Salário caiu 7%, mas ganho de diretores subiu 24% em 2022
Relatório da Oxfam mostra que desigualdade no Brasil segue entre as piores do mundo. Na média global, queda salarial foi de 3%, e aumento entre CEOs, de 9%
Publicado 02/05/2023 16:21 | Editado 03/05/2023 15:24
Se há uma coisa que prospera no capitalismo é a desigualdade. A grande maioria da população mundial — a classe trabalhadora, que luta para para sobreviver em meio a crises, ao desemprego e à precarização — teve um corte médio de 3,19% em seus salários no ano de 2022 em relação a 2021. Do outro lado da gangorra, acionistas, presidentes e diretores de empresas dentre os mais bem pagos de quatro países viram seus ganhos, que já eram altos, crescerem 9%. No Brasil, a proporção é ainda pior: no último ano do governo Bolsonaro, o tombo nos salários dos trabalhadores foi de 6,9%, enquanto os CEOs receberam 23,8% a mais em lucros e dividendos.
Os dados foram revelados em levantamento feito pela Oxfam, que usou como base informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e agências governamentais de estatísticas.
De acordo com o relatório, a queda média identificada nos salários de cerca de um bilhão de trabalhadores e trabalhadoras de 50 países no ano passado foi de US$ 685 — valor equivalente a R$ 3.447 na cotação de 2 de maio. Com isso, a perda coletiva estimada é de US$ 746 bilhões em salários reais (ou seja, se tivesse havido reajuste salarial pela inflação).
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“Enquanto os executivos de grandes empresas lucram com aumentos de seus salários e dividendos de ações, a grande parte da população, que é trabalhadora assalariada, tem seus salários reduzidos e mal consegue acompanhar o custo de vida em seus países. Anos de austeridade e ataques aos sindicatos aumentaram o fosso entre os mais ricos e o resto de nós. Essa desigualdade é inaceitável e, infelizmente, nada surpreendente”, disse Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.
Crises e desdobramentos da pandemia e da Guerra na Ucrânia, por exemplo, não abalaram os ricaços que figuram na cadeia de comando mundial. No ano de 2022, os dividendos recebidos por acionistas bateram recorde de US$ 1,56 trilhão, aumento de 10% em relação a 2021.
Para se ter uma ideia do tamanho da desproporção e da injustiça, a Oxfam destaca que “as empresas dos Estados Unidos pagaram US$ 574 bilhões para seus acionistas, mais do que o dobro do corte feito sobre os salários reais dos trabalhadores do país. Acionistas de empresas brasileiras receberam US$ 34 bilhões, quase o mesmo montante do que trabalhadoras e trabalhadores do país tiveram em cortes em seus salários”.
Por outro lado, lembra a entidade, os impostos sobre a renda desses dividendos e ações, que ajudam a financiar serviços públicos como saúde e educação, vêm caindo ao longo dos anos – de 61% em 1980 para 42% hoje.
O governo Lula trabalha para apresentar propostas de reforma tributária sobre o consumo e sobre a renda ainda neste ano, uma forma de enfrentar ao menos parte do problema da falta de progressividade na taxação, que hoje pesa principalmente sobre os mais pobres. Segundo entidades da área fiscal, a tributação sobre os super-ricos pode gerar R$ 292 bilhões anuais de recursos aos cofres públicos.
Quando adotado o recorte de gênero, a análise da Oxfam mostra uma situação ainda pior, já que mulheres e meninas trabalham pelo menos 380 bilhões de horas a cada mês em atividades de cuidado não remuneradas. “Trabalhadoras frequentemente têm que trabalhar menos tempo ou abandonar seus empregos devido a essas atividades de cuidado não remuneradas. Elas também enfrentam discriminação, assédio e salários menores do que os recebidos pelos homens”, aponta o relatório.
Com informações da Oxfam