B. de Paiva – Um legado do talento e do afeto. Por Rosemberg Cariry

Ali estava, prestes a voltar ao pó de onde um dia veio, o corpo de um homem de grande talento e generosidade, que fundou teatros e escolas de dramaturgia, e das lides teatrais.

Dentro do despojado caixão, cercado por algumas pessoas queridas, filhos, netos, irmãos e a querida e incansável Lurdinha – a companheira solidária e firme em seu amor, estava o corpo de B. De Paiva. Tudo me pareceu guardar uma simplicidade comovente. Afora os filhos (Rafael e Carlos), alguns parentes, amigos e fiéis companheiros.

Ali estava, prestes a voltar ao pó de onde um dia veio, o corpo de um homem de grande talento e generosidade, que fundou teatros e escolas de dramaturgia, e das lides teatrais. Ali estava o homem que dirigiu universidades, que administrou as mais importantes casas de espetáculos do País, que formou companhias e fez movimentos, que juntou e disponibilizou um formidável acervo sobre o teatro, as artes e a cultura brasileira, sempre aberto aos jovens estudantes e pesquisadores. Ali estava um homem que atuou em centenas de peças teatrais, novelas, recitais, leituras dramáticas, filmes e programas radiofônicos e televisivos. Ali estava o ousado pioneiro, um dos que abriu portas, no terreno hostil afastou pedras e espinhos (com as mãos e com o coração) para que fossem construídas as avenidas mais largas.

Abracei Lurdinha, abracei os filhos, abracei amigos e depois saí caminhando pela cidade. Pensava, emocionado: se no pequeno caixão cabia o corpo do homem, o extraordinário legado do artista e ativista B. de Paiva transbordava aquele espaço e se afirmava maior do que o esquecimento, mesmo sabendo que a memória nessa terra de sofrimento longo é por demais curta e, muitas vezes, já se esvai em vida. Na tarde quente, soprou uma brisa suave que invadiu o bairro, estendeu-se por sertões e mares, foi até o Rio de Janeiro, a São Paulo, Brasília e os mais distantes lugares, onde B. de Paiva chegou para plantar a boa roça do seu talento e oferecer colheitas dos seus melhores frutos, da sua arte e dos seus sonhos. Esse homem era um guerreiro; sabia lutar, mas nunca lhe faltava o afeto e a generosidade.

Obrigado por tudo, mestre!

*Cineasta

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