Viagem de Lula reafirma China como principal parceira do Brasil
Após quatro anos em que Brasil e China se distanciaram em decorrência dos ataques do governo Bolsonaro, Lula quer reativar a parceria com a assinatura de mais de 20 acordos
Publicado 11/04/2023 15:16 | Editado 12/04/2023 17:33
Em 101 dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já foi à Argentina, ao Uruguai e aos Estados Unidos. Mais à frente, visitará Portugal e Espanha, em abril, bem como o Japão, para a reunião do G7, em maio. Mas nenhuma viagem do governante brasileiro é cercada de mais preparativos e expectativas do que sua ida à China.
Ao embarcar na manhã desta terça-feira (11) de Brasília para Pequim, o presidente não apenas transferiu o cargo Geraldo Alckmin (PSB), que assumirá o Planalto até sábado (15). Lula também reiterou a seu vice que esta será a mais importante agenda internacional neste primeiro ano de governo. O objetivo é reafirmar a China como principal parceria do País.
A programação oficial começa nesta quarta-feira (12), em Xangai. Lula participará da posse da ex-presidenta Dilma Rousseff no Banco dos Brics, e se reunirá com empresários chineses. Nos demais dias, já em Pequim, ele terá agendas políticas e comerciais, com autoridades governamentais, parlamentares e líderes sindicais da China. O encontro com o presidente Xi Jinping será na noite de quinta-feira (13).
O tamanho da comitiva já sugere a alta prioridade conferida à viagem. Entre representantes do governo, do Congresso, do meio empresarial e dos movimentos sociais, 40 autoridades acompanharão Lula. Sete ministros e cinco governadores (todos do Nordeste) atravessarão o Atlântico, a exemplo de 20 senadores e deputados, incluindo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). É improvável que números desse porte se repitam em outra viagem até o fim desse mandato presidencial.
Após quatro anos em que Brasil e China se distanciaram em termos diplomáticos e até comerciais – em decorrência dos ataques do governo Jair Bolsonaro (PL) –, Lula quer reativar a parceria de modo efetivo. Para além do tradicional aperto de mãos, do jantar e das fotos oficiais, os três dias da estada do presidente brasileiro em território chinês devem resultar em mais de 20 acordos.
Na véspera da viagem, em entrevista à Voz do Brasil, Lula afirmou que convidará Xi Jinping a “conhecer o Brasil numa reunião bilateral”, a fim de “consolidar a relação com a China”. O Planalto deve priorizar a apresentação de projetos de infraestrutura, embora o “pacote” também inclua propostas do setor agropecuário. Foi graças ao agronegócio que a China se tornou a maior parceira comercial do Brasil.
“Queremos investimentos para gerar empregos e novos ativos produtivos. O Brasil tem uma belíssima relação com a China”, disse Lula. “Fazemos parte do BRICS juntos, e é o nosso principal parceiro comercial. Vamos tentar vender mais as coisas que produzimos para eles. Vamos fortalecer essa relação”. Em relação aos projetos, o presidente citou explicitamente “uma nova rodovia, ferrovia, hidrelétrica, uma coisa qualquer que signifique algo novo para o Brasil”.
Segundo a Agência Brasil, um dos acordos a serem anunciados prevê a construção do satélite CBERS-6, que “permite o monitoramento de biomas como a Floresta Amazônica mesmo com nuvens”. Já a agência Reuters, ouvindo fontes ligadas ao governo, informa que uma companhia aérea chinesa pode assinar a compra de 20 jatos comerciais da Embraer. Especula-se que temas como a produção de carros elétricos no País também estejam em pauta.
Na reaproximação com a China, Lula não abrirá mão de tratativas sobre a “desordem global”. Num mundo marcado pela imprevisível guerra da Ucrânia, tanto os brasileiros quanto os chineses buscam protagonismo nas negociações de paz – e podem se unir em torno de uma proposta comum.