Narcotráfico avançou sobre periferias rurais com crimes socioambientais
Estudo “Além da floresta”, da Rede de Observatórios da Segurança, revela que a criminalidade se expandiu para “periferias rurais” do país sob comando de facções do Sudeste
Publicado 19/06/2023 16:49
Nesta segunda-feira (19), a Rede de Observatórios da Segurança lançou o estudo “Além da floresta: crimes socioambientais nas periferias”, com pesquisadores do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania. O documento releva que não existe mais divisão entre violência rural e urbana, assim como a “interiorização da violência” já se tornou mais complexa.
Agora uma nova dinâmica se estabeleceu em que as populações são expulsas de áreas rurais e passam a se concentrar em pequenas cidades próximas, criando o que os autores definiram como “periferias rurais”.
Esta constatação se refere especialmente sobre estados do Norte e do Nordeste do país e aconteceu, sobretudo, pelo avanço de facções do narcotráfico do Sudeste. É considerado como “periferias rurais” também as áreas de quilombos e as aldeias indígenas.
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Os dados foram obtidos pela Lei de Acesso à Informação – LAI e junto aos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
Os crimes monitorados se inserem dentro de roubos, conflitos armados, tráfico de drogas, assim como crimes ambientais: grilagem, exploração ilegal de madeira e garimpo em áreas não autorizadas, entre outros.
Entre os principais resultados é destacado:
- As novas dinâmicas de violência acontecem principalmente no Norte e Nordeste;
- Pará e Bahia são os estados com mais registros de violência contra comunidades tradicionais;
- 67,71% dos registros no MA foram de maus tratos a animais ou poluição com danos à saúde humana;
- Mais da metade dos registros de PE são de incêndios;
- Em cinco anos, o Ceará registrou 6.995 casos de crimes socioambientais;
- Abusos contra animais são os principais crimes cometidos em São Paulo;
- No Rio de Janeiro, a capital é o local de maior concentração desses crimes;
- Piauí foi o único estado que não enviou os dados solicitados;
- Mais uma vez o resultado desses crimes é encarceramento da juventude negra.
Facções e criminalidade
Como é trazido, as regiões da floresta amazônica passaram a ser dominadas por facções de drogas famosas no Sudeste (CV e PCC). No entendimento dos autores, o modelo de combate único oferecido pelo poder público é insuficiente no combate às drogas, pois reforça o racismo e o encarceramento da juventude negra.
“É necessário fugir do modelo bélico do combate às drogas e às ilegalidades. E, principalmente, estabelecer contenções ao tipo de desenvolvimento que destrói a vida na floresta. Mostra-se importante fortalecer os órgãos de prevenção da destruição e incluir no centro do diálogo organizações indígenas, rurais e ribeirinhas, além dos movimentos de periferia urbanos que lutam por direitos sociais”, coloca Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança.
Estados
No Pará foram 474 vítimas de crimes que se inserem em crimes contra a vida, violações sexuais e patrimoniais, entre 2017 e 2022. No estado operam redes de narcotráfico, contrabando de madeira, garimpo ilegal, grilagem de terras e pesca ilegal.
Na Bahia foram 428 vítimas de violência no intervalo de 2017 a 2022, com maior incidência de crimes contra povos tradicionais. Já no Ceará foram 6995 delitos ambientais entre 2017 e 2022. No Maranhão 2.568, entre 2020 e 2022, com muitos crimes ocorridos na exploração de biomas nativos. Em Pernambuco a média de crimes por ano ultrapassou mil casos.
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No Rio de Janeiro o destaque negativo fica pela atuação das milícias em tráfico de animais. No total foram 21.476 casos de crimes ambientais de 2017 a 2022.
Por fim, em São Paulo foram 34.772 ocorrências, com a maioria dos casos ligado ao tráfico de animais, avanço imobiliário sobre áreas verdes e pichações.
Confira o estudo completo aqui.
*Informações Rede de Observatórios da Segurança. Edição Vermelho, Murilo da Silva.