Ministro desiste de férias para não parecer que abandonou Bolsonaro

Após repercussão negativa, Ciro Nogueira cancela férias para ficar ao lado do presidente que enfrenta grave crise na sua campanha

Ciro Nogueira (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos principais coordenadores da campanha de reeleição de Bolsonaro, desistiu das férias anunciadas, nesta quinta-feira (22), após a repercussão negativa de que estaria abandonado o presidente, que está na iminência de perder a eleição no primeiro turno.

Ciro justificou que pediria votos para Bolsonaro no Piauí, seu estado, ao mesmo tempo que faria campanha para sua ex-mulher, Iracema Portella (PP), candidata a vice-governadora.

“Informamos que o ministro Ciro Nogueira interrompeu a tramitação do seu pedido de férias, devido a diversos compromissos inadiáveis na próxima semana”, diz nota da Casa Civil.

De acordo com analistas políticos, o ministro estaria saindo do governo em meio a uma crise na coordenação de campanha onde ninguém se entende, nem mesmo os filhos do presidente.

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O quadro ser agravou após os resultados das últimas pesquisas Ipec e Datafolha que indicam a possibilidade de Lula vencer a eleição presidencial no primeiro turno.

“Na campanha de Bolsonaro o clima de fim de festa começa a se abater sobre os integrantes. O ministro Ciro Nogueira não admitiu publicamente, mas largou a eleição presidencial em meio a uma guerra com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ciro Nogueira acusa Guedes, nos bastidores do governo, de ser o verdadeiro responsável pelas dificuldades de Bolsonaro. Tanto por ter demorado a aceitar a renovação e o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, como pelos contingenciamentos de verbas do Orçamento que arrefeceram o ânimo dos cabos eleitorais bolsonaristas nos estados”, revelou Tales Faria, colunista do UOL.

De acordo com ele, Guedes, por sua vez, responsabiliza Ciro pela proximidade do naufrágio. Segundo ele tem dito no governo, o chefe da Casa Civil “atuou o tempo inteiro para detonar a política econômica, já que estava menos preocupado com a reeleição de Bolsonaro do que em liberar verbas para a eleição de parlamentares do centrão”.

O jornalista diz que há também desentendimento entre os filhos do presidente. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que está alinhado com o marketing da campanha, cobra moderação do pai, enquanto o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) insiste que o pai aumente os ataques aos adversários e à Justiça como forma de alimentar a militância bolsonarista.

“Na reta final, integrantes da campanha de Bolsonaro se veem ‘perdidos’ e ‘sem estratégia’. Dificuldade de falar para fora da bolha, falta de dinheiro e baixa nas pesquisas são apontados como maiores problemas a dez dias da eleição”, observou Bela Megale, colunista de O Globo.

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