Queda na vacinação de bebês aponta para baixo acesso de mães ao sistema de saúde

Vacinação abaixo da meta revela risco de aumento da mortalidade infantil. Bolsa Família era instrumento de garantia de acesso materno-infantil ao sistema de saúde.

Foto: João Viana / Semcom FotosPúblicas

Segundo um novo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a vacinação contra difteria, tétano e coqueluche não atinge a meta no Brasil desde 2013. Os dados vêm do VAX*SIM, um estudo do Observa Infância, concentrado em monitorar a cobertura vacinal em crianças menores de 5 anos no Brasil. Em 2021, apenas 75% das crianças menores de um ano receberam o imunizante, a segunda menor taxa desde 1996. O recorde negativo foi registrado em 2019, quando 73% da população-alvo foi vacinada com a DTP.

Além da gravidade habitual deste índice, que aponta para o risco de aumento de mortalidade infantil totalmente evitável, a baixa adesão à vacinação com a tríplice bacteriana (DTP) também aponta para outro problema. “A vacina é um indicador de acesso aos serviços de saúde, uma vez que deve ser administrada dentro dos dois primeiros meses de vida do bebê, quando visitas ao pediatra são mais frequentes e o acompanhamento por profissionais de saúde da atenção básica é mais intenso”, explica a pesquisadora Patricia Boccolini, coordenadora do Observa Infância. 

Em maio deste ano, a Fiocruz já havia denunciado que duas em cada três mortes de bebês de até 1 ano poderiam ser evitadas no Brasil com ações como vacinação, amamentação e acesso à atenção básica de saúde. O país registra, nessa faixa etária, mais de 20 mil óbitos anuais por causas evitáveis, como diarreia e pneumonia, e vê aumentar o risco à saúde das crianças com a queda da cobertura vacinal. Patrícia apontou que o programa Bolsa Família é uma importante ferramenta para garantir a frequência e acompanhamento das mães e bebês ao sistema de saúde.  

Para chegar à informação, a análise coordenada pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância/Fiocruz) utilizou como base os dados do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

A cobertura da vacina está em queda constante há nove anos, e a equipe sugere que essa queda acenda um alerta para o retorno de casos graves das doenças contra as quais a vacina protege, que podem levar a óbitos.

A queda na cobertura vacinal acende um alerta para o retorno de casos graves das doenças contra as quais a vacina protege, que podem levar a óbitos. Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) apontam que, entre 2012 e 2021, 28 crianças entre seis meses e três anos morreram de coqueluche no Brasil. Já o tétano, matou outras três, enquanto a difteria fez cinco vítimas nessa faixa etária no período analisado.

A tríplice bacteriana inaugurou o calendário básico de imunização infantil no Brasil, em 1977, e fez parte da rotina de cuidados de várias gerações de bebês no país. No entanto, em 2021, apenas 75% das crianças menores de um ano receberam o imunizante, a segunda menor taxa desde 1996, o que levanta preocupação por parte dos especialistas.

Difteria, tétano e coqueluche

Segundo o Ministério da Saúde, a difteria é causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae e atinge as amígdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, outras partes do corpo, como pele e mucosas. Dependendo do tamanho e de onde as placas aparecerem, a pessoa pode sentir dificuldade de respirar. 

Os principais sintomas da difteria são membrana grossa e acinzentada, cobrindo as amígdalas e podendo cobrir outras estruturas da gargante, dor de garganta discreta, gânglios inchados, dificuldade em respirar ou respiração rápida em casos graves, palidez, febre e mal-estar geral.

Já a coqueluche é uma infecção respiratória, também causada por bactéria (Bordetella pertussis), e caracterizada por crises de tosse seca, embora possa atingir, também, tranqueia e brônquios. Crianças menores de seis meses podem apresentar complicações da coqueluche que, se não tratada corretamente, pode levar à morte.

Os sintomas envolvem mal-estar geral, corrimento nasal, tosse seca e febre baixa, mas dependendo da gravidade do caso, a tosse passa de leve e seca para severa e descontrolada, e pode ser tão intensa que pode comprometer a respiração.

Por sua vez, o tétano é uma infecção causada pela toxina do bacilo tetânico (Clostridium tetani), que entra no organismo através de ferimentos ou lesões de pele. A Fiocruz explica que, quando os músculos do pescoço são atingidos, há dificuldade de deglutição. No caso de contratura muscular generalizada e rigidez muscular progressiva, são atingidos os músculos reto-abdominais e os do diafragma, o que leva à insuficiência respiratória.

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