Bolsonaro comprou e não entregou 19 toneladas de bisteca para indígenas
Gestão também gastou R$4,4 milhões em alimentos que os indígenas não consomem. Empresa prestadora foi criada dois meses antes do primeiro contrato.
Publicado 15/05/2023 13:44 | Editado 16/05/2023 13:43

O governo Bolsonaro comprou 19 toneladas de bisteca de porco para indígenas no Vale do Javari, no Alto Simões (AM), que nunca chegaram às comunidades. Além da carne congelada, a Funai pagou R$4,4 milhões para enviar aos Yanomamis alimentos não consumidos por eles, durante a crise humanitária. Há registros que essa segunda leva não foram entregues integralmente.
Segundo o jornal Estadão, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro assinou os contratos pelas 19 toneladas de bisteca entre 2020 e 2022. A reportagem revela que a carne faria parte da cesta básica e seria dividida com os funcionários da antiga Funai (atual, Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
No entanto, sem o recebimento por parte dos indígenas, os 32 funcionários da Funai teriam que comer um quilo de bisteca por dia, durante todo o ano. O Estadão constatou, também, que no Vale do Javari não existem congeladores, necessários para manter as remessas.
Os indígenas confirmam que nunca receberam qualquer encomenda de bistecas congeladas. Ao jornal, a diretora de administração da Funai, Mislene Metchacuna Martins Mendes, disse que as compras da última gestão eram um desperdício. “Nem tudo que constitui a cesta básica contempla uma alimentação específica desses indígenas. Era um desperdício, realmente, do dinheiro público”, disse Metchacuna. Segundo a funcionária, parte dos alimentos chegava sem condições para consumo.
Os contratos custaram R$568,5 mil aos cofres públicos. Sem as bistecas, as cestas foram entregues a 13.300 indígenas de comunidades como marubos, matises, kanamaris e korubos sem as bistecas.
Segundo a reportagem, continham apenas produtos secos, como arroz, farinha e sabão.
O jornal analisou 5,5 mil compras de alimentos para indígenas de todo o país. No levantamento, constatou-se que mais da metade foram compradas sem licitação, a pretexto da urgência devida à pandemia de Covid-19.
O ex-presidente da Funai, delegado Marcelo Xavier, que dirigia a instituição durante a assinatura dos contratos não se manifestou.
Em outra matéria, o Estadão revelou a compra de R$4,4 milhões em alimentos como sardinha enlatada e linguiça, que não fazem parte da dieta dos Yanomamis, para compor a cesta básica durante a crise humanitária.
A área técnica da Funai alertou o governo anterior e o Ministério Público. O MP pediu a condenação da União para considerar estudos antropológicos e nutricionais na composição das cestas e a Justiça acatou o pedido.
No entanto, a reportagem apurou que após a condenação o governo Bolsonaro voltou a comprar os mesmos alimentos em um volume recorde.
De acordo com a matéria, a empresa contratada para vender linguiça e sardinha enlatada ao governo foi aberta em 2020, dois meses antes da assinatura do primeiro contrato. Sediada em Boa Vista, Roraima, a H.S. Neves Junior foi a empresa que mais prestou serviços à Funai sem licitação.
O dono, Helvercio Sevalho Neves Junior, de 26 anos, foi obrigado a devolver R$3 mil a União por ter solicitado auxílio emergencial indevidamente durante a pandemia de covid-19. Em dois anos, a empresa fechou contratos com o governo de Roraima no valor de R$188 milhões e com as Forças Armadas, no valor de R$586 mil.