Segurança do DF sabia da ação dos golpistas, mas não acionou batalhões
O alerta foi feito ao gabinete do então secretário de Segurança, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, que ignorou as informações
Publicado 27/01/2023 17:49 | Editado 29/01/2023 11:37
Dois dias antes dos atos golpistas do domingo, dia 8 de janeiro, quando houve invasão e depredação dos prédios da Praça dos Três Poderes, um documento da inteligência informou à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (DF) sobre a decisão dos fascistas pela “tomada do poder com ameaça concreta de invasão aos prédios públicos”.
O alerta foi feito ao gabinete do então secretário de Segurança, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, que ignorou as informações.
“Não houve plano operacional sequer ordem de serviço. Não foram acionados batalhões importantes para prevenir, como BPCães (com cães farejadores), Bavop (de aviação operacional), RPMon (cavalaria) e Bope (operacional)”, informou o interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, que entregou nesta sexta-feira (27), ao Supremo Tribunal Federal (STF), um relatório com informações sobre os atos golpistas.
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Para o interventor, houve falta de planejamento para evitar os atos golpistas. “Houve informação da inteligência do que aconteceria. Um relatório foi enviado no dia 6 de janeiro (dois dias antes) ao então secretário de Segurança informando sobre ‘a tomada do poder com ameaça concreta de invasão aos prédios públicos’, ressaltou o interventor.
A informação, de acordo com ele, é que seriam 555 profissionais de segurança no dia, mas não foram. “Não tínhamos metade disso na Esplanada. Nem 150. Um efetivo que não guarda correspondência com o alerta da Inteligência que chegou”, afirmou.
O interventor também divulgou que “fica claro e evidente que o acampamento em frente ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano, virou um centro de construção de plano contra a democracia brasileira”.
De acordo com ele, todos os atos passaram e tiveram organização, apoio e planejamento no acampamento. “Ali circulavam criminosos. Foram 73 ocorrências em dois meses de funcionamento, entre roubos e furtos”, anunciou.
Cappelli afirmou que a entrega do relatório não é ponto de chegada, mas ponto de partida. “Tudo isso vai ajudar a prosseguir nas investigações, na individualização das condutas para apurar os fatos inaceitáveis do dia 8 de janeiro”, explicou.
“O acampamento em frente ao QG do Exército no DF serviu como ‘centro de construção de planos contra a democracia’, afirmou o interventor Ricardo Cappelli. Mais grave: Anderson Torres recebeu relatório, 48 horas antes dos ataques, que avisava do risco de invasão aos prédios públicos”, observou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
O relatório
O documento da intervenção federal, com 62 páginas, apresenta vídeos da Esplanada dos Ministérios, dos circuitos internos e drone, fotos da destruição, memorandos da Secretaria de Segurança Pública, quantitativo de policiais mobilizados no dia e documentos internos que foram despachados, como alertas de inteligência.
O parecer mostra os 19 dias de intervenção federal na segurança do DF até esta sexta-feira (27). E Cappelli garante que os trabalhos continuarão com a chegada do delegado Sandro Avelar, novo secretário de Segurança do DF.
Com informações do Ministério da Justiça e Segurança