Música pode criar pontes, diz pastor que estará no show da posse de Lula
Kleber Lucas, que gravou com Caetano Veloso, fala sobre a onda reacionária que tomou conta do país e da igreja evangélica com o bolsonarismo e da expectativa com a posse de Lula
Publicado 20/12/2022 16:55 | Editado 20/12/2022 18:22
Com participação confirmada no Festival do Futuro, que acontece durante a posse do presidente Lula no dia 1º de janeiro, o pastor Kleber Lucas tem tido papel estratégico interlocução da esquerda com o setor evangélico, contaminado nos últimos quatro anos pelo ideário reacionário do bolsonarismo. “A música tem este poder de criar pontes, a medida em que ela se propõe em ser uma mensagem de construção, uma mensagem conciliatória”, analisa, em entrevista concedida ao jornal Correio Braziliense e publicada nesta terça-feira (20).
Em parceria com Caetano Veloso, Kleber Lucas lançou a música “Deus Cuida de Mim”, cujo clipe oficial já ultrapassou 1,4 milhão de visualizações no Youtube. Negro de origem pobre, nascido em São Gonçalo (RJ) e criado em favelas, o pastor e cantor já passou fome e hoje é mestre e doutorando em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Negro no Brasil vive uma luta diária contra o racismo estrutural”, lamenta.
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Na entrevista, Kleber Lucas falou sobre o que o país enfrentou nos últimos anos sob o governo de Jair Messias Bolsonaro (PL): “tem muita gente que investe no ódio como ferramenta de promoção política, social e econômica”.
Para ele, isso se relaciona com duas questões. “Existe uma inclinação de um projeto de poder, que quer se estabelecer a todo custo. E existem pessoas que estão dizendo que não aceitam isso. Hoje, no Brasil, as vozes nos setores periféricos estão sendo ouvidas. E, para isso, muitas vezes há necessidade de um confronto, intimidações, disputa de espaço. São dois cenários: um de movimento reacionário e, por outro lado, vozes periféricas excluídas da sociedade durante muito tempo que decidiram se levantar e se reafirmar. Sou muito a favor disso”.
Com relação à contaminação do meio evangélico pelo bolsonarismo, o pastor destacou que há “uma onda de intolerância, hostilidade, fundamentada e pautada em uma (suposta) defesa bíblica. Levantam o nome de Deus, Jesus, marchando por Jesus. Uma linguagem muito belicosa. Profundamente beligerante e isso está dentro do ambiente religioso. E se torna mais nocivo quando percebe que as pessoas não estão trazendo apenas ideias, e sim crenças”.
Sobre o pleito deste ano, Kleber Lucas salientou: “Foi uma eleição muito difícil, Lula estava falando que foi a mais difícil da vida dele. E acredito que sim. Tinha um outro aparato fundamentalista, escatológico, messiânico, recurso que nunca tinha sido usado antes, no contexto na luta do bem contra o mal, metafísica. Grupos de extrema direita, falando que nós vamos descobrir quem é o Deus verdadeiro. Saiu do plano da democracia, do debate, da dialética e passou para um plano metafísico, espiritual. Foi muito desafiador”.
Kleber Lucas também falou sobre suas expectativas com o Festival do Futuro: “Para mim, será uma grande festa da democracia, da solidariedade, de um riso que foi silenciado durante seis anos, desde o golpe. Estamos com uma expectativa muito grande. Todo mundo do meio artístico que se encontra, se abraça como se nós nos conhecêssemos há muito tempo, vivêssemos sempre juntos. Acho que vai ser muito lindo, o presidente Lula tem uma história marcada por entrega, de amor pelo Brasil. Então, é um resgate da democracia, a alegria não vai parar, vai continuar. Estou muito feliz de fazer parte disso”.
Com Correio Braziliense
(PL)