Ajuda humanitária brasileira chega à Turquia que já tem 22 mil mortos

Itamaraty envia equipe com 42 profissionais e 4 cães farejadores, além de equipamentos, medicamentos e itens emergenciais para resgates do terremoto

A ajuda humanitária brasileira chegou a Ancara, na Turquia, na noite desta quinta-feira (9). Na sequência, o grupo seguiu para Adana, cidade ao sul do país, na fronteira com a Síria, região do epicentro do terremoto ocorrido na segunda-feira (6).

Pelo menos 18.991 pessoas foram mortas na Turquia, de acordo com o presidente Erdogan, superando o número de vítimas do devastador terremoto de 1999 no país, de mesma magnitude. Calcula-se em pelo menos 3.377 pessoas mortas na Síria.

Apesar de ter ultrapassado as 100 horas após os terremotos, desafiando as probabilidades, equipes de resgate estão encontrando pessoas vivas nos escombros, tanto na Turquia, quanto na Síria, onde a situação é ainda mais precária, devido à guerra. Isto tem sido motivo de muita esperança para equipes como a brasileira, que chegou ontem ao país.

“Eu não tinha certeza se ela estava viva – ela estava pálida, fria, silenciosa. 
Seus membros estavam roxos e seu corpo coberto de hematomas”, lembrou o médico Hany Maarouf, de quando a bebê Aya chegou ao Hospital Jehan em Afrin, no noroeste da Síria., após ser retirada dos escombros de um prédio.

Dificuldades da Síria

A nota do Itamaraty não menciona envios para a Síria. Além do foco ter sido o país mais atingido, a Síria enfrenta enormes entraves para receber ajuda internacional, devido à guerra civil que bloqueia a passagem para as áreas atingidas.

As condições na Síria estão no limite. As equipes médicas são pequenas e estão exauridas pela dimensão do desastre. Faltam medicamentos e equipamentos nos hospitais, que funcionam com geradores a base de combustível no limite. Esta situação pode se tornar parte da catástrofe, após os resgates.

A Organização Internacional para Migração (OIM) disse que 14 caminhões transportando ajuda humanitária cruzaram para o noroeste da Síria vindos da Turquia.

“Esses comboios estão carregando aquecedores elétricos, tendas, cobertores e outros itens para ajudar essas pessoas que foram deslocadas como resultado desse terremoto catastrófico”, disse o porta-voz Paul Dillon, acrescentando que a ajuda se destina a Idlib.

O noroeste da Síria, controlado pela oposição, é o lar de quase dois milhões de refugiados deslocados internamente.

Equipes e resgate, equipamentos e medicamentos

A equipe de 42 pessoas e 4 cães farejadores embarcou em uma aeronave KC-30 da FAB (Força Aérea Brasileira) rumo ao país do Oriente Médio. A equipe é composta por 34 bombeiros de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Os demais são médicos e agentes de defesa civil.

Também foram enviadas 6 toneladas de equipamentos para ajudar nas operações de resgate e 3 “kits calamidade” que contêm, cada um, 250 kg de medicamentos e itens emergenciais, cedidos pelo Ministério da Saúde que atendem até 1.500 pessoas durante um mês.

A missão é coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), responsável pela cooperação humanitária do Governo Federal, em articulação com os Ministérios da Defesa (MD), Saúde (MS), Desenvolvimento Regional (MIDR) e Justiça e Segurança Pública (MJSP), e com os demais órgãos federais que trabalham de forma coordenada no âmbito do Grupo de Trabalho Interministerial sobre Cooperação Humanitária Internacional.

Solidariedade

Na segunda-feira (6), logo depois da tragédia, o Itamaraty se prontificou a enviar a ajuda. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se solidarizou com as vítimas dos 2 países.

“Olhamos com preocupação para as notícias vindas da Turquia e Síria, após terremoto de grande magnitude. O Brasil manifesta sua solidariedade com os povos dos dois países, com as famílias das vítimas e todos que perderam suas casas nessa tragédia”, escreveu Lula em seu perfil no Twitter.

Governos e organizações internacionais enviaram equipes de resgate e médicos para ajudar a Turquia e a Síria. O Brasil está entre os que prestaram assistência. Líderes e autoridades internacionais lamentaram as perdas causadas pelo desastre natural.

Dificuldades do governo

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, declarou na terça-feira (7) estado de emergência por 3 meses em 10 províncias. O líder afirmou que a medida visa a acelerar as operações de buscas e salvamentos de vítimas. “A gravidade do desastre do terremoto que experimentamos torna imperativa a implementação de medidas extraordinárias”, disse Erdogan.

O líder turco admitiu na quarta-feira (8) problemas na resposta inicial de seu governo durante visita à cidade de Kahramanmaras. Obrigou os hotéis a reabrirem no inverno para abrigar as famílias atingidas. Também afirmou que o governo realizará obras para reconstruir os edifícios destruídos, incluindo residenciais, com auxílio da Afad (Agência de Monitoramento de Desastres e Emergência da Turquia). 

Sob ataque da oposição, em véspera de eleição, ele admitiu que a resposta das autoridades turcas aos grandes terremotos no sul do país não foi tão rápida quanto o governo queria.

“Tantos prédios foram danificados que, infelizmente, não conseguimos acelerar nossas intervenções com a rapidez que desejávamos”, disse Erdogan durante uma visita à cidade de Adiyaman, no sul, fortemente atingida.

A declaração veio um dia depois de Erdogan admitir que houve “falhas” na forma como o governo lidou com o desastre.

Erdogan acrescentou que algumas pessoas estavam roubando mercados e atacando empresas após o desastre. Ele disse que um estado de emergência declarado nas áreas mais atingidas permitiria ao governo penalizar rapidamente os responsáveis.