Gestora da Casa de Rui Barbosa é demitida após dossiê contra Mário Frias

A presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), jornalista Letícia Dornelles, foi demitida nesta quarta-feira (14) pelo secretário nacional de Cultura, André Porciúncula (PL-BA). A jornalista ocupava o cargo desde 2019 sob indicação do deputado pastor Marco Feliciano (PL).

Segundo informações do Estadão, a gota d´água para demissão aconteceu na última semana após visita técnica que membros do grupo de transição da Cultura fizeram à instituição. Na ocasião, Letícia entregou ao grupo um suposto dossiê com críticas contra seu ex-chefe, Frias, “bolsonarista raiz” que chefiou a Secretaria de Cultura por dois anos.

A exoneração de Dornelles, de acordo com o Uol, se deve à uma série de desavenças entre ela e Frias – e com o próprio Porciúncula. Quando Frias assumiu, em 2020, as tensões entre os dois começaram. Ela reclamava que era desrespeitada pelo ex-secretário e seus assessores. Os conflitos se estenderam até março desde ano, quando Frias deixou o cargo para concorrer a uma vaga de deputado federal pelo PL em São Paulo, onde foi eleito.

Apesar dos desentendimentos, a expectativa era de que ela permanecesse no cargo até 31 de dezembro, quando acaba o mandato presidencial. Mas a situação da ex-gestora ficou insustentável na segunda-feira (9) após ela se reunir, pela manhã, com três membros do GT da Cultura, os deputados federais Marcelo Calero (PSD-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Tulio Gadelha (Rede-PE).

Segundo apuração do Uol, o GT se reuniu com Leandro Jaccoud, presidente da Associação de Servidores da Casa, designado para repassar informações sobre a fundação. Porém, ao saber da presença do grupo no local, Dornelles foi até eles e começou a criticar Frias em voz alta. Dentre as reclamações, ela falou sobre uma suposta confusão com o antigo chefe, quando teria sido vítima de assédio moral e sabotagem em um projeto que desejava implementar. Para comprovar as informações, ela teria entregado impressões de e-mails trocados com Frias.

Ao SBTnews, a ex-presidente disse ainda que durante a gestão de Frias a FCRB funcionou sem fiscalização federal por pelo menos 9 meses, e que o parlamentar não permitia que auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) examinassem as contas da instituição.

“Sempre fui boicotada pelo Frias e a fundação foi prejudicada. Eu mandava o pedido [para a fiscalização] e ele segurava. Muitas irregularidades. Cortes de verbas”, diz Letícia sobre a gestão do atual deputado.

Dornelles afirma que sua demissão aconteceu após entregar um “relatório” com o panorama da instituição membros do GT. Nesse documento, segundo Letícia, há informações sobre os projetos, orçamento e metas cumpridas.

“Mário Frias não é mais secretário, mas manda na pasta. Mandou me exonerar porque a imprensa disse que recebi a equipe de transição e dei um dossiê contra ele. Não fiz dossiê. O mesmo relatório que enviei ao MTUR [Ministério do Turismo] dei aos deputados [do grupo da transição]. Há fatos graves”, disse a ex-diretora.

Ameaças
Horas depois da publicação, Dornelles se manifestou pelo Twitter dizendo que recebeu ameaças após entregar o dossiê contra Frias, mas evitou citar nomes.

Fundação Casa de Rui Barbosa

A Casa de Rui Barbosa fica no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, e é considerada uma das mais importantes instituições de cultura e preservação de documentos do Brasil.

Ela abriga correspondências originais de escritores como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Manuel Bandeira, além da biblioteca original da residência do jurista que dá nome à fundação.

Letícia Dornellas

Nascida no Rio Grande do Sul, Dornelles é jornalista, roteirista, escritora e autora de TV. Na Globo, foi coautora das novelas “Por Amor” e “Andando nas Nuvens” e repórter nos programas Globo Esporte e Fantástico. Também assinou reportagens em jornalísticos da emissora e passou por outros canais, como Record TV e SBT.