Haddad acua Tarcísio, em debate da Globo
O candidato do Republicanos sentiu o peso de ter que se defender do bolsonarismo, de suas propostas equivocadas, da falta de vínculo com São Paulo e dos erros da campanha.
Publicado 28/10/2022 16:08 | Editado 29/10/2022 17:50
O ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) participaram, nesta quinta-feira (27), do último debate televisivo do segundo turno na disputa pelo governo de São Paulo. No encontro da TV Globo, mediado pelo jornalista César Tralli, os candidatos ao Palácio dos Bandeirantes, mais uma vez, polarizaram para conquistar os eleitores nesta reta final da campanha. Os temas estaduais foram abordados no embate sobre a privatização da Sabesp, o transporte sobre trilhos, a merenda das escolas e as obras de infraestrutura.
Com o acirramento da disputa, conforme Tarcísio perde espaço e Haddad avança nas intenções de voto, o bolsonarista resolveu voltar ao confronto. Tarcísio não compareceu ao último debate do Estadão, SBT e pool de veículos, no dia 14 de outubro. A mais recente pesquisa Ipec mostrou diferença de três pontos porcentuais entre os dois candidatos, tecnicamente empatados dentro da margem de erro – Tarcísio com 46%, ante 43% de Haddad.
Paraisópolis
Tarcisio tentou arrastar o debate para uma zona cinza, porque lhe interessa um debate sem novidades. Mas Haddad esquentou o confronto, quando questionou Tarcísio sobre o tiroteio em Paraisópolis. Ele questionou porque foi feito o pedido por sua equipe de segurança para que o cinegrafista apagasse as imagens registradas no local. Há suspeitas de que houve tentativa de forjar um atentado político para se favorecer na disputa. Haddad foi ao ponto quando caracterizou como crime a destruição de provas que ajudariam a investigar a morte em Paraisópolis.
“Se você tem uma imagem que você acha que pode colocar em risco a vida de alguém para quem você leva? Você apaga ou leva para alguma autoridade policial? É a autoridade que decide manter ou não em sigilo aquela imagem. Esse procedimento que ele acabou de relatar é um absurdo”, questionou o petista.
O ex-ministro teve dificuldade de ser convincente. Reclamou que o adversário estava sendo sensacionalista ao trazer a história para o debate, mas ficou totalmente desconcertado. Toda a imprensa tem destrinchado o caso devido a evidências de armação envolvendo morte, apesar das acusações de sensacionalismo. Na defensiva, o bolsonarista teve pouco tempo para reagir, por isso tentou voltar ao assunto, até quando o tema era emprego.
Ser ou não ser Bolsonaro
Haddad abriu o debate com temas nacionais, como o salário mínimo, dizendo que vai aumentar no estado, e sobre o SUS. Na sequência, entrou com tema crítico ao bolsonarismo, sobre a vacinação das crianças. O candidato do Republicanos já disse que é contra a obrigatoriedade da vacinação infantil.
Um candidato na defensiva é sempre o derrotado em um debate. Desde o início, esta era a situação de Tarcísio tentando se esquivar de perguntas sobre a gestão desastrosa de Jair Bolsonaro, como a vacinação e a desvalorização e desvinculação do salário mínimo da inflação. A política de reajuste do mínimo previa correção com base na inflação do ano anterior mais um aumento com base na variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Essa política foi mudada em 2019, no primeiro ano do atual governo.
Tarcísio tentava se desvincular de Bolsonaro, mas acabava recorrendo à experiência no governo federal, durante o comando do Ministério da Infraestrutura. O petista dominou a pauta do debate, sem deixar que o adversário impusesse seus temas de interesse. Também fragilizava sua atuação no governo ao questionar a falta de obras em São Paulo. “Em três anos, você fez 10 metros de asfalto no Sudeste inteiro. E você conclui 4 anos de mandato com 18 quilômetros de asfalto em São Paulo”.
Agenda negativa
Assim como Bolsonaro tem criado complicações para sua campanha todas as semanas, sempre vinculado a episódios de violência, autoritarismo e desrespeito a instituições, Tarcísio também criou as suas. Paraisópolis, Sabesp e o próprio Bolsonaro foram pesos que ele teve que carregar durante todo o debate.
Haddad foi contundente ao questionar a incapacidade de uma resposta ágil no caso da falta de oxigênio hospitalar em Manaus durante um pico da pandemia de covid-19. Tarcísio tentou justificar que não é possível transportar oxigênio por avião. Haddad demonstrou o contrário e se indignou com a demora que levou a mortes por sufocamento. A própria FAB enviou aviões, depois que o Ministério da Saúde dizer que não era sua atribuição fazer isso. Apenas um dos voos da aeronave C-130 Hércules da FAB, por exemplo, carregou 24,5 toneladas de cilindros de oxigênio.
Identidade paulista
O ex-prefeito conseguiu cutucar pontos sensíveis de Tarcísio, como a proposta de privatização da Sabesp, um tema delicado para os eleitores, que temem o aumento das tarifas. A falta de identidade do candidato com o estado também foi retomada por Haddad, lembrando ao eleitor que Tarcísio mudou o domicílio eleitoral recentemente. Ele demonstrou como isso importa, na medida que o candidato não conhece as especificidades de cada região paulista e seus problemas.
Haddad o caracterizou de paraquedista, demonstrando a artificialidade de sua candidatura, repetindo frases prontas típicas do bolsonarismo entediando o eleitor com tecnicismos. Acaba sempre soando como o aluno que decorou parte do conteúdo da prova, mas não sabe do que está falando.
Jargões bolsonaristas
Uma tentativa frágil de acuar Haddad, foi quando Tarcísio apelou para o velho tema do MST, que até Bolsonaro admite que não pega mais. Também resgatou a desinformação bolsonarista sobre investimentos do BNDES em obras de infraestrutura em outros países. As obras são consideradas extremamente rentáveis para o Brasil. Haddad foi sucinto e mudou para temas mais candentes como vacinação. Quando o candidato do Republicanos citou que um morador de rua morreu de frio durante a gestão de Haddad, ele falou que Tarcísio não podia entrar nesse tema da habitação, já que o “governo Bolsonaro acabou com o Minha Casa Minha Vida”.
Haddad também demonstrou que Tarcísio está intimamente ligado ao desmonte do ‘Minha Casa, Minha Vida’, substituído pelo ‘Casa Verde Amarela’ de Bolsonaro. Apesar do programa bolsonarista ter tido dotação orçamentária do governo federal de R$ 665,1 milhões em 2022, o governo reduziu em 95% a verba do programa para 2023, praticamente extinguindo-o.
Explorando a falta de reajuste do salário mínimo nacional durante o governo Bolsonaro, Haddad voltou ao tema diversas vezes. Disse que vai reajustar o salário mínimo paulista, para R$ 1.580. Tarcísio disse que economia não se resolve “na canetada”.
Haddad criticou os juros altos do empréstimo consignado oferecido pelo governo aos beneficiários do Auxilio Brasil. Para ele, o beneficiário está sendo “espoliado” por Bolsonaro. “Esse consignado que estão fazendo… Fizemos consignado para quem recebia contracheque no banco, foram as taxas mais baixas de juro já praticadas. Vocês estão fazendo no período eleitoral, estão fazendo consignado para arrancar o couro do beneficiário do Auxilio Brasil. O juro do consignado do Auxílio Brasil está chegando na casa do cheque especial. A quem estão pensando favorecer? O trabalhador que não consegue terminar o mês ou o banco que endivida as famílias. Concorda com a taxa de juros cobrada?”, questionou Haddad. Tarcísio desconversou dizendo que se fosse ruim, o povo ia reclamar e judicializar.
“Compare o que eu fiz por São Paulo com que o meu adversário fez. Rigorosamente nada. Teve 4 anos e voltou as costas para o estado que só recentemente ele decidiu ser governador. Ia ser senador lá em Goiás, decidiu na última hora vir para cá. Não é assim que se trata um estado da importância de São Paulo. São Paulo é muito importante para o Brasil. Eu tenho certeza que quando houver harmonia entre o governo federal e o governo estadual e programas de educação, de saúde, nós vamos fazer acelerar o ritmo da mudança. O Brasil está crescendo 1% ao ano nos últimos 4 anos, nós crescemos 4%, gerando emprego de qualidade. Foram mais de 20.000.000 de postos de trabalho formais. Nem estamos contando informal, nós precisamos voltar a sonhar grande, pensar grande. Esse estado é grande. Esse estado pode muito mais”, concluiu Haddad em suas considerações finais.