Governos vizinhos ficam sem embaixador por falta de cooperação do Brasil
Colômbia e Chile estão sem embaixador no Brasil por desacordos, ataques de Bolsonaro e esperando um resultado eleitoral mais favorável
Publicado 27/09/2022 15:45 | Editado 27/09/2022 16:27
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, deixou a Embaixada no Brasil abandonada, esperando o resultado da eleição de domingo, e preocupados com uma eventual reeleição de Bolsonaro, conforme afirmam fontes de seu governo ao jornal O Globo. O Chile de Gabriel Boric insiste no nome de seu amigo Sebastián Depolo, líder do partido Revolução Democrática, cuja indicação o Itamaraty finge que nem recebeu ainda.
Mas tem também o caso de outros governos de esquerda, como a Argentina de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que torcem por Luiz Inácio Lula da Silva, por desejarem uma cooperação e integração maior entre os países. O embaixador Daniel Scioli já tem na manga um ambicioso acordo bilateral esperando a chegada de Lula ao poder.
Coisa semelhante acontece com o México que já trocou o embaixador José Ignácio Piña Rojas pela escritora Laura Esquivel, conhecida militante do meio ambiente, defesa dos direitos humanos e das mulheres, apostando na vitória de Lula.
Leia também: Após ataque de Bolsonaro a Boric, Chile convoca embaixador do Brasil
“Quando um país não indica embaixador, é sinal e de que as relações chegaram ao ponto do estremecimento”, explicou o jornalista Wevergton Brito Lima, vice-presidente nacional do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade ao Povos e Luta pela Paz).
O governo chileno desistiu de obter o agrément (concordância) sobre o nome proposto para assumir o comando da embaixada em Brasília. Recentemente, o presidente Bolsonaro atacou o chefe de Estado chileno no debate presidencial acusando-o de vandalismo pelas manifestações de 2019.
Wevergton acrescenta os ataques a Gustavo Petro, que venceu a eleição na Colômbia, que Bolsonaro chamou abertamente de terrorista durante a campanha. “Um governante não se intromete na eleição de um país soberano vizinho, ao ponto de ofender um dos candidatos, assim como o fez”, afirmou ao Portal Vermelho.
Leia também: Colômbia: vitória de Petro contribuirá para a integração latino-americana
O comentarista internacional observa que a falta de indicação de embaixador é uma forma de sinalizar para a comunidade internacional que as relações entre esses países “não estão em seus melhores momentos”. Desde o golpe contra Dilma, lembra ele, Cuba não tem embaixador no Brasil, apenas um encarregado de negócios.
O jornalista também avalia que esse tipo de estremecimento diplomático pode ter consequências comerciais. Segundo ele, quem quiser investir num ou noutro país, não sente muita segurança. Conforme constata ele, o capital quer sempre segurança de que vai se dar bem investir no outro país.
“Relações estremecidas é um dos componentes que gera insegurança para a pessoa investir na cooperação comercial entre os países. O investimento pode evoluir mais negativamente ainda, para sobretaxar produtos vindos daquele país, e o empresário que investe, quebra”, descreve ele.
Como Peru, Bolívia e Venezuela também são governos de esquerda, restam apenas o caso do Paraguai, de Mario Abdo Beníte, do Equador, de Guillermo Lasso e do Uruguai de Luis Lacalle Pou com relações ideológicas mais próximas de Bolsonaro.