Lideranças de todo o mundo acusam ‘golpe moderado’ na Colômbia contra Petro
Ataques ao presidente vão numa crescente da mídia em conluio com a oposição, militares e agentes judiciários. Manifestações ocorrem pelo país em apoio a Petro.
Publicado 07/06/2023 19:21 | Editado 07/06/2023 19:24
Ex-presidentes e lideranças políticas de diversos países do mundo lançaram nesta quarta-feira (7) um manifesto em apoio ao presidente colombiano Gustavo Petro. Ele defende a tese de que um golpe de Estado moderado está em curso em seu país. Hoje também ocorre em Bogotá manifestação popular em apoio a Petro e às reformas, com a participação do próprio presidente.
O documento, que congrega cerca de 400 assinaturas, é endossado por nomes como o ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper, o ex-presidente do Equador Rafael Correa e o ex-presidente da Espanha José Luis Rodríguez Zapatero. Há ainda personalidades como Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz; o jurista espanhol Baltasar Garzón; o líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn; e João Pimenta Lopes, deputado membro do Parlamento Europeu.
Já a lista de signatários brasileiros reúne figuras políticas como a deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), o dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), além de diversos líderes de entidades sindicais.
“Um golpe moderado está em curso na Colômbia. Desde a eleição do primeiro governo progressista do país -liderado pelo presidente Gustavo Petro, pela vice-presidente Francia Márquez e pelo Pacto Histórico no Congresso [coalizão de esquerda integrada por Petro]-, os poderes tradicionais [de oposição] da Colômbia se organizam para resgatar uma ordem marcada pela extrema desigualdade, destruição ambiental e violência”, diz o manifesto.
“Menos de um ano desde a posse do governo Petro, estão usando o poder institucional combinado com agências reguladoras, conglomerados de mídia e o Poder Judiciário do país para interromper suas reformas, intimidar seus apoiadores, derrubar sua liderança e difamar sua imagem no cenário internacional”, segue o texto, que foi articulado pela rede global progressista Progressive International.
Os signatários também afirmam que “ex-generais, coronéis e membros dos setores militares da Colômbia não só revelaram sua oposição ao presidente Gustavo Petro, mas chegaram a marchar em frente ao Congresso pedindo um golpe de Estado contra seu governo”.
Veja as manifestações em apoio a Petro, transmitida hoje:
Lawfare
O manifesto faz referência a uma série de crises conflagradas no país nos últimos meses, incluindo disputas de Pedro com o procurador-geral da República, Francisco Barbosa. O integrante do Ministério Público colombiano chegou ao cargo após indicação feita pelo ex-presidente conservador Iván Duque.
Para as lideranças que apoiam Petro, Barbosa estaria atuando ativamente contra o governo ao promover “investigações que podem resultar na suspensão, destituição e desqualificação de membros do Congresso” aliados ao presidente, além de supostamente empreender iniciativas contra o próprio Petro.
“O objetivo dessa campanha coordenada é claro: proteger os interesses dos poderes tradicionais da Colômbia de reformas populares que aumentariam os salários, melhorariam os cuidados de saúde, protegeriam o meio ambiente e levariam a ‘paz total’ ao país”, diz o manifesto.
“Nós, abaixo assinados, conclamamos os amigos do povo colombiano e aliados da democracia em todos os lugares a se oporem a essas táticas insidiosas e impedirem o avanço de um golpe moderado na Colômbia”, finaliza o documento.
A oposição acusa Petro de corrupção, o mesmo argumento usado contra outros governos de esquerda da América do Sul, antes e depois, sendo que o manifestou cita o caso de Dilma Rousseff, que sofreu impeachment sob condições similares.
O tensionamento acirrou-se no domingo (4), após o vazamento de áudios de ex-agentes do governo supostamente falando em financiamento ilegal e criminoso da campanha de Petro. Fala-se em manipulação das provas. O governo rebateu todas as acusações de doações ilícitas e garantiu que não houve grampos ilegais. “Não aceito ser chantageado”, disse Petro, após as repercussões judiciais.
“Nossos rivais políticos foram rápidos em registrar queixas contra mim na Comissão de Acusações [do Parlamento]. No entanto, em nenhuma entrevista ou áudio foi demonstrado que cometi um crime. Esta é uma simples tentativa de golpe moderado para impedir a luta contra a impunidade”, afirmou o presidente, em publicação nas redes sociais.
Ontem, a bancada do Pacto Histórico divulgou um comunicado no qual afirma rejeitar “veementemente as tentativas de desestabilizar a democracia, as instituições e o governo da mudança, venham de onde vierem”. No documento, os parlamentares dizem ainda: “Os supostos responsáveis por casos de corrupção devem responder às autoridades competentes Exigimos que as autoridades competentes investiguem com rigor, presteza e imparcialidade, garantindo sempre o devido processo legal”.
Na semana passada, a Suprema Corte da Colômbia acusou o mandatário de gerar instabilidade institucional e de interpretar mal a Constituição. A repreensão ocorreu após Petro questionar o procurador-geral da República.
A Suprema Corte, por sua vez, disse ter recebido com grande preocupação a interpretação a respeito do artigo constitucional sobre a autonomia do Judiciário. “Ignorar ou interpretar mal os fundamentos do nosso Estado de Direito gera incerteza, fragmentação e instabilidade institucional”, afirmou, em comunicado.
“Petro desconsidera a autonomia e a independência judicial, uma cláusula fundamental da democracia colombiana”, disse ainda.
Leia o documento na íntegra aqui.