Visita de Blinken à China, “descongelamento” das relações?
Mais: Dívida pública dos EUA atinge novo recorde / Rússia teria destruído depósitos com armas estrangeiras / China toma medidas para estimular crescimento / entre outras.
Publicado 19/06/2023 16:59 | Editado 19/06/2023 17:13
Com a China repetidamente avisando que as relações bilaterais com os EUA estão no ponto mais baixo da história desde que os dois países reataram relações diplomáticas, em 1979, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, chegou a Pequim neste domingo (18) para iniciar sua visita de dois dias ao país asiático. Washington ficou 5 anos sem enviar a Pequim seu principal diplomata. No mesmo dia em que chegou, Blinken reuniu-se com o Conselheiro de Estado e Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang. O encontro durou nada menos do que sete horas e meia, conforme informação do jornal O Globo, citando a chancelaria dos EUA como fonte. Segundo os termos utilizados pela mídia chinesa, Antony Blinken e Qin Gang tiveram “uma comunicação longa, sincera, profunda e construtiva sobre o relacionamento geral entre a China e os EUA”. Qin Gang também teria aceitado convite para visitar os EUA.
Visita de Blinken à China – “descongelamento” das relações? II
Nesta segunda-feira (19) foi a vez de Blinken encontrar-se com o presidente chinês Xi Jinping no Grande Palácio do Povo. Xi Jinping, de acordo com a agência Xinhua, disse a Blinken que “a competição entre grandes países não representa a tendência dos tempos e muito menos pode resolver os problemas dos próprios EUA e os desafios face ao mundo. A China respeita os interesses estadunidenses e não busca desafiar ou tomar o lugar dos Estados Unidos. Da mesma forma, os norte-americanos precisam respeitar a China e não devem prejudicar os direitos e interesses legítimos do país asiático. Nenhum dos lados deve tentar moldar o outro por sua própria vontade, muito menos privar o outro de seu legítimo direito ao desenvolvimento”.
Visita de Blinken à China – “descongelamento” das relações? III
A China saudou o anúncio dos EUA, de que a viagem tinha como objetivo “levar adiante o que o presidente Biden e o presidente Xi concordaram em Bali” (em novembro de 2022), o que os chineses chamam de “o consenso de Bali”, que entre outras coisas reafirma o compromisso dos EUA com o princípio de “uma só China”. Para a China, o consenso de Bali representa a “orientação fundamental para a manutenção da estabilidade nas relações entre os dois países”, pois estabelece, em tese, que “(os EUA) não procuram uma nova Guerra Fria, não procuram mudar o sistema da China, as suas alianças não são dirigidas contra a China, não apoiam a ‘independência de Taiwan’, e não procuram um conflito com a China“. A chancelaria americana, segundo o jornal O Globo, concordou que as conversações foram “construtivas”, informando que Blinken reforçou, diante das autoridades chinesas, a necessidade de “manter os canais de comunicação abertos e reduzir o risco de erros de cálculo”. No entanto, o tom geral da mídia chinesa foi o de advertir contra “expectativas altas” para os resultados da viagem que dependem de “gestos concretos” da parte dos EUA, já que “a maioria das dificuldades encontradas nas relações China-EUA deveu-se às políticas e ações unilaterais e erráticas de Washington. Então, naturalmente, os EUA precisam fazer mais para melhorar os laços bilaterais” (Global Times).
Visita de Blinken à China – “descongelamento” das relações? IV
A principal pergunta que a maioria dos analistas internacionais faz, neste momento, é: o que motivou os EUA, depois de intencionalmente elevar em muito as tensões com a China, a buscar “pôr água na fervura”? Em editorial publicado nesta segunda-feira, o jornal Global Times, porta-voz oficioso da China para o público externo, propõe duas respostas principais: 1ª) “Externamente, a comunidade internacional, incluindo os aliados dos EUA, espera que as relações China-EUA parem de piorar e se estabilizem, de modo a evitar abalar os alicerces da paz e estabilidade mundiais. Isso pressiona os EUA e força o governo Biden a ajustar discretamente seu tom, enfatizando que ‘não está forçando nenhum país a escolher um lado’ e que ‘não há dissociação’”; 2ª) “Nos EUA, a guerra comercial ‘inacabada’ deixada pelo governo Trump está causando cada vez mais danos ao próprio país. Não apenas as empresas americanas estão fazendo lobby em conjunto para a remoção das sanções, mas acadêmicos, políticos e até membros do Congresso americano igualmente apelaram à Casa Branca para ‘repensar’, com racionalidade, as relações China-EUA. Isso não ocorre porque a China lançou qualquer mágica, mas por causa dos interesses nacionais dos EUA”. Até o momento, o único registro sobre o tema do conflito na Ucrânia na visita de Blinken foi a divulgação, pela chancelaria estadunidense, de que Pequim teria se comprometido a não enviar armas para a Rússia. No entanto, suspeito que nas setes horas e meia da reunião de domingo, o tema foi tratado de forma mais profunda e não seria motivo de espanto que os EUA, diante do aparente fracasso da “contraofensiva” ucraniana, esteja sondando possibilidades de, enfim, estabelecer pontes para um futuro cenário de negociações de paz. O já citado editorial do Global Times, que com toda a certeza é estudado atentamente por Washington, termina afirmando que “respeito mútuo” e “convivência pacífica” são expressões curtas “que merecem consideração cuidadosa por parte dos EUA”.
Dívida pública dos EUA atinge novo recorde histórico: US$ 32 trilhões
A HispanTV informa que, segundo dados do Departamento do Tesouro americano, divulgados nesta sexta-feira (16), a dívida nacional dos EUA ultrapassou os US$ 32 trilhões pela primeira vez na história do país norte-americano. Este evento ocorre menos de duas semanas depois que Joe Biden sancionou a lei de responsabilidade fiscal. “Tivemos sorte em evitar um calote no teto da dívida, mas o problema mais amplo é que continuamos a ignorar a própria dívida crescente. À medida que ultrapassamos US$ 32 trilhões sem um horizonte à vista, é hora de abordar os impulsionadores fundamentais de nossa dívida, que são o crescimento obrigatório dos gastos e a falta de receita suficiente para financiá-los”, disse Michael A. Peterson, diretor executivo da Fundação Peter G. Peterson, uma organização sem fins lucrativos focada em questões tributárias, ouvido pela HispanTV. A Fundação Peterson previu que, nos próximos 30 anos, a dívida dos EUA chegará a US$ 127 trilhões e acrescentou que, em 2053, o Governo seria obrigado a gastar 40% de toda a receita federal com o pagamento de juros.
Rússia teria atingido depósitos com armas estrangeiras, Kiev relata avanços
A mídia atlantista continua a relatar “progressos” da contraofensiva ucraniana. Segundo a agência Reuters, “a Ucrânia disse que suas forças recapturaram Piatykhatky, um vilarejo na estrada para uma das áreas mais fortemente defendidas do sul ocupado pela Rússia, e que retomaram 113 quilômetros quadrados de terra nas últimas duas semanas (…) o presidente da Ucrânia elogiou suas tropas por repelir os avanços inimigos e disse que sua contraofensiva estava progredindo bem”. Por outro lado, o Ministério da Defesa da Federação Russa relatou que apenas em um dia, no sábado (17), forças ucranianas sofrem 940 baixas e perdem 77 tanques, ao “lançarem várias ofensivas malsucedidas nas direções Zaporozhye, South-Donetsk e Donetsk”, informa a agência Sana. A agência, baseando-se em informações da defesa russa, reporta que “as Forças Armadas da Federação Russa lançaram um ataque maciço do mar com mísseis de precisão e longo alcance disparados contra locais onde estão armazenados equipamentos militares de fabricação estrangeira”. Um depósito de munição da 5ª brigada de assalto das Forças Armadas da Ucrânia foi destruído na área do assentamento de Ivanovskoye na República Popular de Donetsk. Na área de Zaporozhye, dois depósitos de artilharia foram atingidos, enquanto um helicóptero Mi-8 da Força Aérea Ucraniana foi abatido pela defesa aérea, entre outros locais alcançados pelo poder de fogo russo. Nesta segunda-feira, um levantamento divulgado pelo Ministério de Defesa da Rússia informou que, desde o início da Operação Militar Especial na Ucrânia, foram destruídos mais de 10 mil tanques e veículos blindados, além de abatidos 444 caças.
Com índices de maio abaixo do esperado, China planeja medidas para estimular crescimento
Em maio as exportações chinesas encolheram, a produção industrial e as vendas do varejo aumentaram menos do que o previsto. Isso levou analistas e agências a rebaixarem as previsões de crescimento do PIB chinês em 2023 e 2024. Nesta sexta-feira, Meng Wei, porta-voz da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, disse em uma coletiva de imprensa que o desempenho econômico de maio atraiu a atenção e que é normal que ocorram flutuações temporárias em alguns setores durante a recuperação econômica. E o impulso para a recuperação econômica da China continua sendo forte e sólido, segundo ela. Meng Wei anunciou que a China continuará a implementar uma série de medidas para estimular o consumo, construir grandes projetos e desenvolver um sistema industrial moderno para impulsionar o crescimento. “Apesar da atual falta de demanda do mercado e da necessidade de um impulso interno mais forte para a recuperação econômica, essas pressões e desafios não alterarão o impulso positivo para o crescimento econômico de longo prazo do nosso país“, disse ela. A porta-voz declarou ainda que as políticas futuras serão desenvolvidas para estimular o consumo, melhorar suas condições e liberar o potencial do setor de serviços. Em particular, serão feitos esforços para estabilizar a venda de carros. Meng disse que medidas de apoio também serão implementadas para gerar empregos e aumentar a renda dos residentes urbanos e rurais, segundo informa China Daily, via TV BRICS.
Um novo não-alinhamento
O Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, em sua “Carta semanal 24 (2023)”, faz uma reflexão interessante sobre as movimentações no tabuleiro internacional e o papel da Índia: “Um novo clima de contestação no Sul Global gerou perplexidade nas capitais da Tríade (Estados Unidos, Europa e Japão), onde as autoridades estão se esforçando para responder por que os governos do Sul Global não aceitaram a visão ocidental do conflito na Ucrânia ou apoiaram universalmente a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em seus esforços para ‘enfraquecer a Rússia’. Os governos que há muito vinham sendo complacentes com os desejos da Tríade, como as administrações de Narendra Modi, na Índia, e de Recep Tayyip Erdoğan, na Turquia, (apesar da toxicidade de seus próprios regimes), não são mais tão confiáveis. Desde o início da guerra na Ucrânia, o ministro das Relações Exteriores da Índia, S. Jaishankar, tem defendido com veemência a recusa de seu governo em ceder à pressão de Washington. Em abril de 2022, em uma coletiva de imprensa conjunta em Washington, com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, Jaishankar foi instado a explicar a compra contínua de petróleo da Rússia pela Índia. Sua resposta foi direta: ‘Vejo que você se refere à compra de petróleo. Se você estiver analisando as compras de energia da Rússia, eu sugeriria que sua atenção se concentrasse na Europa (…) Nós compramos alguma energia que é necessária para nossa segurança energética. Mas suspeito que, olhando os números, provavelmente nosso total de compras para o mês seria menor do que o que a Europa faz em uma tarde’. Entretanto, esses comentários não impediram os esforços de Washington para trazer a Índia para sua agenda. Em 24 de maio, o Comitê Seleto do Congresso dos EUA sobre o Partido Comunista Chinês divulgou uma declaração sobre Taiwan que afirmava que ‘os Estados Unidos deveriam fortalecer o acordo Otan Plus para incluir a Índia’. Essa declaração sobre essa política foi divulgada logo após a cúpula do G7 em Hiroshima, Japão, onde o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, se reuniu com vários líderes do G7, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy. A resposta do governo indiano a essa formulação da ‘Otan Plus’ encontrou eco no sentimento de suas observações anteriores sobre a compra de petróleo russo. ‘Muitos americanos ainda têm na cabeça a construção do tratado da Otan’, disse Jaishankar em uma coletiva de imprensa em 9 de junho. ‘Parece que esse é o único modelo ou ponto de vista com o qual eles olham para o mundo (…) Esse não é um modelo que se aplica à Índia’. A Índia, segundo ele, não está interessada em fazer parte da Otan Plus, pois deseja manter um grau maior de flexibilidade geopolítica. ‘Um dos desafios de um mundo em transformação’, disse Jaishankar, ‘é como fazer com que as pessoas aceitem e se adaptem a essas mudanças’. Há duas conclusões importantes tiradas das declarações de Jaishankar. Em primeiro lugar, o governo indiano, que não se opõe aos Estados Unidos, nem em termos programáticos como de temperamento, não tem interesse em ser arrastado para um sistema de blocos liderado pelos EUA (a ‘construção do tratado da Otan’, como disse Jaishankar). Em segundo lugar, como muitos governos do Sul Global, ele reconhece que vivemos em um ‘mundo em transformação’ e que as grandes potências tradicionais, especialmente os Estados Unidos, precisam ‘se ajustar a essas mudanças’.” Clique aqui e leia o artigo na íntegra.