Pistoleiros matam um indígena e ferem três em emboscada no Pará

Suspeita-se que os autores do crime sejam seguranças da Brasil BioFuels BBF, empresa que explora o fruto do dendê, no Vale do Acará e no Baixo Tocantins.

Indígenas reunidos no terreno da casa cultural que foi destruída em outro ato criminoso contra a comunidade. Foto: Ver-o-Fato

Indígenas da Comunidade Braço Grande, da etnia Turiwara localizada em Tome Açu, no Pará, sofreram uma emboscada por volta das 9 horas da manhã de 24 de setembro de 2022. O fato ocorreu no KM 14 da PA 252 nas proximidades do município do Acará, e faz parte dos inúmeros constrangimentos que os moradores pobres dessa região são atingidos pelos que detém poder.

Testemunhas relatam que quatro pessoas desceram de dois veículos do modelo Celta e, imediatamente, efetuaram disparos contra o carro das vítimas. Os meliantes estavam fardados e usavam capuz. Pela surpresa do ataque, o gesto determinado demonstra que foram ali com a missão de matar.

Existe a suspeita que os autores do crime sejam seguranças da Brasil BioFuels BBF, empresa que exerce atividades agroindustriais explorando o fruto do dendê, no Vale do Acará e no Baixo Tocantins, nordeste do Pará.

Sobre a tragédia, até o momento há notícias que o Instituto Médico Legal – IML fez a remoção do corpo de uma vítima de nome Cleozo dos Santos. As outras três pessoas atingidas a bala receberam os primeiros socorros na unidade hospitalar do município de Acará com entrada por volta das 11:30 da manhã onde foram socorridos. Antes de serem transportados para o Hospital Metropolitano em Belém, o indígena Adenisio gravou um vídeo denunciando o ocorrido. Indignado, ele clama por socorro e exige providências por parte das autoridades, ao mesmo tempo em que acusa os seguranças da empresa como autores da emboscada.

O clima na Região é de tensão, inclusive, circulam comentários que a Polícia Militar tem prática de proteger a empresa.

Os indígenas, quilombolas e ribeirinhos moram e trabalham na área ocupada pela empresa, vivem em permanente constrangimento e humilhações, diante de inúmeros ataques que vêm sofrendo.

A existência da Agropalma na área já configurava uma situação desconfortável, mas piorou bastante a partir de 2008 com a presença da Brasil BioFuels (BBF) – estabeleceu-se permanente tensão. 

O Ministério Público já realizou audiências de conciliação, no entanto a empresa não cumpre o combinado. A natureza do trabalho da empresa, com excessivo uso de agrotóxicos contamina as nascentes dos rios incidindo em graves problemas de saúde; a exploração do trabalho e a tentativa de tomar as posses das terras dos antigos donos, provocam discórdias e as queixas contra os ataques dos seguranças da empresa, têm sido constantes.

O próprio senhor Cleozo dos Santos Santos, um dos baleados na referida emboscada em tela, já foi vítima da empresa. A ocasião registrou queixa na delegacia de polícia de Quatro Bocas (boletim de ocorrência policial número 00481/2022. 101 338-2) no dia 4 de julho de 2022.

No citado BO, ele relata que no dia primeiro de julho de 2022, ele, juntamente mais 12 pessoas sofreram uma grande perseguição no local de trabalho na zona rural de Tomé-Açu. Entre as pessoas que estavam com ele, cita a Gelbis e seu esposo, o Erivaldo e o Adenísio – foram pegos de surpresa com a chegada de um veículo Fiat Toro de cor prata com a logo da Stive Segurança. No veículo tinham quatro homens, todos com roupas com o mesmo logotipo e usavam máscara, ficando sem condições, identificar os atacantes.

A cena foi de terro, eles jogaram luz alta na direção do relator e seus companheiros, os quais pediram para baixar a luz, ao que, em resposta, os maus feitores proferiram palavrões e ordenaram que se afastassem. Ao mesmo tempo em que começaram a disparar – foram cerca de 30 disparos efetuados pelo motorista e pelo carona. Em seguida, dois disparos atingiram o senhor Luciano Souza, conhecido como “Gago”, também residente na cidade de Acará. A vítima foi levada às pressas para o hospital. E os destruidores de vida fugiram em disparada.

Além desses, outros ataques ocorreram, mas em 16 de agosto de 2022, um fato típico de lesão corporal foi também registrado, desta feita por Rafael Nonato Mendonça Arrais, da etnia Paratê Tembé. Rafael relata que, indígenas e quilombolas estavam nas dependências da Fazenda Vera Cruz zona rural, divisa entre os municípios de Tomé-Açu e Acará quando se depararam com várias seguranças da empresa BBF acompanhados por uma viatura da Polícia Militar prefixo 9836 fazendo barreira. Foram chegando e criando uma situação provocativa, num clima de confusão; e quando as pessoas perceberam que na carroceria da viatura estavam várias bordunas, um motosserra e um galão de gasolina, indagaram qual o motivo daqueles objetos ali.  Como eles ficaram sem ação, iniciou-se um tumulto, e algumas pessoas saíram lesionadas.

A tragédia da manhã do dia 24 ocorre num momento em que as pessoas estão esgotadas, desesperançadas diante da ausência de providências por parte das autoridades, em relação à disputa pela terra.

Indígenas, Quilombolas e ribeirinhos viviam nessas terras anterior a chegada da empresa. Desde então, tem sido cometidos crimes contra a vida das pessoas e contra a natureza; não houve uma consulta prévia, as pessoas estão sendo desrespeitadas. É inadmissível que aqueles que cuidam da terra, vivam humilhados, em permanente perigo – vendo o futuro ser destroçado.

Urge uma ação da parte das autoridades governamentais, no sentido de evitarem que mais uma vez, o chão do Pará seja tinto de sangue humano.