Em defesa do SUS, médicos declaram apoio a Lula e Alckmin
Críticas ao desmonte bolsonarista na Saúde: no Dia do Médico, mais de 150 profissionais e representantes de entidades se reuniram em São Paulo
Publicado 18/10/2022 21:26 | Editado 19/10/2022 11:16
Centenas de profissionais da saúde e dezenas de entidades (veja lista ao final) do setor declararam apoio à chapa composta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ex-governador Geraldo Alckmin. O anúncio ocorreu durante encontro entre lideranças e o ex-governador de São Paulo nesta terça-feira (18), Dia do Médico.
O candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) reuniu cerca de 200 pessoas entre médicos de destaque, parlamentares, empresários da saúde, gestores públicos e movimentos ligados ao SUS. No encontro, Alckmin assumiu compromisso de maior financiamento federal para a área, alegando que não seria “possível cumprir a missão civilizatória do SUS apenas com 3,8% do PIB para a saúde”.
Em seu discurso, Alckmin, que é médico, também lembrou que faltam apenas 12 dias para o segundo turno. No seu entendimento, a missão dos profissionais da saúde é conversar com eleitores, tanto os indecisos quanto os que votaram no adversário, para alertar dos riscos que o país atravessa, como o perigo iminente da volta da poliomielite, simplesmente pela baixa cobertura vacinal.
“O futuro não é destino, não é sina, ele depende da gente, vamos conversar com as pessoas. Nós temos argumentos! A inflação, por exemplo, não é socialmente neutra, ela tira dos mais pobres enquanto os ricos se protegem”, disse.
“Nunca tivemos um governo com tanto desprezo pela Saúde. Atrasando compra de vacinas, debochando do sofrimento de brasileiros e cortando verbas até do Farmácia Popular”, disse Alckmin.
O ex-governador falou ainda sobre os desafios de longo prazo para a área, frente a fatores como as mudanças demográficas e epidemiológicas. Ele afirmou que o governo federal está saindo “discretamente” do financiamento à saúde, à medida que não corrige a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), e que Lula está “assumindo o compromisso direto de melhorar a gestão e o financiamento da saúde”.
Ele lamentou a atuação de algumas entidades médicas e disse que seria preciso “chamá-las à responsabilidade”, referindo-se a posições anticiência durante a pandemia e que podem estar contribuindo para a diminuição das coberturas vacinais no Brasil. Alckmin disse que “estamos vivendo um retrocesso” e afirmou que o resultado da campanha antivacina “está aí”. “É uma irresponsabilidade absurda.”
O ex-governador lembrou sobre os feitos dos governos Lula na Saúde Pública e pediu os votos dos profissionais no petista.
“Nos tempos do Lula o investimento no SUS saltou de R$ 65 bilhões em 2003 para R$ 103 bilhões em 2010. Criou o Samu e dobrou a cobertura do Saúde da Família. O Brasil precisa de um presidente que se dedique a cuidar das pessoas, como fazemos nós médicos. Vamos juntos”.
“Governar é escolher e a saúde é o item mais relevante. Nós temos que melhorar a gestão e o financiamento, e o presidente Lula assumiu esse compromisso de maneira direta”, garantiu Alckmin.
No encontro, a desastrosa condução da pandemia por parte de Jair Bolsonaro e o descrédito do atual presidente na ciência e nas vacinas foram os temas debatidos. Uma fala do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, pontuou bem o objetivo do encontro: “Com Lula e Alckmin o SUS voltará a respirar, e depende de nós, médicos e médicas, construir essa vitória no dia 30”.
Com Alckmin sentado ao centro, a mesa principal foi composta por Rubens Belford, ex-presidente da Academia Nacional de Medicina, Aytan Sipahi, da Universidade de São Paulo (USP), Eline Etel Fonseca, da Rede Nacional Médicos Populares, Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Adolescentes do estado de São Paulo, Marianne Pinotti, ex-diretora da mastologia do hospital Pérola Byington, Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde, Alexandre Telles, presidente do sindicato dos médicos do Rio de Janeiro, além do renomado doutor Drauzio Varella.
Abrir os olhos
Durante o evento, em São Paulo, os profissionais da saúde se pronunciaram contra as medidas tomadas pelo governo Bolsonaro na pandemia, a favor da ciência, da vacinação, do SUS, da democracia e de políticas focadas na saúde da mulher. No encontro, no Dia do Médico, os presentes também fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas da covid-19, e os profissionais entregaram três manifestos a Alckmin.
Para a doutora Eline, não faz sentido alguém formado em medicina apoiar Bolsonaro. “Nós devemos, por amor a nossa profissão, votar em Lula no dia 30. Nós somos médicos, praticamos a evidência científica, o amor, e tentamos ao máximo mudar a realidade onde estamos. Esse é o momento de nos unirmos e falar em uma só voz: Lula e Alckmin lá, e Fernando Haddad aqui em São Paulo”.
O médico infectologista Drauzio Varella fez duras críticas a Jair Bolsonaro. Segundo ele, é inconcebível profissionais da saúde apoiarem o atual presidente.
“Sou formado a 55 anos e pela primeira vez eu tive vergonha da classe médica. Eu sempre achei que os médicos estavam entre as pessoas mais generosas que eu vi na vida. E agora nos vemos um presidente da República que foi um ativista da disseminação do vírus, e tomou todas as medidas que tivessem ao alcance dele para que morressem mais pessoas por uma ideia que não entendi até hoje”.
Para ele, Bolsonaro não foi um negacionista, mas “um ativista para disseminação do vírus”. Ele citou as dificuldades enfrentadas pelo programa de vacinação.
“Como é que um médico que tem formação médica pode fechar os olhos diante dessa barbárie. O número de mortes não precisava ser como foi. Acho que chegou a hora da gente mudar isso, nós não podemos, como médicos, compactuar com essa desorganização que foi feita na saúde”, completou.
O encontro contou com representantes das seguintes entidades: ABIMO, Abrasco, Academia Nacional de Medicina, Anahp, Anvisa, Associação Brasileira de Médicas e Médicos Pela Democracia, Associação Psicanalítica Internacional, Centro de Estudos Sindicais, Conselho Nacional de Saúde, CREMESP, Escola Paulista de Medicina, Faculdade de Medicina Einstein, Faculdade de Medicina da USP, Faculdade de Medicina do ABC, FENAFAR, Fenam , FGV/EAESP, Fiocruz, Grupo Farmabrasil, Hospital das Clínicas da USP, Hospital de Clínicas Unicamp, Hospital Regional do Baixo Amazonas- Santarem – Pará, HSPE – IAMSPE, INCOR FMUSP, Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), Ministério da Saúde, REDE D’Or, Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, Santa Casa de São Paulo, SAÚDE PCdoB, SIMESP (Sindicato dos Médicos de São Paulo), SindHosp, Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Sindusfarma, SMS Diadema, UFPEL, UFRJ, Unicamp, UNICAMP e UNIFESP.
Enquanto isso…
Sob pretexto de homenagear o dia do médico, realizou-se na Câmara dos Deputados, no mesmo horário desta, uma sessão solene contraditória, convocada pelos deputados federais Zacarias Calil (União-GO), reeleito, e Hiran Gonçalves (PP-RR), eleito senador. Além de anticientífica e obscurantista, a “homenagem” carregou no tom desumano e elitista.
A ideia era ser uma agenda de Jair Bolsonaro, que acabou não aparecendo, esvaziando o ato. Coube ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, garantir a homenagem aos poucos representantes de entidades e alguns estudantes de Medicina de uma única escola privada de Goiás, que vestiam camisetas verde e amarelo. Em um momento, no qual se emocionou, Queiroga foi muito aplaudido ao afirmar que “os médicos vestem branco, não vestem vermelho e jamais vestirão.”
Depois houve um tumulto com manifestantes da Rede Nacional de Médicos Populares, que fizeram seu protesto e foram atacados pelo bolsonarismo presente e até ameaçados fisicamente pelo presidente do CFM, José Hiran Gallo.
Convidado de honra, o jornalista Alexandre Garcia ocupou a tribuna para contar estórias de “curas de covid” atribuídas à cloroquina.
Houve ainda os previsíveis protestos e fake news contra a abertura de cursos de Medicina, o programa Mais Médicos e a flexibilização do Revalida – o exame para que médicos formados no exterior possam obter registro profissional no Brasil.