Súmula 42 – A volta de Henrique Capriles
Mais: Kosovo – A mentira de O Globo / A bulha do “financiamento climático” / Embate com extrema-direita na Espanha / Petro anuncia volta da Colômbia à Unasul.
Publicado 01/06/2023 16:43 | Editado 02/06/2023 16:32
Henrique Capriles concorreu à presidência da Venezuela contra Nicolas Maduro em 2013, pouco depois da morte de Hugo Chávez. Perdeu por pequena margem, não aceitou o resultado e convocou protestos que ocasionaram destruição e mortes. Depois de um longo período ofuscado pelo autoproclamado Juan Guaidó, hoje reduzido à piada (ex.: o clube de biriba não elegeu seu presidente, Juan Guaidó vai se autoproclamar) Capriles volta nos braços da mídia e apesar de ainda estar inabilitado para concorrer, por decisão da justiça venezuelana, tem esperanças de que isso será revertido, usando como trunfo sua ligação com os EUA e a promessa de suspender as sanções que sufocam a economia venezuelana caso ele seja autorizado a entrar na disputa entre outras concessões exigidas pela oposição que tem o suporte de Washington. Na edição desta quinta-feira (1º/6), o jornal O Globo publica uma entrevista com Capriles, que critica duramente o governo Lula por conta da recepção ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro e, claro, ataca Maduro. Além disso, o jornal volta a repetir a torrente de mentiras sobre o país caribenho, apoiado pelos “especialistas convenientes” e por leituras enviesadas de documentos da ONU, assunto que abordaremos em outra ocasião. Por ora, vamos apenas falar do “moderado” Henrique Capriles.
Henrique Capriles – Um pouco de sua trajetória política
Capriles, nas páginas de O Globo, é apresentado como um político moderno e moderado. Mas quem é, de fato, este cidadão? Vamos a alguns dados de sua biografia: Capriles é descendente de duas das mais ricas e poderosas famílias venezuelanas, que estão à frente de vários conglomerados; na década de 1980, foi militante da Tradição, Família e Propriedade, braço da TFP brasileira, organização fanaticamente obscurantista e de extrema direita; Capriles foi eleito deputado em 1999 pelo Estado de Zulia pelo partido de direita COPEI; contra todas as probabilidades, pois não tinha experiência política, foi nomeado presidente da Câmara dos Deputados, graças ao poderio econômico e financeiro de sua família, que bancou as campanhas de muitos deputados; foi fartamente financiado também pelo “International Republican Institute” (braço do Partido Republicano dos EUA), e pelo “National Endowment for Democracy” (que segundo o insuspeito jornal New York Times é um braço da CIA); Henrique Capriles participou ativamente do golpe contra Hugo Chávez organizado pelos Estados Unidos em abril de 2002; então prefeito de Baruto, procedeu à prisão de numerosos partidários da ordem constitucional, entre eles Ramón Rodríguez Chacín, então ministro do Interior e Justiça, que foi violentamente agredido em frente às câmeras de televisão; Rodríguez chegou a alertar Capriles do risco à sua integridade física se saísse naquele momento pois a casa estava cercada por fanáticos de extrema-direita, não adiantou, Capriles queria sangue; em seguida ao golpe, o “Primero Justicia”, fundado por Capriles, foi o único partido político a aceitar a dissolução forçada da Assembleia Nacional ordenada pela junta golpista de Pedro Carmona Estanga; Capriles também participou, na ocasião, do cerco à embaixada cubana em Caracas, cortando luz e água da residência diplomática; derrotado o golpe foi processado, mas o promotor público Danilo Anderson, responsável por conduzir o caso, foi assassinado em novembro de 2004 em um atentado com carro-bomba; depois disso por diversas vezes tentou se aproximar sem êxito de Hugo Chávez, principalmente nas eleições de 2012 quando enviou a Chávez uma mensagem: “sua vitória será nossa”. Enfim, tínhamos ainda muito a escrever, mas isto já basta para revelar o oligarca de extrema-direita, golpista, violento e oportunista chamado Henrique Capriles. Com um currículo destes, é mais do que natural que a mídia hegemônica brasileira, igualmente de triste trajetória, volte a se apaixonar pelo cara.
Kosovo: A mentira de O Globo e as verdades de Anabela
Como noticiamos na Súmula Internacional desta terça-feira (30) as tensões são crescentes no Kosovo, região que foi o pretexto para que a Otan, em 1999, sem autorização da ONU, bombardeasse e destruísse a Iugoslávia, país então membro das Nações Unidas que deixou de existir. O Kosovo desde então é ocupado pelas tropas da Otan, que instiga as tensões entre albaneses e sérvios para justificar sua presença neste território estratégico. O jornal O Globo, na edição desta quinta-feira, informa o deslocamento de mais 700 soldados da Otan para a região e ao final reporta que a soberania de Kosovo é reconhecida por mais de 100 países, incluindo o Brasil, o que não é verdade. A maior parte dos países da ONU (são 193) NÃO reconhece a soberania do Kosovo, INCLUINDO o Brasil, como informamos na edição da Súmula já mencionada. No site do Ministério das Relações Exteriores, na seção “Territórios não reconhecidos pelo Brasil”, o Kosovo é o terceiro da lista e o Itamaraty esclarece que “nem todas as regiões no mundo que reivindicam o direito de serem reconhecidas como Estados têm esse pleito aceito pelo Governo brasileiro. (…) o Brasil não reconhece tais governos como entidades soberanas”. O Brasil, até hoje e de forma correta, reconhece o Kosovo como parte da Sérvia. Aliás, como informa a jornalista Anabela Fino, na edição desta quinta-feira do jornal Avante!, órgão central do Partido Comunista Português (PCP), depois da invasão de Kosovo pela Otan (conhecida em Portugal pela sigla em inglês, Nato), “na prática, o território, cuja secessão não é reconhecida pela Sérvia nem pela ONU, encontra-se desde então sob a jurisdição militar da NATO, ou seja, é um território sob domínio militar estrangeiro”.
Kosovo: As verdades de Anabela
Anabela, neste excelente artigo, lembra algumas verdades incômodas sobre a questão do Kosovo. A jornalista recua até 1990 “quando a CIA e o Bundes Nachrichten Dienst (BND/ agência de espionagem alemã) apoiaram o Exército de Libertação do Kosovo (UÇK, em albanês), conhecido pelas suas estreitas ligações a sindicatos do crime albaneses e europeus, e então liderado por Hashim Thaçi, um protegido de Madeleine Albright, envolvido no tráfico de drogas e na prostituição (…) Hashim Thaçi, fundador do sindicato do crime Drenica-Group, com ligações às máfias albanesa, macedónia e italiana, e depois ‘presidente’ do Kosovo, está actualmente a ser julgado em Haia por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Já os EUA persistem na ocupação militar, que tem máxima expressão em Camp Bondsteel, a principal base militar norte-americana no Kosovo e a maior do mundo fora do território norte-americano (…) Alegadamente construída para ‘proteger os civis’, a base serve objectivamente os interesses estratégicos dos EUA nos Balcãs, porta de entrada para a Eurásia, e possibilita o controlo sobre oleodutos e corredores energéticos vitais, negócio chorudo [rendoso, n. do e.] de multinacionais norte-americanas)”.
A bulha do “financiamento climático”
Os países ricos exterminaram biomas e povos originários de todos os tipos para acumular riquezas e sustentar seus desenvolvimentos industriais e tecnológicos. Atingidos estes objetivos, tornaram-se convictos defensores do meio-ambiente nas terras alheias, e para não perder a pose assumiram o compromisso – firmado durante as negociações climáticas em Paris em 2015 – de investir 100 bilhões de dólares por ano destinados a ajudar os países em desenvolvimento a reduzir as emissões e se adaptar a um mundo em aquecimento. No entanto, uma minuciosa matéria escrita para a Reuters pelas jornalistas Emma Rumney, Irene Casado Sánchez, Jaimi Dowdell, Misato Nakayama, Sakura Murakami e Kiyoshi Takenaka, publicada nesta quinta-feira, mostra que o dinheiro que os países ricos informam como aplicações no meio-ambiente são, em boa parte, destinados a outras finalidades.
A bulha do “financiamento climático” II
A Itália ajudou a rede italiana Venchi a abrir lojas de chocolate e “Gelato” em toda a Ásia. Os Estados Unidos ofereceram um empréstimo para a expansão de um hotel costeiro no Haiti. A Bélgica apoiou o filme “La Tierra Roja”, uma coprodução belga-argentina com protagonista belga, ambientada na floresta tropical argentina. O Japão está financiando uma nova usina de carvão em Bangladesh e a expansão de um aeroporto no Egito. O financiamento para os cinco projetos totalizou US$ 2,6 bilhões, e todos os quatro países informaram às Nações Unidas que as despesas fazem parte da rubrica financiamento climático, “embora uma usina de carvão, um hotel, lojas de chocolate, um filme e uma expansão de aeroporto não pareçam esforços para combater o aquecimento global”, diz a reportagem. As quatro nações citadas não quebraram nenhuma regra formal. Isso porque o compromisso assumido nas negociações de Paris veio sem diretrizes oficiais sobre quais atividades contam como financiamento climático. “Os países não são obrigados a relatar detalhes do projeto. As descrições que divulgam são muitas vezes vagas ou inexistentes – tanto que, em milhares de casos, nem sequer identificam o país para onde foi o dinheiro”, informa o texto da Reuters. Ou seja… É como diz Mark Joven, subsecretário do Departamento de Finanças das Filipinas, que representa o país nas negociações climáticas da ONU. “Essencialmente, o que quer que eles chamem de financiamento climático é financiamento climático.” Não tenho dúvidas, apesar desta suspeita não aparecer na reportagem, de que parte (ou até mesmo boa parte) destes US$ 100 bilhões é destinado a financiar ONGs e Think Tanks alinhados aos projetos políticos dos países imperialistas tendo o meio-ambiente como fachada. O texto completo da reportagem pode ser lido (em inglês) neste link: Rich nations say they’re spending billions to fight climate change. Some money is going to strange places.
Embate com extrema-direita será “Tempestade tremenda”, diz Pedro Sánchez
A agência Europa Press informa que o Presidente do Governo e Secretário-Geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, denunciou nesta quarta-feira (31) o domínio da direita nos meios de comunicação e previu que será acusado de fraudar as eleições, como aconteceu nos EUA quando Donald Trump foi derrotado: “Não é novidade, seus professores americanos lançaram uma multidão enlouquecida contra o Capitólio para denunciar um falso pucherazo (neste contexto, ‘pucherazo’ em espanhol significa o ato de fraudar o resultado de um pleito, n. do e.)”. Sánchez fez esses alertas durante uma reunião no Congresso, a primeira que manteve com deputados e senadores após anunciar sua decisão de antecipar as eleições gerais para 23 de julho. Nesta reunião, Sánchez se prolongou em alertar sobre o que os espera nesta próxima campanha eleitoral e em acusar PP e Vox, qualificando-os como “direita-extrema e extrema-direita”. “A tempestade vai ser tremenda”, exclamou antes de lembrar que “já tivemos um aperitivo de insultos e sujeiras” na campanha para as eleições municipais e regionais de 28 de maio.
Pedro Sánchez: “Tudo depende do povo”
O líder social-democrata acredita que a direita seguirá a mesma linha e tentará “ir até limites insuspeitados” para que os argumentos da esquerda não sejam ouvidos. Assim, ele previu em um duro discurso contra a direita, que “da posição de domínio que eles têm nas grandes empresas, na grande mídia” será desencadeada uma “campanha ainda mais feroz de insultos e desqualificações“. O governante pediu que seus companheiros de partido mantenham a calma e respondam à “cascata de insultos” com argumentos e às falsidades com dados, alegando que as eleições de domingo passado (28/5, quando a direita e a extrema-direita saíram vitoriosos) não são um ponto de chegada mas um ponto de partida, tentando assim subtrair importância a analistas que falam em “mudança de ciclo” como se fosse um fenômeno natural e o futuro estivesse escrito: “não é assim”, argumentando que por mais poderosos que sejam os financiadores da direita, o voto de um motorista de ônibus ou de um caixa de supermercado vale o mesmo que o do proprietário de um canal de televisão ou o de um banco. “O voto nos torna iguais, tudo depende do voto do povo“. Sánchez é candidato a reeleição como presidente do Governo (Primeiro-Ministro). A Esquerda Unida e o Movimento Sumar também concorrem ao cargo com a atual Ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, militante do Partido Comunista da Espanha.
Petro anuncia volta da Colômbia à Unasul, mas insiste em mudança de nome
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta terça-feira que seu país voltará a integrar a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), da qual se retirou em 2018 durante o governo de seu antecessor, Iván Duque (2018-2022). “Decidi reintegrar o país à Unasul, ratificando o tratado aprovado pelo Congresso por meio de lei e solicitei que se chamasse Associação de Nações Sul-Americanas para garantir o pluralismo e a permanência no tempo”, disse o presidente em sua conta no Twitter. A Colômbia havia se retirado da Unasul em 10 de agosto de 2018, apenas três dias após o início do mandato do presidente de extrema-direita, Iván Duque.