Republicanos e o dilema do discurso para 2024
“Ron DeSantis não fica atrás de Trump em termos de reacionarismo e embora sua postura de direita possa ajudá-lo a se destacar nas primárias republicanas, alguns no partido duvidam que suas opiniões agradem a uma faixa mais ampla de eleitores.”
Publicado 08/03/2023 08:00 | Editado 08/03/2023 09:59
Membros do Partido Republicano debatem atualmente se o governador da Flórida, Ron DeSantis, deve suavizar sua marca conservadora o suficiente para vencer as eleições gerais nos Estados Unidos. Tudo indica que DeSantis será o principal adversário de Trump nas primárias do partido que definirá o representante republicano na disputa presidencial de 2024.
O debate interno foi abordado em um artigo recente no jornal The Hill. Para os republicanos que se opõem a Trump, o ex-presidente será inevitavelmente derrotado pelos democratas, pois exagerou na polarização, abrindo muitas fissuras na sociedade americana, sendo necessária a escolha de outro nome para evitar uma derrota anunciada.
Por outro lado, Ron DeSantis não fica atrás de Trump em termos de reacionarismo e embora sua postura de direita possa ajudá-lo a se destacar nas primárias republicanas, alguns no partido duvidam que suas opiniões agradem a uma faixa mais ampla de eleitores.
Para o estrategista do GOP (“Grand Old Party”, termo usado para se referir ao Partido Republicano) Kevin Madden, essa “é uma preocupação legítima que terá de ser abordada em algum momento“.
“No momento, o foco em questões culturais realmente não repercute tanto nas partes do país que realmente importam em uma eleição geral, que são as áreas suburbanas dos Estados Unidos”, disse o consultor.
A sessão legislativa anual da Flórida está programada para começar nesta terça-feira (7), e DeSantis pode ter outra rodada de vitórias em várias de suas prioridades políticas.
Entre elas estão propostas para permitir que os residentes desse estado portem armas ocultas sem necessidade de autorização, proibir programas de diversidade e equidade em faculdades e universidades públicas, bem como enfraquecer as leis que protegem a mídia de processos judiciais, observou The Hill.
A legislatura também pode eventualmente incluir um esforço para restringir ainda mais o aborto naquela região no sudeste do país.
Na opinião do jornal, essas vitórias políticas podem dar um impulso para a campanha presidencial de DeSantis, embora ele ainda não tenha anunciado sua candidatura à Casa Branca.
Analistas esperam que a mais alta autoridade da Flórida oficialize suas aspirações algum tempo depois que a legislatura estadual encerrar sua sessão em maio.
O governador ainda terá que ganhar a indicação do Partido Republicano antes de começar a se preocupar com uma vaga no Salão Oval e as pesquisas o mostram em segundo lugar, atrás do ex-presidente Donald Trump. A última pesquisa feita pela Reuters/Ipsos entre os filiados ao Partido Republicano, em fevereiro, aponta que 43% preferem Trump, enquanto 31% disseram apoiar Ron DeSantis e apenas 4% escolheram a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley.
No entanto, as políticas de extrema-direita de DeSantis, ao mesmo tempo em que conquistam seguidores conservadores, fizeram dele um alvo dos democratas.
Recentemente, o deputado Maxwell Alejandro Frost classificou como fascistas as iniciativas do governador dirigidas aos negros e à comunidade LGBTIQ+.
O congressista afirmou que o republicano está “agindo para transformar comunidades vulneráveis em bodes expiatórios. É apenas um problema para a Flórida agora, mas em alguns anos pode ser um problema para o país“, acrescentou.
De acordo com o The Washington Post, os comentários de Frost vieram depois que os legisladores republicanos na Flórida propuseram uma nova legislação para exigir que os professores usem pronomes que correspondam ao sexo de uma criança atribuído no nascimento e estabelece um programa universal de voucher escolar que na prática direciona os recursos públicos para colégios particulares em detrimento da rede pública de ensino.
DeSantis também assinou o projeto de lei de educação dos direitos dos pais, conhecido como “Don’t Say Gay” (não diga “gay”, em tradução literal), que proíbe professores estaduais de discutir orientação sexual ou identidade de gênero nas escolas.
Além de tudo isso, DeSantis também proibiu o curso avançado de Estudos Afro-Americanos no ensino médio das escolas públicas da Flórida.
O Comitê Nacional Democrata rotulou o republicano como extremista e sucessor da “agenda MAGA” (sigla para Make America Great Again, slogan de Trump).
Jon Reinish, um estrategista democrata, disse que a personalidade ultraconservadora de DeSantis seria um “peso tremendo” em uma campanha para as eleições gerais nacionais, acrescentando que “quanto mais ele for para a direita, mais difícil será para ele virar de volta para o centro”.
Repetindo uma frase do saudoso Leonel Brizola, que também não alimentava qualquer ilusão quanto ao falso progressismo do Partido Democrata, a disputa entre DeSantis e Trump pela indicação parece uma briga entre o capeta e o diabo. No final, quem ganha é o inferno.
Da redação, com Prensa Latina e agências