Amazônia vale sete vezes mais preservada do que desmatada

Banco Mundial estima que o armazenamento de carbono vale 210 bilhões de dólares anuais, enquanto agropecuária renderia lucro máximo de 75 bilhões.

Foto: capa do relatório "Equilíbrio Delicado Para a Amazônia Legal Brasileira".

Segundo relatório do Banco Mundial, preservar a Floresta Amazônica vale sete vezes mais do que os lucros obtidos com a exploração econômica da região.O estudo Equilíbrio Delicado Para a Amazônia Legal Brasileira: Um Memorando Econômico, divulgado nesta terça-feira (9), estima que a floresta vale pelo menos US$ 317 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão) anualmente.  

A pesquisa pede uma revisão do modelo de crescimento da Amazônia para proteger a floresta e a biodiversidade. Elaborado ao longo de três anos, o relatório mostra que o aumento da renda da população da Amazônia Legal está diretamente relacionado à maior proteção da floresta, modos de vida tradicionais e redução do desmatamento.

De acordo com o relatório, enquanto bem público, o valor da floresta tropical brasileira, somente para a região da América do Sul, está estimado em 20 bilhões de dólares anuais. Esses serviços incluem a chuva necessária para a agricultura da região e a proteção contra a erosão do solo e os incêndios.

Floresta em pé X floresta desmatada

Os valores públicos globais associados à floresta em pé são ainda maiores, principalmente devido ao papel da Amazônia Legal, como sumidouro de carbono, estimado em 210 bilhões de dólares. Em seguida está o valor de existência, ligado à biodiversidade e cobertura florestal somando outros 75 bilhões de dólares. Os valores de uso privado sustentável da floresta em pé, como, por exemplo, a produção de produtos não madeireiros ou o turismo sustentável, são estimados em 12 bilhões de dólares anuais.

Dada a biodiversidade singular da Floresta Amazônica também é possível obter, da biosfera amazônica, valores substanciais de prospecção (uso direto e valores de opção) associados a novas inovações farmacêuticas baseadas em recursos genéticos. Esse “valor de opção” total é avaliado em US$ 10 bilhões ao ano. A exploração sustentável de produtos não madeireiros, como borracha e castanha-do-pará, está avaliada em 8,7 bilhões de dólares.

Por outro lado, o desmatamento de 20% a 35% da Amazônia para exploração agropecuária geraria lucros de 25 bilhões a 75 bilhões de dólares por ano. A estimativa de desmatamento leva em conta que grande parte da floresta não seria adequada para a produção agrícola, e o relatório observa que esse número pode estar exagerado. O documento avalia que o valor líquido de muitas terras agrícolas na Amazônia brasileira pode ser inferior a US$ 100 por hectare ao ano.

A extração madeireira não sustentável é avaliada em um valor líquido anual de US$ 10 bilhões. Além disso, há uma extensa atividade de extração mineral na Amazônia, que também pressiona a floresta tropical. Seu valor é incerto, mas, nos últimos anos, tem girado em torno de US$ 8 bilhões anuais. Juntas, essas frentes de exploração poderiam gerar lucros de US$ 43 bilhões a US$ 98 bilhões por ano.

“Os valores de proteção da Floresta Amazônica brasileira dominam fortemente os valores de exploração, o que indica que o desmatamento é uma redistribuição ineficiente de riquezas públicas para o privado.”, diz o relatório.

Ponto de Inflexão

O desmatamento no bioma Amazônia ameaça, além da integridade da floresta tropical, podendo avançar rumo a um ponto de inflexão (mudanças ecológicas potencialmente irreversíveis), a excepcional riqueza natural dos estados amazônicos, que abrigam cerca de 60% da Floresta Amazônica e partes de outros importantes biomas, como o Cerrado e o Pantanal. O vasto território de 502 milhões de hectares é maior em área que a União Europeia (UE).

Além disso, a Amazônia regula o clima global; abriga 25% da biodiversidade terrestre conhecida; é a fonte de “rios voadores” essenciais para a agricultura e energia hidrelétrica da América do Sul; e fornece meios de subsistência para muitas populações rurais. “O risco de atingirmos um ponto de inflexão eleva drasticamente os custos do desmatamento”, adverte o relatório. “Proteger as florestas da Amazônia é uma necessidade urgente.”

O diretor do Banco Mundial para o Brasil, Johannes Zutt, alerta que o atual “modelo [de exploração] contrapõe as pessoas à natureza, destruindo muito mais riquezas do que cria. Esse modelo continua a aproximar a Amazônia de um ponto de inflexão, após o qual a floresta perderá a capacidade de gerar chuvas suficientes para se sustentar e também não oferece muitos benefícios aos 28 milhões de residentes” da região.

O relatório defende que a redução da pobreza na região deve estar vinculada a um modelo de desenvolvimento que não se baseie apenas na extração de recursos naturais. “Uma ênfase maior na produtividade, principalmente em outros setores (que não estejam ligados à produção de commodities), impulsionaria o desenvolvimento em todo o país e ajudaria a fortalecer as economias da Amazônia, ao mesmo tempo que diminuiria a pressão sobre as florestas naturais”, afirma Zutt.

COP 26

Impedir o desmatamento ilegal não é apenas uma prerrogativa econômica e ambiental, mas também se alinha aos compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito do Acordo Climático de Paris: o solo, as mudanças no uso do solo e as florestas são as principais fontes de emissões brutas de gases de efeito estufa no país; impedir o desmatamento ilegal, portanto, é uma prioridade explícita na Contribuição Nacionalmente Determinada original do Brasil.

Na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 – a COP26 –, o Brasil antecipou para 2028 sua meta de zerar o desmatamento ilegal no país. A efetivação desse compromisso é importante para que o governo brasileiro demonstre sua credibilidade política para seus cidadãos e para o mundo e, ao mesmo tempo, cumpra suas obrigações de conter o aquecimento global como membro da comunidade internacional. Dada sua matriz energética verde, a redução efetiva do desmatamento tornaria o Brasil um país verde e beneficiaria a pauta de comércio internacional à medida que o mundo se descarbonizasse.

Para ver a íntegra do relatório, clique aqui.

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Fonte: Banco Mundial

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