‘Afroconveniente’: Debate na Bahia expõe polêmica racial com ACM Neto, que cai nas pesquisas

Em descendência nas pesquisas de intenção de voto, o candidato ACM Neto (União Brasil) teve a sua autodeclaração de cor/raça contestada pelos demais candidatos em debate ao governo da Bahia realizado na terça-feira (27) pela TV Bahia, afiliada da Rede Globo.

O candidato Jerônimo Rodrigues (PT), que já reduziu 28 pontos da vantagem de Neto nas intenções de voto, iniciou o debate dizendo que o ex-prefeito de Salvador “não cumpriu algumas missões” enquanto esteve no cargo “não construiu creches do Brasil Carinhoso e não assumiu a responsabilidade do Fundamental II”. Na sequência, fez referência à polêmica racial que ACM Neto se envolveu: “Solidariedade ao povo negro da Bahia e do Brasil pelo uso inconveniente, inclusive pelo ex-prefeito, que votou, o seu partido votou contra as cotas raciais e agora está se utilizando disso”, disse Jerônimo.

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O candidato bolsonarista João Roma (PL) pesou a mão nas críticas. Com histórico pessoal de mais de décadas com ACM, sendo seu chefe de gabinete e com o ex-prefeito como padrinho de sua filha, o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) chamou ACM de “afroconveniente” e completou: “Nesses 20 anos de convivência que ele falou, ele nunca me disse que era “negão”.”

A fala motivou um pedido de resposta concedido a ACM Neto: “Me autodeclarei pardo, porque assim me vejo. Assim como em 2016, quando ele [João Roma] era meu chefe de gabinete, que estava ao meu lado, me apoiava em tudo, eu já tinha me autodeclarado pardo. E naquela época não tinha fundo eleitoral, não tinha financiamento de campanha, não tinha cota. Vamos deixar claro, eu não me autodeclarei pardo para me beneficiar de nada. Até porque não estou recebendo nada a mais com isso.”

No entanto, a resposta não foi suficiente para que a polêmica sobre a autodeclaração deixasse de voltar a cada momento. Roma novamente fez insinuações ao ex-prefeito, dizendo que fez “bronzeamento artificial ou na laje” e que isso era piada em todo o país: “Ele é negro ou não é negro? Ele não sabe a cor da sua pele. Ele vai sair derrotado dessa eleição e, além disso, vai passar o maior ridículo da sua vida porque já é deboche nacional.”

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Sobre o tom jocoso dado ao tema por Roma, o candidato Kleber Rosa (PSOL) afirmou que o assunto precisa ser tratado com seriedade entre os candidatos e que a piada fica para os outros.

Ao confrontar diretamente ACM sobre a questão, Kleber, inequivocadamente negro como ele mesmo disse, enquadrou o candidato do União Brasil ao lembrá-lo que a Bahia tem 80% de negros. Além disso indicou estudo sobre relações raciais no país ao candidato.

“Eu não posso dizer que sou branco e dizer: “é assim que eu me vejo”. Porque a relação racial é dada no trato social. Eu não tenho a opção de me passar por branco, ainda que isso possa me conceder alguma vantagem. Então candidato, o senhor deveria ler mais sobre relações raciais no Brasil. O senhor deveria ler um pouco mais, de forma respeitosa, sobre a luta da população negra nesse país ao longo de 500 anos. O senhor não tem constrangimento ao perceber que a sua autodeclaração virou piada nacional? A população da Bahia é de 80% de negros. E esse dado é demarcado pela diferença entre brancos ricos e negros que sofrem ainda as consequências de um processo de exclusão”, explicou Kleber.

Entenda a polêmica racial

Após se autodeclarar pardo à Justiça Eleitoral, ACM Neto esteve em uma entrevista na TV em que apareceu atipicamente bronzeado.

Ao ser questionado pelo entrevistador sobre a autodeclaração, disse: “eu me considero pardo, você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande. Negro não, não diria isto, jamais”.

Desde então o ex-prefeito tem se apresentado com esse tom de pele “bronzeado”, o que tem gerado críticas de adversários e memes nas redes sociais.

O fato causou insatisfação em grande parte do eleitorado e pesquisas já indicaram queda nas intenções de voto de ACM. A situação se agravou ainda mais após a constatação de que em um primeiro registro do candidato junto à Justiça Eleitoral a sua autodeclaração ter sido feita como “branca”. Posteriormente houve a mudança para “pardo”. A campanha de ACM justificou a mudança a um erro de seu departamento jurídico que foi “corrigido no mesmo dia ou dia seguinte”.

A queda nas intenções de voto tem causado preocupação em sua cúpula de campanha, que antes dava como certa uma vitória no 1º turno. No entanto, além da possibilidade de um 2º turno ser mais plausível, o estado da Bahia é marcado por um histórico de viradas que já colocou candidatos do PT que estavam em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto como vencedores no 1º turno. Confira aqui o histórico de viradas na Bahia.