Bolsonaro termina desgoverno com alta de 60% no desmatamento na Amazônia

Nesta quarta-feira (30), o Inpe divulgou a estimativa para o ano de 2022: 11.568 km² devastados, área equivalente à da Jamaica

Area de desmatamento e queimda e vista as margens da rodovia BR 230 no municipio de Apui, Amazonas. Foto: Bruno Kelly/Amazonia Real.

Para evitar a divulgação antes da 27ª Conferência do Clima (CPO27), realizada no Egito, o desgoverno Bolsonaro escondeu, desde o dia 3 deste mês, os dados sobre a taxa de desmatamento da Amazônia dos últimos quatro anos, pois eles apontam para um aumento de 59,5% da devastação.

Nesta quarta-feira (30), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou a estimativa para o ano de 2022: 11.568 km² devastados, área equivalente à da Jamaica. Nos quatro anos de governo Bolsonaro, 45.586 km² de florestas foram destruídas – uma área maior que a Holanda ou perto de oito vezes a extensão do Distrito Federal. A taxa de desmatamento se refere ao período entre agosto de 2021 e julho de 2022.  

Apesar da queda de 11% este ano em relação a 2021, há 13 anos não era registrada uma taxa tão alta nos nove Estados da Amazônia Legal. A média anual sob Bolsonaro foi de 11.396 km², contra 7.145 km² no período anterior (2015-2018).

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“Parte dessa redução pode ser explicada por ações de controle de órgãos estaduais de meio ambiente, mas parte também pode ser explicada pelo aumento das chuvas em Mato Grosso e Pará”, comentou Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima (OC).

Os estados que lideraram a destruição no período foram o Pará (4.141 km²), Amazonas (2.607 km²) e Mato Grosso (1.906 km²). O maior aumento de desmatamento estimado ocorreu no Amazonas com 13,1% a mais em relação a 2021. O estado foi o único a ter aumento no corte raso neste ano.

De acordo com OC, trata-se da maior alta percentual num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988. “Bolsonaro superou até mesmo o aumento visto no primeiro governo FHC, quando o forte aquecimento da economia no início do Plano Real causou o maior desmatamento da série histórica, de 29 mil km², em 1995”, diz nota da organização.

“O regime Bolsonaro foi uma máquina de destruir florestas. Pegou o país com uma taxa de 7.500 km² de desmatamento na Amazônia e o está entregando com 11.500 km². A única boa notícia do governo atual é o seu fim”, afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Governo Lula

O ambientalista diz que os números indicam que a devastação continua fora de controle. “Jair Bolsonaro deixará para seu sucessor uma herança maldita de desmatamento em alta e uma Amazônia conflagrada. Se quiser ver os números de destruição florestal diminuírem em 2023, Lula terá que ter tolerância zero com o crime ambiental desde o primeiro dia de seu governo. E isso inclui responsabilizar judicialmente aqueles que sabotaram a governança ambiental no país enquanto ocuparam o governo nos últimos quatro anos “, afirmou Astrini.

Especialista de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Raul do Valle, diz que a explosão do desmatamento durante o governo Bolsonaro é resultado do abandono do sistema de proteção ambiental.

“Nos últimos anos, o desmatamento associado a atividades ilegais aumentou exponencialmente por conta da redução de fiscalização e o desmonte dos órgãos ambientais. Os números consolidados pelo sistema PRODES sobre o desmatamento da Amazônia confirmam que é urgente a retomada dos mecanismos de comando e controle”, afirmou Valle.

Para ele, o novo governo precisa emitir um sinal claro de que nenhum desmatamento será tolerado e reconstruir todo o arcabouço de proteção que foi destruído. “Esse caminho é vital para que o Brasil garanta sua segurança climática e retome seu papel de liderança nas questões ambientais, no cenário internacional”, acrescentou.

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