Serguei Lavrov e o jardim de Borrell
Mais: Fórum sobre Venezuela – O que avançou? / PC da Áustria entra no parlamento de Salzburgo com 11,7% dos votos / Estratégia de Biden em uma frase, entre outras notas.
Publicado 27/04/2023 12:09 | Editado 27/04/2023 14:33
Ficou tristemente famoso, nas relações internacionais, o discurso de outubro de 2022, do Alto Representante da União Europeia para Política Externa, Josep Borrell, na Academia Diplomática da UE. Falando para os futuros diplomatas do velho continente, Borrel ensinou: “Sim, a Europa é um jardim. Tudo funciona. […] A maior parte do resto do mundo é uma selva, e a selva pode invadir o jardim”, disse Borrell. A fala foi lembrada pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, nesta terça-feira (25), em coletiva de imprensa no Conselho de Segurança da ONU. “Todas essas reivindicações sobre, como disse Borrell, o ‘jardim’, cercado de selva, além de ser racismo e nazismo, refletem uma filosofia prejudicial a toda a humanidade, incluindo os pregadores dessa filosofia“. Lavrov expressou que os esforços do Ocidente para impor obstáculos à formação de um mundo multipolar só podem retardar esse processo, mas não por muito tempo, declarou. O chefe da diplomacia russa reiterou que o “mundo multipolar está sendo formado objetivamente” e, embora ainda não se saiba como será configurado, disse acreditar que “é melhor contar com a Carta da ONU, e com um Conselho de Segurança reformado”. A humanidade deve muita coisa à Europa, mas no belo jardim de Borrell (e Lavrov não deixou de lembrar este aspecto) frutificaram o colonialismo, o racismo, o fascismo e o nazismo, que até hoje, quais ervas daninhas, infestam jardins alheios ao redor do mundo e, repetindo velhas táticas com novas roupagens, tentam impedir que, como desejava Mao Tse Tung, “flores de todos os tipos desabrochem“.
Fórum de Bogotá sobre a Venezuela: O que avançou?
Em princípio, as notícias vindas de Bogotá, onde se reuniu um Fórum Internacional sobre a Venezuela, nesta terça-feira, não são tão alentadoras em relação aos objetivos ambiciosos que anunciava – incluindo sanções zero contra o país – de acordo com a Declaração Final divulgada. O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Álvaro Leyva, anunciou que o fórum chegou a um acordo sobre a necessidade de “estabelecer um calendário eleitoral que permita a realização de eleições livres e justas, realizadas de forma transparente e com plenas garantias para todos os atores venezuelanos no próximo ano”, mas EUA e União Europeia, presentes, não se comprometeram com o levantamento das sanções, embora a declaração indique que “os passos acordados a contento das partes vão de mãos dadas com o levantamento das diversas sanções“.
Fórum de Bogotá sobre a Venezuela: “Devolvam o dinheiro”!
O presidente colombiano, Gustavo Petro, promotor desta conferência visando reativar os diálogos entre o Governo e a oposição venezuelana no México, defendeu que, em sua opinião, o primeiro passo é que a Venezuela retorne ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos do qual saiu em 2013. Um outro ponto da declaração diz que “a confirmação do processo de negociação facilitado pelo Reino da Noruega que ocorreu no México, seja acompanhada pela celebração da implementação do fundo fiduciário único para investimento social na Venezuela“. Este ponto se refere à liberação de pelo menos 3,2 bilhões de dólares da Venezuela que estão no exterior e que não puderam ser utilizados por seu governo devido a sanções. O presidente Venezuelano, Nicolás Maduro, advertiu, na segunda-feira (24) que, para retomar o diálogo com a oposicionista “Plataforma Unitária”, os EUA deveriam devolver o dinheiro.
Fórum de Bogotá sobre a Venezuela: Posturas distintas
O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Joseph Borrell, para variar atuando como mero porta-voz das posições estadunidenses, preferiu intensificar as pressões contra o governo venezuelano, reiterando via Twitter que o bloco (UE) suspenderia suas medidas punitivas apenas se fossem feitas concessões por Caracas que satisfizesse (a UE). Como vimos em nota anterior, Borrell nunca decepciona quando se trata de revelar sua mentalidade colonialista. Em claro contraponto, o chanceler argentino, Santiago Cafiero, defendeu o diálogo entre os venezuelanos, “sem pressão externa”. “O caminho para encontrar uma solução política para a situação na República Bolivariana da Venezuela é dado pelo diálogo entre os próprios venezuelanos, sem pressão ou condicionamento externo”, disse Cafiero. Gustavo Petro anunciou que convocará uma nova cúpula “prontamente” com os mesmos convidados para “acompanhar o desenvolvimento do que foi alcançado“. Nem o governo venezuelano, nem a oposição participaram diretamente da cúpula desta terça, embora delegações de ambas as partes estivessem presentes em Bogotá. Além da Colômbia, EUA e União Europeia, participaram do Fórum: Argentina, Brasil, Canadá, França, Itália, México, Noruega, Reino Unido e outras nove delegações.
Fórum de Bogotá sobre a Venezuela: A reação bolivariana
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, garantiu que o governo “toma nota das deliberações realizadas” na conferência. Depois de conhecer a declaração da reunião, o Governo de Nicolás Maduro reiterou as suas exigências para continuar o diálogo com a oposição, uma das quais é precisamente o levantamento de “todas e cada uma” das “medidas coercivas unilaterais, ilegais e lesivas do direito que constituem uma agressão contra toda a população venezuelana e que dificultam o desenvolvimento da vida econômica e social do país”. Nesse sentido, Maduro exigiu a “devolução dos bens pertencentes ao Estado venezuelano retidos ilegalmente por países estrangeiros e instituições financeiras”. Ele também pediu a libertação “imediata” do empresário colombiano-venezuelano Alex Saab, detido nos Estados Unidos, onde está sendo processado pelo suposto crime de formação de quadrilha para lavagem de dinheiro. Embora em passos lentos, a expectativa é que o Fórum de Bogotá sirva para revitalizar os diálogos no México entre governo e oposição, travados desde novembro passado, abrindo caminho para que as sanções sejam derrubadas.
Áustria: Comunistas entram no Parlamento de Salzburgo pela primeira vez desde 1945, após obter 11,7% dos votos
O Partido Comunista da Áustria (em alemão: Kommunistische Partei Österreichs, abreviado KPÖ) entrará no Parlamento do Land de Salzburgo pela primeira vez desde 1945, depois de obter 11,7% dos votos nas eleições regionais neste domingo (23), conquistando de 4 a 5 assentos. Este forte avanço dos comunistas foi surpreendente, já que saíram de um patamar de apenas 0,4% dos votos nas últimas eleições para quase 12% agora. Não é a primeira vez que o KPÖ faz uma surpresa desse tipo. Em 2021 assumiu a prefeitura de Graz, a segunda cidade da Áustria e capital do estado federal da Estíria, no Sul. O prefeito de Graz, Elke Kahr, está satisfeito: “O fato de o KPÖ ter conseguido entrar no parlamento estadual em outro estado federal não surgiu do nada. É o resultado de muitos anos de trabalho com muito empenho pessoal e boas ideias para as pessoas de Salzburgo.” Tobias Schweiger, porta-voz nacional do Partido registra que “fazemos campanha eleitoral pelo nosso dia a dia; não fazemos do nosso dia a dia uma campanha eleitoral. Não importa como termina uma eleição, sempre mantemos os pés no chão. É preciso uma força social de mãos dadas com muitas pessoas”, conclui Schweiger. O KPÖ foi fundado em 1918, sendo um dos partidos comunistas mais antigos do mundo. Com informações do site 360noticias e página oficial do KPÖ na internet.
A estratégia de Biden em uma frase
Como já assinalamos nesta Súmula, há mais de um ano da eleição presidencial, Joe Biden, candidato à reeleição, já definiu sua estratégia: polarizar com Trump. Uma frase que o candidato repete em todos os seus encontros com eleitores é: “Não me compare com Deus, me compare com a alternativa”, o que resume bem o pensamento da campanha: Biden calcula que entre os indecisos, o fator de sua idade não pesará tanto quanto a rejeição a Trump que, aliás, é mais novo do que Biden apenas três anos e 5 meses.
Decadência dos EUA em números
Na edição desta quinta-feira (27) do jornal Avante!, o articulista Jorge Cadima elenca alguns números expressivos da decadência estadunidense. “O FMI estima que a China terá este ano 19% do PIB mundial (em Paridade de Poder de Compra), os EUA pouco mais de 15%. A diferença é bem maior se apenas se considerar a produção material. Segundo o Banco Mundial (worldbank.org) o valor acrescentado industrial da China em 2021 foi (em dólares) quase igual ao dos EUA e UE em conjunto”. / “O portal shadowstats.com calcula estatísticas paralelas com critérios oficiais usados no passado. Em 1994 as taxas de desemprego nos EUA deixaram de incluir os desempregados de longa duração que desistiam de procurar emprego. Incluindo-os, o portal estima o desemprego nos EUA em cerca de 25%, cinco vezes maior que a taxa oficial. Usando os critérios de 1980, estima a subida do índice de preços ao consumidor nos EUA em mais de 13% (em vez dos 5% oficiais). Aplicando a correção, estima que o PIB dos EUA tem caído desde há vários anos (e não crescido, como dizem os números oficiais)”. / “O Congresso dos EUA foi chamado a autorizar um novo aumento do teto para a dívida nacional, que é atualmente de 31 trilhões de dólares. Relativamente ao PIB, são cerca de 120%. Excluindo deste montante a dívida a outras entidades oficiais dos EUA, a dívida pública é de 25,7 trilhões. Mas o Gabinete Orçamental do Congresso (CBO) estima que nos próximos dez anos irá quase duplicar para 46,5 trilhões!” / “Alastra a pobreza, mesmo entre quem trabalha. Quase 600 mil não têm casa e vivem na rua ou em abrigos (endhomelessness.org). Vídeos dramáticos proliferam na internet sobre a epidemia de droga em grandes cidades. Muitos parecem filmes de zumbis. Num ano, morreram de overdose mais de 110.000 pessoas (npr.org, 31.12.22)”. / “Segundo dados oficiais (cdc.gov), a esperança de vida dos norte-americanos continua a baixar, sendo agora a mais baixa das últimas duas décadas (npr.org, 22.12.22)” / E concluí o artigo: “O importante é mandar armas para a Ucrânia e fomentar a guerra contra a China”.
Colômbia: Petro dissolve gabinete…
O jornalista Victor Farinelli, reportou, em Opera Mundi, que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta quarta-feira (26) os sete novos ministros do seu gabinete, que substituem aqueles que deixaram o governo na noite anterior. Ao todo, foram sete os ministros trocados: no Ministério do Interior, saiu Hernando Prada e entrou Luis Fernando Velasco. Na Fazenda, José António Ocampo deu lugar a Ricardo Bonilla. Na Agricultura, Cecilia López foi substituída por Jhenifer Mojica. No Ministério da Saúde, Diana Corcho foi trocada por Guillermo Jaramillo. Nas Comunicações, Sandra Urrutia deu lugar a Óscar Lizcano. Nos Transportes, Guillermo Reyes foi substituído por William Camargo. Finalmente, Arturo Luna deixou o Ministério de Ciência e Tecnologia, que passa a ser ocupado por Yesenia Olaya. Também foi anunciado o novo chefe do Departamento de Administração da Presidência da República, já que o cargo era ocupado por Óscar Lizcano, que assumiu o Ministério das Comunicações. O posto passa a ser ocupado por Carlos Ramón González.
…E rompe com partidos centristas
Ainda de acordo com Victor Farinelli, em Opera Mundi, Petro anunciou o novo ministério após o rompimento da coalizão governista, que já não conta com apoio dos partidos de Centro. Na noite de terça-feira, Petro pediu a renúncia de todos os seus ministros, e avisou que conformará o que chamou de “governo de emergência”, com a justificativa de que os novos integrantes devem ser mais leais às reformas que o Executivo enviou ao Congresso. A medida foi tomada depois que partidos de centro que apoiavam o governo mostraram sinais de que votarão contra quatro das reformas impulsionadas por Petro. Segundo o periódico colombiano El Espectador, os projetos em questão seriam as reformas da Saúde, Trabalho, Previdência e Judicial. Os partidos “rebeldes” são três: o Partido Liberal, o Partido Conservador e o União para o Povo (mais conhecido no país como Partido de la U). Todas essas legendas passaram a apoiar Petro a partir do segundo turno das eleições presidenciais, em junho de 2022, e acabaram ganhando cargos no governo após o pleito. Apesar de ter sido solicitada a renúncia de todos os ministros, apenas os que são militantes dos três partidos de centro deixaram efetivamente seus cargos. Os ministros ligados ao Pacto Histórico (aliança de esquerda que sustentou a candidatura de Petro desde o primeiro turno) continuaram em seus postos.