Milton Nascimento, “a voz de Deus”, completa 80 anos
No dia 13 de novembro, o artista apresenta o último show da turnê “A Última Sessão de Música”, no estádio do Mineirão, em BH, encerrando sua missão em cima nos palcos
Publicado 26/10/2022 17:54 | Editado 26/10/2022 17:55
Reconhecido mundialmente como uma das mais importantes referências da música popular brasileira (MPB), Milton Nascimento completa 80 anos nesta quarta-feira, 26 de outubro de 2022. Dono de um talento incomparável, composições marcantes e seis décadas de carreira, o cantor e compositor anunciou sua despedida dos palcos para este ano.
Em pouco menos de um mês, no dia 13 de novembro, quando apresentar o último show da turnê “A Última Sessão de Música”, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, Milton Nascimento, encerrará sua em cima missão nos palcos. No entanto, ele disse que não vai parar. A despedida é dos palcos, não da música.
“Sou muito grato pelo tanto que trabalhei e conquistei em todos esses anos de carreira. Foram muitos anos de estrada. Comecei como crooner aos 13 anos de idade e não parei mais. Já são mais de 60 anos viajando pra tudo quanto é lugar, então acho que chegou a hora.”, disse ao GZH durante sua passagem por Porto Alegre. “É como tenho dito sempre: me despeço dos palcos, da música jamais”, concluiu.
Durante sua trajetória, o Bituca, como gosta de ser chamado, gravou 42 discos, teve cinco premiações do Grammy, tendo sido nove vezes indicado, foi homenageado com o título de Doutor Honoris Causa em música pela Universidade de Berklee, de Boston, além de construído uma carreira internacional gigante, cantando ao lado de nomes como Wayne Shorter, Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter, Mercedes Sosa, Fito Paez, Peter Gabriel, James Taylor, Sting, Paul Simon, Jon Anderson, Duran Duran e Björk.
Milton despontou na música brasileira na era dos festivais. A projeção nacional veio em 1967, quando venceu o Festival Internacional da Canção com a música Travessia, composta ao lado de Fernando Brant. Mas antes disso Milton já circulava pela cena musical. Em 1964, havia composto e gravado, Barulho de Trem, e, em 1965, composto Canção do Sal, gravada em 1967 por Elis Regina.
Apesar de todas as suas grandes canções, muitas delas essenciais quando se fala de MPB — Maria, Maria, Caçador de Mim, Canção da América, Coração de Estudante, Encontros e Despedidas e Nada Será Como Antes, estão entre algumas —, foi pela voz que ele conquistou o Brasil. Milton tem a “voz de Deus”, como disse Elis Regina certa vez, afirmando que “se Deus cantasse, seria com a voz de Milton”. Além de Elis Regina também dividiram palco com o artista grandes nomes da música brasileira, incluindo Maria Bethânia, Gal Costa, Jorge Ben Jor, Mercedes Sosa, Caetano Veloso, Tom Jobim, Simone, Chico Buarque, Clementina de Jesus, Gilberto Gil, Beto Guedes, Criolo, Angra, entre outros.
Clube da Esquina
Na década de 60, Milton formou o Clube da Esquina junto aos seus grandes amigos, os irmãos Lô e Márcio Borges. Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Tavinho Moura, Beto Guedes, Flávio Venturini e Toninho Horta, também faziam parte do coletivo musical. Os dois discos lançados por eles foram marcados por inovações de estilo, arranjo e repertório, tendo como influência a música dos Beatles.
Nessa mesma época o grupo começou a sentir a pressão da ditadura militar e entram na mira do governo devido suas letras de protesto. Seu disco de 1973, Milagre dos Peixes, teve quase todas as letras censuradas e acabou saindo com várias faixas apenas instrumentais. Para fugir dessa perseguição, Milton passou a fazer shows promovidos por diretórios estudantis. Em 1978, Milton foi o primeiro a gravar “Cálice”, com Chico Buarque, tão logo a letra foi liberada.
Ao longo dos anos, Milton gravou outros discos que se tornaram clássicos da MPB, como Minas (1975), Geraes (1976) e Caçador de Mim (1981). Sua gravação de “Coração de Estudante”, composta em parceria com Wagner Tiso, se tornou o hino das Diretas Já (movimento de reivindicação por eleições diretas, em 1984).
Muito admirado no exterior, Milton também tem uma carreira internacional de sucesso. Ainda em 1968, ele gravou o disco “Courage”. Na década de 1974, gravou o album “Native dancer” em parceria com o saxofonista Wayne Shorter. Além dessas obras, o brasileiro colaborou com nomes de peso, como Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter, Mercedes Sosa, Fito Paez, Peter Gabriel, James Taylor, Sting, Paul Simon, Jon Anderson e Duran Duran.
Ranking Musical
Em homenagem aos 80 anos e Milton Nascimento, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) realizou um levantamento sobre as músicas do artista. De acordo com a instituição, Milton Nascimento possui 401 obras musicais e 1.191 gravações cadastradas no banco de dados da gestão coletiva da música no Brasil.
Além disso, o estudo mostrou que “Maria Maria”, uma parceria com Fernando Brant, foi a música de Milton mais regravada até hoje, com 144 gravações cadastradas no banco de dados do Ecad, e a sua canção mais tocada no Brasil, nos últimos 10 anos, nos principais segmentos de execução pública. Lançada em 1978, no álbum “Clube da Esquina 2”, a canção é um dos clássicos da carreira do artista.
Veja abaixo o Ranking das músicas de Milton Nascimento mais tocadas no Brasil nos últimos 10 anos nos principais segmentos de execução pública (Rádio, Sonorização Ambiental, Casas de Festa e Diversão, Carnaval, Festa Junina, Show e Música ao Vivo)
- Maria Maria – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Clube da esquina N. 2 – Marcio Borges / Lo Borges / Milton Nascimento
- Encontros e despedidas – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Canção da América – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Travessia – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Nos bailes da vida – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Bola de meia, bola de gude – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Nada será como antes – Ronaldo Bastos / Milton Nascimento
- Coração de estudante – Wagner Tiso / Milton Nascimento
- O cio da terra – Chico Buarque / Milton Nascimento
- Cuitelinho – Paulo Vanzolini / Antonio Xando / Wagner Tiso / Milton Nascimento
- Fé cega, faca amolada – Ronaldo Bastos / Milton Nascimento
- Paula e Bebeto – Caetano Veloso / Milton Nascimento
- Cravo e canela – Ronaldo Bastos / Milton Nascimento
- Ponta de areia – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Canções e momentos – Fernando Brant / Milton Nascimento
- Clube da esquina – Marcio Borges / Milton Nascimento / Lo Borges
- Certas canções – Tunai / Milton Nascimento
- Vera cruz – Milton Nascimento / Marcio Borges
- Cais – Ronaldo Bastos / Milton Nascimento