Autoridades brasileiras defendem Vini Jr e caso gera incidente diplomático

Em maio, Lula e Sánchez assinaram acordo para o combate ao racismo, à xenofobia e a formas correlatas de discriminação

Madri, Espanha, 26.04.2023 - Em maio, os governos do Brasil e da Espanha assinaram acordo de combate ao racismo Foto: Ricardo Stuckert/PR

A reincidência de casos de racismo contra o jogador brasileiro Vinícius Junior, do Real Madrid, durante os jogos do Campeonato Espanhol, deixou de ser um problema meramente esportivo. Com a entrada em campo das autoridades brasileiras o caso já é tratado como incidente diplomático.

Pela décima vez nos últimos dois anos, o atleta sofreu insultos racistas no domingo (21), quando os merengues visitaram o Valência, pela 35ª rodada do campeonato. Uma grande parcela do estádio imitou e chamou o brasileiro de macaco por diversas vezes durante a partida. De maneira absurda, Vini acabou sendo expulso de campo por uma suposta agressão.

Ainda no Japão, onde participava da reunião do G7, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenou os atos racistas dos torcedores espanhóis e cobrou o que a Fifa e a liga espanhola de futebol tomem “sérias providências” a partir do caso.

“Um gesto de solidariedade ao jogador brasileiro jovem, negro, que joga no Real Madrid, que no jogo no estádio do Valencia foi chamado de macaco. Não é possível que quase no meio do século 21 a gente tenha o preconceito racial ganhando força em vários estádios de futebol na Europa”, disse Lula em Hiroshima.

Lula deve falar ainda hoje (23) por telefone com o primeiro ministro da Espanha, Pedro Sánchez. Em maio, em visita oficial do governo brasileiro ao país, Lula e Sánchez assinaram um acordo para o combate ao racismo, à xenofobia e a formas correlatas de discriminação – sobretudo em atividades esportivas.

Em meio a repercussão, o francês L’Équipe, considerado o maior jornal de esportes do mundo, considerou que a “erradicação do racismo no futebol espanhol, simbolizada pelo caso Vinícius, esbarra na inércia dos órgãos dirigentes”.

Em outra frente do governo federal, cinco ministérios assinaram nota conjunta condenando os ataques racistas que atletas brasileiros vêm sofrendo reiteradamente na Espanha. O texto “insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos”.

O documento foi publicado nesta segunda (22) e foi assinado pelo Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Igualdade Racial, Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ministério do Esporte e Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Nas redes sociais, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos (PCdoB-PE), prestou solidariedade a Vinícius Junior. “Quero enviar um abraço e toda solidariedade a @vinijr, mais uma vez vítima do racismo. Saiba que você não está só. Seguimos lutando para mudar as estruturas e combatendo sem trégua essas manifestações criminosas, não importa onde aconteçam ou a quem se dirijam”, disse a ministra.

O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA), disse, nesta segunda (22), que estuda aplicar um dispositivo do código penal que prevê a aplicação da lei brasileira em casos “excepcionais” de crimes cometidos contra brasileiros no exterior.

A pasta deu essas declarações antes do governo espanhol e autoridades esportivas do país ibérico começassem a agir contra os criminosos que insultaram Vinícius Junior. Nesta terça (23), a Polícia Nacional da Espanha deteve três pessoas por insultos racistas a Vinícius Junior, no domingo.

Outros quatro suspeitos foram presos em Madrid por suspender um boneco de Vini Jr em uma ponte da capital, simulando um enforcamento do jogador.

Os ministérios da Igualdade do Brasil e da Espanha também emitiram nota conjunta, expressando “solidariedade incondicional ao jogador do Real Madrid. Assinados pelas ministras Anielle Franco (Brasil) e Irene Montero (Espanha), o documento afirma que “”O esporte deve ser um reflexo dos valores de igualdade, respeito e diversidade que norteiam nossas sociedades e nele não há lugar para quem propaga mensagens de ódio, racismo, perseguição e intolerância”.

O primeiro ministro da Espanha, Pedro Sánchez, se manifestou nesta segunda (23), afirmando que o país terá “tolerância zero para racismo no futebol”.

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