Cultura forte gera emprego e contribui para educação, diz ministra

Cerimônia de posse se impôs pela força dos tambores e da voz marcante de Margareth Menezes anunciando a volta do Ministério que nunca deveria deixar de existir.

Cerimônia de posse ministra da Cultura, Margareth Menezes. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Cada posse ministerial do novo governo Lula impõem sua personalidade e emoção, disputando um lugar especial na memória de quem assiste. No caso de Margareth Menezes assumindo o Ministério que foi extinto num golpe de misericórdia contra toda a cultura nacional, durante o governo Bolsonaro, não podia ser melhor. 

Para além de um evento político, o ato assumiu ares de festival de música e de feira cultural. Foi nesse clima, em um auditório lotado no Museu Nacional, em Brasília, que Margareth Menezes marcou o retorno da pasta ao primeiro escalão do governo federal.

Durante o discurso, a ministra teceu muitas críticas ao governo passado, ao citar a falta de políticas para o setor cultural e o fim de um Ministério que o representasse. Margareth afirmou que a cultura faz parte da base transformadora da sociedade, junto com saúde e educação. Ela ressaltou a falta de compreensão de um governo sobre a importância da indústria cultural como geradora de emprego e renda, assim como fortalecedora dos laços com a educação da juventude.

Margareth afirmou que “nunca mais” a pasta deixará de ser Ministério. “Como aceitar que, de repente, nosso Ministério da Cultura, dessa profunda riqueza, tenha desaparecido por duas vezes do nosso horizonte? Nunca mais.” “Nós merecemos o nosso ministério. O Brasil tem uma das mais ricas, potentes e respeitadas forças de produção cultural do mundo. Que o nosso Minc nunca mais desapareça”, afirmou.

Celebrou o retorno da pasta e falou em “construção de pontes” em prol dos artistas do Brasil. “Vamos construir pontes que levarão a um futuro mais justo para os artistas e para o povo em geral”, disse ela. 

A ministra lembrou das dificuldades enfrentadas pelo setor cultural durante a pandemia e os prejuízos causados aos artistas que tiveram que se manter reclusos.

“Durante a pandemia os artistas brasileiros sofreram como nunca. O prejuízo econômico do setor artístico cultural foi de aproximadamente R$ 63 bilhões, segundo pesquisas recentes. Sem Ministério, sem políticas culturais e sem recursos. Muitos dos mais criativos e sensíveis brasileiros tiveram que deixar os palcos, as telas, as bibliotecas, os ateliês e buscar outras atividades para poder sobreviver. Com isso, o próprio Brasil ficou mais calado, apequenado, triste.”

Para além da conversão do Ministério em Secretaria, a pasta no governo Bolsonaro foi marcado por vexames em que seus representantes frequentemente apelavam a slogans nazifascistas para se referir à cultura. Sob o comando inepto da atriz Regina Duarte, ouvimos a defesa da ditadura militar que tanto mal fez à cultura brasileira e aos artistas. A retórica contra a Lei Rouanet serviu ao desmonta do mecanismo para favorecer diretamente os artistas alinhados com os extremismos de direita do grupo no poder.

Janja

O evento contou com a presença de centenas de pessoas no auditório do Museu Nacional. Entre elas artistas e outros trabalhadores da cultura, além de servidores do Ministério da Cultura. Também estiveram presentes parlamentares, ministros do novo governo e a primeira-dama, Janja Lula da Silva. 

Muito aplaudida, Janja reafirmou a importância da cultura no novo governo. “Nessa caminhada da campanha a gente conversava sobre a importância do setor cultural do Brasil. Em quase todos os municípios que estivemos fizemos reuniões com o setor. Percebemos que tentaram matar a cultura de todas as formas, mas não conseguiram”, disse Janja. “A cultura é peça fundamental da reconstrução do Brasil”.

“A cultura tem muita a ajudar, a contribuir ao Brasil. A cultura não é só para lazer, ela é para gerar economia, para gerar riqueza para o nosso Brasil. E é isso que a gente vai fazer. A cultura não está em nenhum nível menor, ela está igual à educação, à saúde, ela está ali e ela merece”, disse a primeira-dama.

O evento teve seu início marcado por uma performance da Orquestra Alada Trovão da Mata, de Brasília. Com uma percussão forte e entrada marcante, inspirada na tradicional folia de reis, o grupo provocou arrepios inesperados no público, com quem anuncia a festa que vem chegando.

Da mesma forma que começou, a solenidade terminou com música. A expectativa era ouvir a ministra encerrar seu discurso cantando com sua voz grave e carnavalesca. E com apoio das palmas de todos os presentes, Margareth Menezes entoou versos de “Manda Chamar”, de Roberto Mendes. “Manda chamar os índios, manda chamar os negros, manda chamar os brancos, manda chamar meu povo. Para o rei Brasil renascer, renascer de novo”.

Assista à cerimônia na íntegra: