Extrema-direita vence no Chile, PC foi mais votado na esquerda
Mais: FMI adverte para perspectivas cada vez mais sombrias/EUA tem o 201º tiroteio em massa em 23/A democracia na Inglaterra de Charles 3º.
Publicado 08/05/2023 15:18 | Editado 09/05/2023 11:28
O Chile realizou, neste domingo (7), a eleição para o Conselho Constitucional, que terá a responsabilidade de redigir a proposta de uma nova Constituição que irá a referendo popular em dezembro. O pleito consagrou uma grande vitória da extrema-direita, que elegeu 22 dos 50 membros do Conselho. Com isso, o Partido Republicano tem o direito a vetar qualquer proposta e pode até tentar inviabilizar a nova constituição. A direita tradicional, reunida na lista “Chile Seguro”, elegeu 11 conselheiros, o que garante uma maioria folgado à direita: 33 de 50 conselheiros. Em pronunciamento após as eleições, o presidente chileno, Gabriel Boric, considerado o grande derrotado da eleição, lançou um apelo para que o Partido Republicano atue “com sabedoria e moderação”.
Desempenho da esquerda
O governo saiu dividido para a disputa com duas listas: a “Unidade para o Chile” (Partido Comunista, Convergência Social; Comuns; Revolução Democrática, e Partido Socialista) e “Tudo pelo Chile” (Democracia Cristã, o Partido Radical e o Partido pela Democracia). Esta segunda lista não alcançou o quórum mínimo e ficou sem representantes no Conselho. O Unidade para o Chile elegeu os 17 representantes da esquerda, com o Partido Comunista tendo sido o mais votado da esquerda, com 7,97% dos votos, o Partido Socialista alcançou 5,98% e a Convergência Social (Partido de Gabriel Boric), 5,71%. Mesmo sendo o mais votado entre as siglas progressistas, o PC elegeu 2 conselheiros, devido a peculiaridade do voto em lista regionalizada. A Convergência Social elegeu 4; o Comuns 1; Revolução Democrática 4 e Partido Socialista 6, totalizando os 17 da esquerda.
Chile: Primeiras análises – Dura derrota para o governo
O jornal do PC do Chile (El Siglo) traz, nesta segunda-feira (8), uma análise inicial da eleição destacando os seguintes pontos: “A essência da eleição deste domingo é que houve uma importante vitória da extrema-direita. O Partido Republicano, sozinho, obteve 22 assentos em 50. É uma conquista muito importante para este setor político e seu resultado vem mudar o mapa político do Chile”; “A lista da direita tradicional, ‘Chile Seguro’ (União Democrática Independente, Renovação Nacional, Evópoli), ficou com 11 conselheiros, um pouco abaixo do que se previa. Terá uma gravitação muito importante na redação da nova Carta Magna. Eles têm a missão inevitável de ver como se relacionarão com a extrema direita. A parte mais desconfortável com isso é a UDI”; “Assim, a oposição obteve uma vitória confortável, prevista pelas pesquisas e análises. Isso coloca os republicanos e a direita tradicional em um cenário imbatível para gravitar em torno do conteúdo da nova Constituição, tendo 3/5 para impor suas teses e doutrinas centrais. Além disso, é um triunfo que lhes permite continuar torpedeando e obstruindo o Governo com mais força”; “O governo, globalmente, testemunhou uma dura derrota eleitoral e política. A lista ‘Unidade pelo Chile’ tinha 17 conselheiros no final da noite, mas a outra lista pró-governo, ‘Tudo pelo Chile’ não elegeu nenhum. Assim, as forças progressistas, de esquerda, social-democratas e democratas-cristãs não chegaram nem aos 2/5 necessários para evitar a imposição de conteúdo dos setores conservadores. Ficou demonstrado o fracasso da tese imposta pelo Partido para a Democracia (PPD), seguido pelo Partido Radical (PR) e aderido pela Democracia Cristã (DC), de lançar duas listas do campo governista”; “Para o campo do governo, para além de declarações pontuais e formais, é claro que se aproxima um ajuste ou pelo menos considerações políticas em função do resultado, e como se assume a valorização do voto obtido por cada partido político”; “Uma informação importante é que os cálculos mais ou menos consolidados mostram que os votos nulos e em branco atingiram cerca de 20%, cifra que expressa claramente o sentimento de parte do eleitorado e pode ter influenciado alguns resultados”.
PC do Chile: A palavra do Secretário-Geral
O secretário-geral do PC do Chile, Lautaro Carmona, também falou ao El Siglo e fez apreciações iniciais. Para o dirigente comunista: “Os resultados aprofundam e reafirmam a necessidade de convocar a unidade mais ampla de que somos capazes, para cumprir os compromissos programáticos, tendo em conta que ninguém é supérfluo, todos são necessários. Cada parte tem a obrigação de examinar o que aconteceu com a maior autoexigência e autocrítica de como foi esse processo e que lições devem ser tiradas para futuros desafios políticos”. Sobre o crescimento da extrema-direita, Lautaro aponta “um fato que não pode ser ignorado, ninguém pode diminuí-lo, ou relacioná-lo a um erro específico, deve ser assumido como é: uma tendência reacionária, uma direita forte na política nacional. Temos que nos perguntar por que isso aconteceu, o que está acontecendo no país, para explicar o crescimento desse nível do Partido Republicano. Temos que ver ponto a ponto, tirar lições, porque nessa votação há um mundo de trabalhadores, um mundo que deveria simpatizar com os direitos sociais, com nosso programa e nossas políticas de esquerda, porém isso não acontece. É preciso explicar detalhadamente o porquê desse crescimento de uma força que se afirma publicamente com os valores mais reacionários da sociedade”. Indagado pela reportagem de El Siglo sobre “o perigo de realmente não haver uma nova Constituição”, o secretário-geral respondeu que a esquerda terá que ser hábil para construir o melhor texto possível, “dentro dos limites da circunstância atual”.
FMI adverte para “perspectivas cada vez mais sombrias”
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que o mundo está à beira da fragmentação geoeconômica, que ela acredita que poderia adicionar mais “água fria” ao já anêmico crescimento global. Falando por link de vídeo no Fórum Econômico de Bruxelas na última quarta-feira (3), Kristalina Georgieva pediu cooperação em um momento em que o crescimento em todo o mundo é extremamente fraco pelos padrões históricos. “Depois de décadas de integração global, há um risco crescente de que o mundo se divida em blocos econômicos rivais”, disse a chefe do FMI. “E esse é um cenário que seria ruim para todos, inclusive para as pessoas na Europa.” Ela alertou que as perspectivas de crescimento são cada vez mais sombrias em um momento em que as previsões globais são fracas tanto no curto quanto no médio prazo. O FMI projeta que o crescimento permaneça em torno de 3% nos próximos cinco anos, a menor previsão de médio prazo em mais de três décadas. Para Georgieva, reavivar a cooperação multilateral é vital para o crescimento de longo prazo em todos os lugares.
EUA tem o 201º tiroteio em massa em 2023
Neste sábado (6), um homem abriu fogo em um shopping no estado do Texas e matou oito pessoas, incluindo crianças. Segundo a BBC, este foi o 201º evento do tipo nos EUA apenas em 2023. O presidente Joe Biden voltou a pedir ao Congresso que proíba os fuzis semiautomáticos, mas dificilmente tal desejo será atendido pelos deputados e senadores do Partido Republicano, diretamente ligados ao lobby da indústria armamentista, aliás, como igualmente boa parte dos parlamentares do Partido Democrata. A facilidade na compra de armas de todo o tipo pode ser parte da explicação do fenômeno, que, no entanto, não deve se resumir a isso. Os EUA é uma sociedade plutocrata, que convive diariamente com o estímulo ao consumo desenfreado, ao mesmo tempo em que parcelas significativas da população não conseguem consumir sequer o básico. Esta contradição, que só aumenta, leva à frustrações graves, que se revelam em todo o tipo de doenças, inclusive a sociopatia, que parece assumir proporções inéditas no que já podemos começar a chamar de “pesadelo americano”.
A “democracia” na Inglaterra de Charles 3º
“Não existe mais direito a protestos pacíficos no Reino Unido”, diz Graham Smith, líder do grupo “República”, preso com outros 63 ativistas anti-monarquia que protestavam de forma pacífica em Londres, no sábado (6) durante a coroação de Charles 3º. A polícia declarou, no próprio sábado, que entendia as críticas, mas disse que agiu previamente depois de receber informações de que os manifestantes estavam determinados a interromper a coroação. Os militantes começaram a ser libertados no final da noite de sábado, após quase 16 horas sob custódia. A ministra da Cultura, Lucy Frazer, disse ter grande confiança na polícia e acrescentou que eles estavam certos em adotar “uma postura mais dura”. Apesar de toda a repressão, durante o anacrônico cortejo feudal por toda a parte se viam cartazes com a inscrição “não é meu rei”.