Celso Amorim vai à Ucrânia discutir a paz com Zelensky

O ucraniano diz estar aberto a ouvir proposta brasileira, mas a prioridade é receber armas de defesa

Imagem de reprodução do Telegram de Zelensky

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou, neste sábado, após assistir a coroação do rei Charles III, que o seu assessor e ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, viajará a Kiev nesta quarta-feira (10) para se encontrar com o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, e discutir “como alcançar a paz”.

Amorim foi a Moscou há pouco mais de um mês para se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, e Lula explicou que agora fará o mesmo com Zelensky, tudo no âmbito dos esforços do governo brasileiro para procurar alternativas de negociação. Em mais de um ano, o conflito aponta para um acirramento ainda maior, com países ocidentais enviando armas mais avançadas para combater a Rússia.

“É preciso acabar com a guerra e criar um ambiente de negociação”, mas para isso “é preciso parar de atirar”, disse Lula, que desde o início do conflito tem insistido que “são muito poucos os que falam de paz”. Foi o que disse também a Emmanuel Macron, num breve encontro em Londres.

Ponto de vista ucraniano

Segundo fontes do governo têm dito à imprensa, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dirá que está aberto a ouvir a proposta do governo brasileiro sobre o plano de paz defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas também deve reforçar o pedido para que o Brasil volte atrás e forneça armas para que os ucranianos possam se proteger dos ataques russos.

Em janeiro, Lula negou um pedido feito pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, em uma reunião em Brasília. A proposta era de garantir ao lado ucraniano munição para abater drones iranianos, lançados contra a infraestrutura energética do país pelos russos. O governo da Ucrânia continua afirmando que necessita dos equipamentos, mas que está interessado em conversar sobre a proposta brasileira.

Na avaliação dos diplomatas ucranianos, não há como mediar ou se credenciar para tal tarefa sem um contato do governo brasileiro com a realidade da guerra. O objetivo, portanto, é convencer os brasileiros que Kiev quer ser ouvida e que falar de paz não pode acontecer de forma abstrata. Amorim, no entanto, teme que sua imagem seja usada para propaganda de guerra, e mine o esforço de diálogo com os russos.

Diálogo multilateral

O esforço do presidente brasileiro é de criar um grupo de países que possa atuar como mediador entre Rússia e Ucrânia, a fim de alcançar um “cessar-fogo” que levaria a uma rodada de negociações. O governo brasileiro tem conversado com autoridades de diversos países sobre a proposta de Lula, mas as resistências de EUA e Europa continuam.

Há cerca de duas semanas, o ministro de negócios estrangeiros russo, Sergey Lavrov, esteve em Brasília e foi recebido por Lula. Os ucranianos reclamaram que também mereciam atenção do Brasil, mas não disseram que o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, foi convidado pelo Brasil, antes de Lavrov.

Com as consequências econômicas da guerra para o resto do mundo, com inflação descontrolada devido a problemas energéticos e na cadeia produtiva global, a maioria dos países não tem interesse algum na continuidade da guerra. Esta é a aposta de Lula para sensibilizar a Europa, que só tem a perder com a continuidade de uma hostilidade e isolamento da Rússia. Países da Ásia, África e América Latina apenas sofrem os efeitos da guerra, sem qualquer envolvimento ou ganho com isso.

Os EUA, por sua vez, têm lucrado com sua indústria de armas, tem interesses hegemônicos em isolar a Rússia e a China, e se sente constrangido com as movimentações de Lula. Com os melhores índices econômicos pós-pandemia, a China precisa da estabilidade da paz para exercer seu comércio e cooperação internacional sem entraves.

O governo ucraniano defende que, num eventual acordo de paz, a base deve ser a resolução da ONU, aprovada inclusive com voto do Brasil, em que é exigida a retirada imediata das tropas russas. Zelensky não vê perspectiva para a paz, conforme Putin não sinalize neste sentido.

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