“Pintou um clima”: Bolsonaro é acusado de pedofilia
Fala do presidente causou revolta generalizada e jogou sua campanha à reeleição, mais uma vez, na defensiva
Publicado 16/10/2022 12:10 | Editado 16/10/2022 12:13
Jair Bolsonaro (PL) está no centro de uma polêmica que envolve prática de pedofilia com adolescentes venezuelanas. Ao participar do podcast Paparazzo Rubro-Negro na sexta-feira (14), o presidente disse que encontrou “menininhas” de 14 e 15 anos numa esquina de São Sebastião, no Distrito Federal. Segundo Bolsonaro, apesar da idade das adolescentes – e da insinuação de que fossem prostitutas –, “pintou um clima” entre ele e as venezuelanas.
“Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas”, afirmou o presidente no podcast. “Pintou um clima. Voltei, (perguntei) ‘posso entrar na tua casa?’. Entrei.”
Conforme o relato, o presidente encontrou “umas 15, 20 meninas”, “todas venezuelanas”, num “sábado de manhã”, “se arrumando”. No restante do depoimento, Bolsonaro dá a entender que não fez nada a respeito do que viu – apenas associou a suposta prostituição à crise econômica da Venezuela.
“E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida”, declarou o presidente, que é candidato à reeleição e tem recorrido mais à baixaria no segundo turno. “Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora? E como chegou neste ponto? Escolhas erradas.”
A fala do presidente causou revolta generalizada e jogou sua campanha à reeleição, mais uma vez, na defensiva. Uma live do deputado federal André Janones (Avante-MG) sobre o caso passou de 950 mil visualizações no Facebook e 850 mil no Twitter. Com a repercussão negativa nas redes, Bolsonaro chegou a fazer uma live, de improviso, na madrugada deste domingo (16) – dia de debate entre os presidenciáveis na Band.
“Pintou um clima e ele perguntou se podia entrar na casa dela. Ela, uma menina de 14 anos. Ele, o homem que quer ser reeleito presidente do Brasil”, tuitou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “Ainda há quem ache que ele defende qualquer outra família que não seja a dele?”
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também criticou o presidente. “Nojo, revolta! O que Bolsonaro disse nessa entrevista, com tanta naturalidade, me deixou ainda mais chocado com o que ele é e o que representa!”, afirmou o parlamentar, que chamou o presidente de “Bolsonaro pedófilo”.
A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) denunciou a ofensiva da campanha do presidente nas redes para negar a acusação que mais repercutiu contra ele no final de semana. “Por que o Bolsonaro está pagando anúncios nas redes sociais e nas buscas do Google pra afirmar que não é pedófilo? Ahhh deve ser porque ele próprio afirmou em vídeo que ‘pintou um clima’ entre ele e crianças venezuelanas de 14 anos.” Segundo o jornalista Ricardo Noblat, Bolsonaro já gastou mais de R$ 5 mil para tentar “apagar o incêndio”.
Neste sábado (15), o deputado distrital Leandro Grass (PV) pediu à Procuradoria Geral da República (PGR) que inicie investigação sobre a conduta de Bolsonaro. “As ações do presidente da República precisam ser investigadas para que se verifique o que de fato ocorreu após ter pintado um clima, as condições em que se deram a entrada na residência em que estavam as adolescentes venezuelanas e quem administra o local”, diz Leandro Grass no documento à PGR.