Franceses reúnem 1,28 milhão nas ruas por greve contra reforma da Previdência
Pelo menos 59% dos franceses apoiam os protestos contra a legislação regressiva de Macron, enquanto os sindicatos intensificam a luta
Publicado 08/03/2023 18:07 | Editado 08/03/2023 20:11
Mais de 250 protestos foram realizados na capital francesa, Paris, e em todo o país contra as reformas previdenciárias do presidente Emmanuel Macron, desde terça-feira (7), pelo sexto dia. Houve participação de coletores de lixo, trabalhadores de serviços públicos, maquinistas, incluindo refinarias, energia e transportes, onde a greve se renova, paralisando o país contra a legislação em discussão no Senado. Os distúrbios prometem ser ainda maiores, nesta quinta (9), com paralisação de transportes, inclusive em aeroportos.
Em toda a França, o dia internacional dos direitos das mulheres também esteve sob o signo das aposentadorias e das desigualdades salariais entre mulheres e homens. Milhares de mulheres fizeram sua manifestação em apoio às greves em 150 localidades. Mulheres aposentadas recebem em média 28% menos que os homens na França.
Estima-se que 1,28 milhão de pessoas se manifestaram em todo o país na terça-feira contra os planos de Macron de reduzir a idade de aposentadoria para 64 anos, informou o Ministério do Interior. Os protestos acontecem semanas depois que cerca de 1,27 milhão de pessoas participaram da rodada de protestos de 31 de janeiro.
A maioria dos franceses apoia atualmente o princípio de greves prorrogáveis (56%) e o objetivo sindical de “paralisar a França” (59%) para forçar o governo a recuar, de acordo com uma pesquisa da Elabe, publicada nesta segunda-feira (6).
Grandes multidões foram às ruas em Paris, Marselha, Nice e outras cidades. Alguns confrontos menores com a polícia ocorreram em Nantes, Rennes e Lyon. Na capital francesa, trabalhadores, famílias e ativistas se reuniram em clima de alegria, entoando palavras de ordem.
Casos esporádicos de confrontos aconteceram, com algumas pessoas lançando projéteis contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo.
Impasse no legislativo
A reforma pretende aumentar a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos e exigir 43 anos de trabalho até 2030 para receber uma pensão completa, entre outras medidas. O governo argumentou que o sistema deve mergulhar no déficit dentro de uma década, à medida que a população da França envelhece e a expectativa de vida aumenta.
Os sindicatos dizem que pequenos aumentos nas contribuições podem mantê-lo solvente. Eles dizem que as medidas propostas são injustas e afetariam desproporcionalmente os trabalhadores pouco qualificados em empregos insalubres que começam suas carreiras cedo.
O partido de extrema-direita de Marine Le Pen tenta se aproveitar do clima antigovernista, declarando apoio ao movimento e suas propostas, além de expressar preocupação com os efeitos das greves. A extrema-direita ignora que Macron só foi eleito, porque era preciso derrotar o grupo de Le Pen. A esquerda dividida não conseguiu chegar ao segundo turno.
O projeto de lei está em debate no Senado francês esta semana. Os senadores devem decidir esta noite sobre o artigo 7º, o mais simbólico da reforma, que prevê o adiamento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos. Os debates no Palácio de Luxemburgo azedaram durante a noite de terça para quarta-feira, com uma guerra de procedimento parlamentar entre a maioria de direita e de centro, favorável ao texto, e a oposição das bancadas de esquerda. Ainda faltam dezenas de emendas antes da votação do artigo 7º. Vale lembrar que os deputados não haviam chegado ao ponto de examinar esse artigo, pelo impasse nos debates e pela estratégia de obstrução adotada pelos eleitos “rebeldes”.
Enquanto os representantes sindicais pedem, desde a noite de terça-feira, para serem recebidos diretamente por Emmanuel Macron, devido à força do protesto social, Elisabeth Borne e o governo, por enquanto, se opõem. “Se os sindicatos quiserem levantar alguns pontos específicos, a porta do ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, permanece sempre aberta”, declarou o primeiro-ministro durante perguntas ao governo no Senado.
País paralisado
Os sindicatos ameaçaram congelar a economia francesa com paralisações em vários setores. A ponta mais visível da greve ocorre na autoridade ferroviária nacional SNCF.
Alguns sindicatos convocaram greves em setores como refinarias e depósitos de petróleo, até instalações de eletricidade e gás. Os trabalhadores de cada setor decidirão localmente à noite sobre isso.
Todos os embarques de petróleo no país foram interrompidos na terça-feira, em meio a greves nas refinarias dos grupos TotalEnergies, Esso-ExxonMobil e Petroineos, segundo a CGT (Central Geral de Trabalhadores).
Os caminhoneiros bloquearam esporadicamente as principais artérias e cruzamentos de rodovias em ações lentas perto de várias cidades nas regiões francesas.
A navegação no Reno foi retomada na tarde desta quarta-feira (8) após a intervenção da polícia contra o bloqueio da eclusa da EDF em Marckolsheim, iniciada na noite de segunda-feira por “centenas” de trabalhadores que se revezavam, disse a prefeitura de Baixo Reno. Quarenta gendarmes e uma companhia CRS foram mobilizados para a operação que garantiu o encalhe de 70 grandes barcos.
Um quinto dos voos foram cancelados no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, e cerca de um terço dos voos no Aeroporto de Orly e devem chegar a um terço com a greve dos controladores de tráfego aéreo. Os trens para a Alemanha e a Espanha devem parar, e os do Reino Unido e da Bélgica serão reduzidos em um terço, de acordo com a autoridade ferroviária SNCF.
A maioria dos trens de alta velocidade e trens regionais foram cancelados.
O transporte público e outros serviços foram interrompidos na maioria das cidades francesas. Em Paris, a Torre Eiffel foi fechada, assim como o Palácio de Versalhes, a oeste da capital.
De acordo com o Ministério da Educação, cerca de um terço dos professores estavam em greve em todo o país.