Promessa de Bolsonaro, internet de Musk chega a apenas três escolas da Amazônia

A dupla prometeu internet para 19 mil escolas na região. A Starlink opera depois de pressão do governo Bolsonaro à Anatel. Antenas foram encontradas com garimpeiros ilegais.

O ex-presidente Bolsonaro recebeu o bilionário Elon Musk em hotel de luxo de SP Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

“Super animado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19.000 escolas desconectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia!”, disse o homem mais rico do mundo, Elon Musk, em maio de 2022, após se encontrar com o então presidente da República, Jair Bolsonaro.

Mais de um ano depois do encontro no hotel Fasano Boa Vista, em Porto Feliz (SP), a empresa Starlink, do bilionário sul-africano, ainda não assinou nenhum contrato com o governo federal para concretizar o plano de conexão com internet das 19 mil escolas na Amazônia Legal.

Até o momento, apenas três escolas estaduais no Amazonas foram contempladas com a internet da Starlink. A apuração é do portal UOL.

No entanto, o serviço de internet da Starlink tem sido vendido em áreas de garimpo ilegal na Amazônia. Em março, em uma operação de combate ao garimpo ilegal em território Yanomami, a Polícia Rodoviária Federal e o Ibama apreenderam diversas unidades de antenas Starlink.

Governo Bolsonaro pressionou a Anatel

Em janeiro de 2022, a Anatel aprovou o uso da rede de satélites interconectados da Starlink em operações de telecomunicações no Brasil. Antes disso ocorrer, o governo Bolsonaro interferiu na Anatel para que a empresa norte-americana conseguisse a autorização da agência reguladora para operar no Brasil.

Em março, documentos obtidos pelo Brasil de Fato comprovaram a interferência do ex-ministro de Comunicação, o ex-deputado Fábio Faria, e o então secretário de Telecomunicações, Arthur Coimbra de Oliveira, no processo da concessão da autorização da Anatel.

Em uma das mensagens obtidas pela reportagem, Coimbra de Oliveira confirma, em 29 de outubro de 2021, à CEO da Starlink, Gwynne Shotwell, que o governo havia feito contato com a agência reguladora para obter informações sobre o processo envolvendo a Starlink.

Em novembro daquele ano, uma comitiva liderada pelo então ministro das Comunicações visitou as fábricas da Starlink e foram recebidos por Shotwell.

Starlink só instalou internet em três escolas

Apesar das promessas da dupla Bolsonaro e Musk, cinco mil escolas ainda funcionam sem internet na região da Amazônia, segundo os dados da Anatel. Apenas três recebem a conexão através dos provedores da Starlink.

Em outubro do ano passado, quase cinco meses depois da visita do bilionário sul-africano no Brasil, o governo federal, ainda sob Bolsonaro, abriu um edital para provedores de internet interessados em fornecer banda larga a 6,9 mil escolas, mas a Starlink não participou da concorrência.

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