que viajavam durante o ataque. Pouco depois desse ataque, soldados atiraram em um palestino de 20 anos no vilarejo de Husan, a oeste da cidade de Belém, na Cisjordânia. Nesse contexto, o secretário do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina, Hussein Al Sheikh, acusou Israel de travar “uma feroz e aberta guerra política, de segurança e econômica contra nosso povo“. Estamos em meio a uma batalha em todas as frentes, que exige a unidade dos palestinos diante de tamanha agressão, disse o dirigente em sua conta no Twitter. Em nota, o Ministério de Assuntos Exteriores e Expatriados da República Árabe da Síria condenou “as bárbaras ações israelenses”. Diz um trecho da nota que “o campo de Jenin, em particular, simboliza a resistência do povo palestino e ao mesmo tempo carrega os vestígios da destruição que ‘Israel’ deixou repetidamente com seus crimes contra a humanidade (…) A Síria condena as práticas criminosas israelenses e saúda a luta do povo palestino diante dessa máquina de matar”. Com informações de Prensa Latina e Sana.
Nações Unidas adotam Tratado para Proteger Alto Mar
O site da ONU em português informa que, nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, elogiou a adoção do “Tratado do Alto Mar”, que prevê a conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha além da jurisdição nacional. Segundo a matéria, Guterres afirmou que a “conquista histórica” traz nova vida e dá aos oceanos “uma chance de lutar”. O chefe das Nações Unidas pediu aos Estados-membros que não poupem esforços para garantir que o texto entre em vigor. Já o presidente da Assembleia Geral da ONU, Csaba Korosi, também celebrou a adoção do Tratado. Ele acredita que o documento cria as bases para melhorar a governança dos oceanos, garantindo sua preservação para as próximas gerações. O texto aprovado foi finalizado em março deste ano, após anos de discussões. O documento estabelece um marco legal para estender as faixas de proteção ambiental a águas internacionais. Atualmente, os países têm jurisdição sobre as águas que se estendem por 200 milhas náuticas, ou 370 km da costa. A partir dali, segue o alto mar, com cerca de dois terços do oceano global, ou mais de 70% da superfície da Terra. O acordo ficará aberto para assinatura por dois anos, a partir de 20 de setembro, e entrará em vigor após a ratificação por 60 países. Para Guterres, o Tratado é uma conquista histórica vital para enfrentar ameaças e garantir a sustentabilidade das áreas não cobertas pela jurisdição nacional, que são mais de dois terços do oceano. O secretário-geral da ONU destacou que após duas décadas de construção, a adoção revela a força do multilateralismo, com base no legado da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.