Governo Lula tem espaço de escuta para demandas da Parada LGBT+
A secretária nacional de Direito de LGBT+, Simmy Larrat, falou o que tem avançado no governo, durante a 27a. Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo.
Publicado 11/06/2023 16:49 | Editado 12/06/2023 15:35
Se você acha que tem muita letrinha no LGBTQIAP+, tem muito mais. Essa diversidade humana que comparece, neste domingo (11), na 27a. Parada do Orgulho de São Paulo, é um enorme desafio para a gestão pública. Foi o que revelou a secretária nacional dos Direitos de LGBT+, do Ministério dos Direitos Humanos, Simmy Larrat, em entrevista ao canal oficial da manifestação, para apresentadores como Ikaro Kadoshi e Rafa Brunelli.
“A gente quer construir um processo de institucionalização das política públicas. Foi muito fácil quando o ódio chegou ao poder e apagou a gente. A gente precisa dar um status introjetado no DNA do estado para nossas políticas”, sinalizou Simmy, referindo-se ao modo como as políticas públicas para esta população são vulneráveis a governos reacionários, como o de Jair Bolsonaro (PL), e a influência de bancadas religiosas e conservadoras.
“Queremos criar uma política nacional de enfrentamento à violência, que dê conta daquela decisão do STF [Supremo Tribunal Federal] chegar na ponta”, disse ela, sobre a criminalização da LGBTfobia. Segundo ela, não tem uma orientação nítida para os estados sobre como operar na segurança pública e na justiça. “Na questão de gênero tem várias normativas para abordagem e atendimento, e delegacias específicas no caso da Lei Maria da Penha, e não tem pra gente. Nós vamos construir ainda nesta gestão e entregar para a sociedade”, anunciou ela.
Mas ela também ressaltou que o Disque 100 voltou e é o espaço para que todos os LGBT+, sintam segurança e confiança no serviço. “Mas que não deixem de ocupar espaços nas delegacias e defensorias públicas. Se esses espaços forem violadores, disque 100 que a gente está monitorando”, reafirmou.
Políticas emergenciais
Primeiramente, a gestora pública mostrou que, nestes primeiros meses de governo, foi possível fazer o resgate do que era emergencial. Ela citou a criação da Secretaria, que é o maior cargo no mundo em que a população LGBT+ chegou em termos de hierarquia.
Mas foi retomado também o Conselho Nacional LGBT+, que é um espaço de participação social. Ela mencionou o alargado documento de Registro Geral, o RG, que não tem mais o nome social e o sexo também não consta na versão impressa.
Há também, segundo ela, uma facilitação para refugiados LGBT+. “Pessoas que vêm de países onde a nossa existência é criminalizada com morte, agora chega ao Brasil com um processo simplificado. Estamos divulgando isso internacionalmente e capacitando nossos consulados ao redor do mundo para receberem essas pessoas”.
Ela conta que isso é o que foi feito de chegada, em termos emergenciais. “A gente quer fazer mais”, disse ela, que ficou conhecida pela atuação no programa Transcidadania, da gestão de Fernando Haddad, na Prefeitura da capital paulista. O programa criou uma cadeia de oportunidades de qualificação, renda e educação para pessoas trans.
“Com a OIT [Organização Internacional do Trabalho], estamos pesquisando outras experiências, inclusive nas empresas do mercado. A gente quer reunir e construir um programa de empregabilidade, educação e renda em nível nacional para a gente superar essa realidade”, antecipou.
A disputa pela sociedade
Os apresentadores da Parada paulistana se mostraram emocionados ao falar com Simmy sobre a importância de sua presença num cargo tão importante. Ela, por sua vez, responde que, estar no Governo Federal, é uma responsabilidade gigante, porque sua Secretaria vai construir as políticas públicas que vão fazer diferença na vida das pessoas, no acesso e no enfrentamento a violência. “Mas vocês também estão todos ocupando espaços e rompendo fronteiras que ajudam a mudar um paradigma de sociedade”, salientou.
Simmy disse que a comunidade LGBT+ conseguiu promover uma mudança ao trocar o governo. “Mas é bom lembrar que uma grande parcela da sociedade votou num discurso de ódio, de perseguição contra nós e acha isso correto. Então, nós temos uma sociedade para disputar”, ponderou.
Ela destacou que as Paradas do Orgulho têm uma importância muito grande. Ela também participou da 6a. Marcha do Orgulho Trans (9) que ocorreu na sexta-feira e da 20a. Marcha Lésbica, Bi, Cis e Trans, no sábado (10). “Imagina fazer uma parada no interior do país, a transformação que isso não provoca. É a primeira vez que falo na Parada como governo. A responsabilidade de dizer que o governo está aqui é gigante diante daquela multidão. Estamos nos comprometendo a construir juntos as políticas públicas, como pede o tema da Parada”, disse. O tema da 27a. Parada de São Paulo é “Políticas sociais para LGBT+ Queremos por inteiro e não pela metade”.
Trajetória resiliente
Simmy foi provocada a contar um pouco de sua trajetória de vida e de seus sonhos. Ikaro disse que, não é porque Simmy está na gestão pública que ela ficou mais séria. Continua “fervida”. “O mais lindo da parada é que é uma festa em que festejamos estar vivas. Nossa gargalhada quando alguém no shopping e no metrô olha com ódio pra nós, é nossa melhor arma contra quem quer nos matar”, sugeriu. “Quando fui no Mangueirão de Belém [estádio de futebol] fui expulsa, mas fiquei na frente fervendo. Não deitei”, lembrou, rindo.
“Não desistam!”, afirmou. Por diversas vezes em sua trajetória, ela disse querer ter desistido. “Sempre que a gente chega as pessoas tendem a desconfiar. A gente precisa reafirmar o tempo todo o que a gente está fazendo e isso é desmotivador”, contou.
“Quando um oportunista religioso, que não é a religião, a fé e o sagrado, diz que a gente não pode ter orgulho, e tenta destruir a gente em vida, ela quer que a gente desista. Nessa hora a gente tem que fazer o que essas milhões de pessoas estão fazendo na rua, hoje, dar uma boa repaginada na make, e sair sorrindo e feliz, mesmo que a gente por dentro esteja destruída. A gente vai chegar lá, no streaming, no close, no palco, na Secretaria Nacional, na Presidência, onde a gente quiser”, aconselhou, entusiasmada.
Ela disse que a gestão pública faz parte de sua vida, há alguns anos. “Mas é um lugar difícil, porque o estado não foi feito e pensado para nós. A gente precisa ir lá e arrancar para nós e trazer para a gente a responsabilidade. Às vezes, dá vontade de se jogar de outra forma na tarefa, mas a gente precisa vir para esse lugar e saber escutar o que as pessoas estão falando e saber o que estão desejando e traduzir em política pública, aquela coisa mais enrijecida que é a normativa, os instrumentos oficiais, a política pública em si”, afirmou.
“Não é o porque eu sou travesti que eu sei tudo. Nós somos muito diversos e a Parada de São Paulo mostra isso. A Parada traz essa escuta pra gente”, ressaltou.
Ela relatou que é do Pará e que foi organizadora de paradas em Belém e no interior do estado nortista. “Depois do Conselho Estadual, eu vim para São Paulo e minha vida mudou, porque o Transcidadania que é um equipamento de ponta, onde a gente fala direto com a pessoa, me fez aprender muito do quanto a gente precisa construir políticas públicas que sejam diferenciadas, porque o que está aí, já mostrou que não nos atende. Isso me fez me encantar com gestão pública”.
Não é porque tem uma travesti no governo que está tudo resolvido, enfatizou ela. “A gente precisa acionar as ouvidorias, o disque 100”, insistiu.
Sobre seus sonhos? “Se eu pudesse queria acordar num mundo sem preconceitos e estigmas. Mas pessoalmente, queria estar mais perto da minha família no Pará. De resto é entregar coisas boas, que um dia alguém possa dizer que fez diferença na vida dela”, concluiu.