Em meio a indicações ideológicas, SP terá ex-reitor da USP no governo Tarcísio

Ex-reitor da USP será secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação em nova gestão do governo de SP. Confira as indicações mais polêmicas

Secretariado de Tarcísio de Freitas no governo de São Paulo está coalhado de bolsonaristas
O ex-reitor da USP, Vahan Agopyan – Foto Marcos Santos/USP Imagens

O ex-reitor da USP, Vahan Agopyan, será o novo secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação na gestão do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O anúncio no dia 23 foi o último feito, após 22 outras indicações. Vahan tenta trazer algum prestígio para um secretariado composto de personalidades polêmicas, bolsonaristas e reacionárias.

O caráter ideológico de alguns traz aquela sensação de que suas pastas são mero veículo para polemismo estéril. Um perfil que, no governo federal, serviu ao caos e desmonte dos aparelhos de estado, em vez da construção e organização. Outro aspecto que chamou a atenção foi a total ausência de indicações do PSDB, que apoiou a eleição de Tarcísio.

Considerando isso, Vahan pode estar sendo apenas um inocente útil numa pasta que, no governo Bolsonaro, foi esvaziada de recursos financeiros, projetos e planejamento. Por outro lado, sua aceitação revela o receio das universidades estaduais paulistas, algumas das mais produtivas do país em pesquisa científica, diante dos riscos de cortes de orçamento e até privatização. O novo secretário pode ser um intermediador importante para evitar maiores estragos.

Agopyan foi reitor da USP no período de 2018 e 2022. É engenheiro civil formado pela Escola Politécnica (Poli), mestre em Engenharia Urbana e de Construções Civis pela mesma instituição e Ph.D. pela Universidade de Londres King’s College. Professor da USP desde 1975, foi vice-diretor e diretor da Poli; diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT); coordenador de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo e vice-presidente do Conselho Internacional para Pesquisa em Inovação em Edificação e Construção. Agopyan foi pró-reitor de Pós-Graduação da USP, no período de 2010 a 2014, e vice-reitor da Universidade, de 2014 a 2018.

O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, e a vice-reitora da Universidade, Maria Arminda do Nascimento Arruda, divulgaram uma declaração em que demonstram alívio com a indicação. A total falta de resposta de Tarcísio durante a campanha sobre os rumos das universidades e da pesquisa, enquanto Fernando Haddad (PT) expressava claramente os avanços que pretendia na área, deixou a todos os reitores apreensivos.

Na opinião dos gestores da USP, Vahan possui excelentes qualificações acadêmicas e profissionais para estar à frente desta pasta em São Paulo, pois assumiu posições importantes na administração pública estadual e na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e foi diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Como principal dirigente da USP, destacam sua condução desafiadora durante a pandemia da covid-19, mantendo a excelência das atividades acadêmicas e científicas. Além disso, durante sua gestão, como liderança acadêmica, manteve contato constante com as direções da Unesp, da Unicamp e de outras entidades científicas.

Polêmicas

A criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres é uma novidade anunciada com um banho de água fria, conforme este tema se reduz a reafirmação da ideologização de costumes do bolsonarismo. A pasta será comandada por Sonaira Fernandes (Republicanos), vereadora da cidade de São Paulo e ex-assessora de gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro.

“O feminismo é o grande genocida do nosso tempo, essa ideologia imunda mata mais que guerras e doenças. Só uma pessoa cega para a verdade não enxerga isso”, afirmou a vereadora, ainda este mês.

A nova Secretaria surge em meio aos protestos pelo fim da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, criada em 2008. a pasta especializada em PCD será reduzida a uma Coordenadoria de Políticas para Pessoas com Deficiência, que terá o ex-presidente da OAB-SP Marcos da Costa como responsável e ficará sob a alçada da Secretaria de Justiça e Cidadania.

A indicação do deputado federal Guilherme Derrite (PL-SP), conhecido como Capitão Derrite, para a Secretaria de Segurança Pública do Estado foi alvo de críticas inclusive no setor de segurança pública. A indicação do militar da reserva, que é próximo à família do presidente Jair Bolsonaro (PL), teria sido criticada até pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Como deputado, ele é conhecido pelas declarações atacando o sistema eleitoral e o presidente eleito Luis Inácio Lula da Silva, alinhado com as posições antidemocráticas de seu partido. Tarcísio alega que essas atitudes cabem ao parlamentar, mas não ao executivo. No entanto, os movimentos sindicais já apontam para o caráter repressivo que as polícias devem assumir para facilitar as privatizações anunciadas por Tarcísio.

O policial militar também defende que os policiais tenham “cinco mortes nas costas”, num indicativo de que favorecerá a letalidade policial, a impunidade e o controle, assim como deverá defender a retirada das câmeras dos uniformes. Sua baixa patente também gerou constrangimento nos comandos superiores das polícias.

Outros militares arrastados para o governo de São Paulo são o ex-chefe do Centro de Operações da Polícia Militar, Marcello Streifinger, que cuidará da pasta de Administração Penitenciária e é ligado ao bolsonarista Derrite. Já a coronel da PM, que foi chefe da Casa Militar e cotada para vice de Tarcísio, Helena Reis, irá ocupar a Secretaria de Esporte.

A criação de uma “superpasta” unindo as atuais secretarias de Logística e Transportes com a de Infraestrutura e Meio Ambiente, sob o comando da procuradora Natália Resende, chamou a atenção. A fusão das pastas causou críticas entre ambientalistas preocupados que as pautas ambientais percam ainda mais protagonismo.

Pastas com indicações de ex-auxiliares do ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, também são observadas com atenção pelo perfil de financeirização, fiscalismo e privatista. É o caso de Gestão e Governo Digital (Caio Paes de Andrade), Desenvolvimento Econômico (Jorge Lima), Negócios Internacionais (Lucas Ferraz), Fazenda e Planejamento (Samuel Kinoshita) e Parcerias e Investimentos (Rafael Benini). Kinoshita era assessor especial de Paulo Guedes e ocupou o lugar que Tarcísio queria para o ministro de Bolsonaro. Guedes recusou o convite para cuidar de suas empresas.

Outra indicação bolsonarista foi José Vicente Santini, que será chefe do escritório de representação em Brasília. Santini era assessor especial de Bolsonaro, e foi exonerado por usar avião da FAB para viagem oficial.

Na Educação, o perfil de extrema-direita de Renato Feder causou reações nos movimentos sociais e categorias sindicais, que preparam resistência a suas políticas implementadas no Paraná.

Feder defende um projeto de parcerias com empresas privadas para a gestão de escolas da rede pública de ensino. Para 2023, o Governo do Paraná abriu em edital para selecionar empresas para auxiliarem na gestão educacional de 27 escolas estaduais. Foi também na gestão de Feder que ocorreu a implantação de escolas cívico-militares no Paraná. Além disso, conforme o governo, o secretário atuou na implantação de aulas de programação, empreendedorismo e educação financeira no currículo estadual.

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