Nova presidente da Caixa diz que “a gestão pelo medo” acabou
Em alusão aos casos de assédio sexual e moral cometidos pelo ex-presidente na Caixa, Rita Serrano criticou atuação do governo Bolsonaro no banco público e afirmou que a Caixa trabalhará para “a reconstrução do país”
Publicado 13/01/2023 11:29 | Editado 14/01/2023 13:03
Funcionária de carreira da Caixa Econômica Federal desde 1989, ou seja, há 34 anos, Maria Rita Serrano tomou posse nesta quinta-feira (12) como presidente da instituição na presença de autoridades, familiares e amigos.
O evento contou ainda com a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama, Janja da Silva, além do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A cerimônia ocorreu no teatro da Caixa Cultural, em Brasília no dia que a instituição comemora 162 anos de fundação e teve a participação de ex-presidentes da entidade.
Em seu discurso de posse, Rita Serrano criticou a gestão do governo Bolsonaro na instituição e disse que agora a Caixa trabalhará junto ao governo para a “reconstrução do país”.
“A gestão pelo medo na Caixa acabou”, afirmou Rita. acrescentando que “exemplo de resiliência, a Caixa resistiu novamente ao desmantelamento do patrimônio público e à avassaladora política de assédio e medo patrocinada pela gestão do último governo através de seus representantes na direção do banco”.
A presidente empossada se refere aos casos de assédio sexual, moral e de discriminação contra funcionários do banco, praticados pelo ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que foi denunciado por funcionários ao Ministério Público do Trabalho e condenado, em setembro do ano passado, a pagar uma indenização de R$ 30,5 milhões pelos danos causados.
A escolha de Rita Serrano foi feita pelo próprio presidente Lula, que indicou mulheres para os comandos dos dois principais bancos públicos do país. Além da presidente da Caixa, a nova administradora do Banco do Brasil (BB) será Tarciana Medeiros, também funcionária de carreira da instituição.
Financiador de políticas públicas
Vinculado ao Ministério da Fazenda, a Caixa é o principal canal de execução de políticas sociais do governo federal. Isso foi mencionado através das novas ações apontadas pela presidenta da instituição.
Rita elencou as principais ações do banco, como o cumprimento do gerenciamento do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida, buscar a rentabilidade dos negócios com “equilíbrio entre as operações comerciais e as ações de inclusão” e promover a inclusão bancária da população.
Disse ainda que irá investir em projetos culturais, ampliar a parceria com estados e municípios para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura e atuar nas questões de sustentabilidade e humanização das relações de trabalho.
Não estava previsto, mas o presidente Lula fez questão de referendar o que disse a nova presidente sobre a Caixa ser direcionada como veículo financiador de políticas públicas de distribuição de renda e de investimentos públicos. Segundo Lula, o banco vai voltar a cuidar do Brasil e do povo brasileiro.
“A nova Caixa nasce com esse espírito e esse compromisso com a reconstrução do país e a melhoria da qualidade de vida da população”, afirmou Lula.
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O presidente fez questão de ressaltar a paralisia da instituição sob os últimos governos, de Jair Bolsonaro e de Michel Temer, dizendo que irá retomar obras paradas, principalmente de infraestrutura, que começaram em seu governo e que não foram acabadas.
“Pensamos que os outros [Bolsonaro e Temer] iam fazer, os outros não fizeram, e nós voltamos e vamos inaugurar aquilo que nós mesmos começamos a fazer.”
O ministro Fernando Haddad destacou a necessária parceria da instituição financeira como um banco que possibilite ao povo o financiamento habitacional, subsídios para que os trabalhadores podem ter acesso à casa própria entre outros benefícios.
Primeira medida: acabar com crédito consignado pelo Auxílio Brasil
A suspensão de novos créditos consignados com recurso do Auxílio Brasil foi a primeira medida anunciada pela nova presidente da Caixa logo após a cerimônia de posse. O empréstimo bancário foi autorizado, em plena campanha eleitoral pelo então governo Bolsonaro.
Além do uso político da medida, a ação é criticada por especialistas “por enganar os mais pobres e necessitados” do país, pois, “os juros desses empréstimos podem causar prejuízos ainda maiores para os mais carentes”.
À imprensa, Rita Serrano adiantou que a suspensão acontece por duas razões. “A primeira é porque o Ministério do Desenvolvimento Social vai revisar o cadastro (…) e a outra razão é que de fato os juros para essa modalidade consignada é um juro muito alto, então nós estamos também suspendendo para reavaliar essa questão dos juros e ver as possibilidades que existem para tentar baixar esses juros”, acrescentou.
Em nota, a Caixa anunciou que “para quem já contratou, nada muda. As parcelas serão debitadas de maneira regular e de acordo com cada contrato”, diz o comunicado.
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Perfil da nova presidente
Maria Rita Serrano é natural de Santo André-SP, tem 53 anos, é graduada em História e Ciências Sociais, tem mestrado em Administração, funcionária de carreira da Caixa desde 1989. Ela foi presidente do Sindicato dos Bancários do ABC entre 2006 e 2012. Em 2013, ficou como suplente do Conselho de Administração da Caixa.
Em 2017, foi eleita para o Conselho da instituição, cargo que será desligada agora que assumiu a presidência da instituição. Ela também é escritora, autora do livro “Caixa, Banco dos Brasileiros”, em que conta a história da instituição e seu papel na implementação de políticas públicas.