Personalidades latino-americanas apelam a Ciro que renuncie por apoio a Lula
“A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, camarada Ciro, a única coisa que fará é dispersar forças, enfraquecer o bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe.”
Publicado 21/09/2022 18:55 | Editado 22/09/2022 08:28
Dezenas de intelectuais e políticos da América Latina e Caribe divulgaram nesta terça-feira (20) uma carta a Ciro Gomes (PDT) em que pedem a desistência de sua candidatura em favor de Luis Inácio Lula da Silva (PT). O objetivo é vencer já no primeiro turno e eliminar o risco de levar Jair Bolsonaro (PL) ao segundo turno. Ciro tem mantido uma média de 7 pontos percentuais nas intenções de voto, que o reduzem ao terceiro lugar, mas dificultam a resolução da eleição no primeiro turno.
O documento é assinado por nomes como o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, o argentino ativista dos direitos humanos que recebeu o prêmio pela criação do Serviço Paz e Justiça na América Latina, pelo ex-presidente do Equador, Rafael Correa, pela senadora colombiana Piedad Córdoba, o ex-chanceler do Paraguai, Jorge Lara Castro, o deputado venezuelano Juan Eduardo Romero e o ex-ministro boliviano Juan Ramón Quintana Taborga, entre outros. Há ainda na lista dezenas de parlamentares da América do Sul, professores das mais importantes universidades da região e jornalistas.
O documento reconhece a trajetória progressista e democrática de Ciro, mas lamenta com ‘perplexidade’ a insistência da sua candidatura diante da necessidade de expurgar o país do neofascismo bolsonarista. A pressão das personalidades de várias partes do continente, e até da Europa, coloca o candidato numa situação delicada, caso Bolsonaro ganhe sobrevida para o segundo turno. O presidente tem conduzido toda a campanha com ameaças golpistas, enquanto sua base tem defendido com violência política e estratégias ilegais de desinformação.
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“Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso que a perplexidade nos leva a escrever-lhe esta carta e nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna, porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico”, diz o documento, de forma contundente, revelando falta de visão histórica do candidato. Também diz que o apelo tem como base o fato do candidato mostrar poucas chances de derrotar ‘o fascismo’, ao contrário de Lula.
“A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe”.
O texto chega a alertar que Ciro estaria cometendo um “erro estratégico” em confiar em promessas oportunistas do bolsonarismo, quando se trata de um candidato que já mostrou que não está disposto a respeitar institucionalidades e governo sob o signo da mentira. Os signatários ainda solicitam que o pedetista use a reta final da campanha para ‘corrigir o rumo’ e pedir votos para Lula, como têm feito inúmeras personalidades que votariam nele e mudaram de posição, assim como políticos que o apoiariam.
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“Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula”, diz a carta.
A iniciativa é do cientista político argentino Atilio Boron. O documento inclui um link de endereço de email para adesões, o cirorenuncia@gmail.com.
Leia a íntegra da carta, que continua acumulando adesões com 134 signatários nesta versão:
20 de setembro de 2022
Caro camarada Ciro Gomes:
Os abaixo assinados são militantes da esquerda latino-americana, profundamente antiimperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e a criação da Grande Pátria. Somos também pessoas que amam e admiram o Brasil e seu povo; à cultura primorosa daquele país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para ter acesso a uma vida mais plena, espiritual e materialmente.
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Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso que a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio “Lula” da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, um homem político, inteligente e com larga experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer o bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo. Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.
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Parece-nos que por causa de sua carreira você não deve entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em uma instância crítica e decisiva para seu país comete um erro e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também o terá como uma de suas vítimas. Não se pode ignorar a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e promessas, mesmo aquelas que ele possa ter feito a você, são completamente inúteis. Bolsonaro é um personagem imoral, um fanático alucinado sem princípios morais que deixou mais de 700.000 brasileiros e brasileiras morrerem sem fazer o menor esforço para salvá-los. Ele também é um traidor em série, comparável apenas aos piores personagens de Shakespeare. E ele não hesitará por um momento em traí-lo assim que for conveniente para ele.
Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff. Você, por causa de sua história e de suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que uma figura tão monstruosa fique mais um dia no Palácio do Planalto. Além disso, devido à sua idade, não temos dúvidas de que continuará sendo uma figura de protagonismo na política brasileira. Que não é a sua vez, que as circunstâncias o obrigam a esperar. Não se esqueça que a paciência é um dos traços que definem os grandes líderes políticos.
Nada mais por enquanto. Esperamos que você aprecie o senso de solidariedade nesta mensagem. Receba um abraço fraterno de seus companheiros lutadores de toda a América Latina e Caribe.
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Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, Argentina
Rafael Correa, ex-presidente do Equador
Stella Calloni, jornalista, Argentina
E. Raúl Zaffaroni, ex-juiz da Suprema Corte, Argentina
Atilio Boron, cientista político, Argentina
Piedad Córdoba, Senadora, Colômbia
Amado Boudou, ex-vice-presidente da Argentina
Gabriela Rivadeneira, ex-presidente da Assembleia Nacional, Equador
Fernando Buen Abad, filósofo, México
Ignacio Ramonet, jornalista, França/Espanha
Ernesto Villegas, República Bolivariana da Venezuela
Hugo Moldiz, ex-ministro, Bolívia
Jaime Lorca, Fundação Memória e Futuro, Chile
Xavier Lasso, jornalista, Equador
Katu Arkonada, País Basco/Bolívia
Jorge Lara Castro, ex-chanceler, Paraguai
Hernando Calvo Ospina, cineasta, Colômbia
Esteban Silva, professor universitário, Chile
María Seoane, jornalista, Argentina
Mempo Giardinelli, escritor, Argentina
Juan Eduardo Romero, deputado PSUV, Assembleia Nacional, Venezuela
Alicia Entel, professora universitária, Argentina
Gilberto López y Rivas, antropólogo, México
Daniel Jadue, prefeito de Recoleta, Chile
Telma Luzzani, jornalista, Argentina
Florencia Saintout, presidente, Instituto Cultural da província de Buenos Aires, Argentina
Ramón Grossfogel, professor universitário, Porto Rico
Mario Giorgi, Rádio UNDAV, Argentina
Claudia V. Rocca, Filial Argentina da Associação Americana de Juristas
María Fernanda Barretto, escritora colombiana-venezuelana
Daniel de Santis, professor universitário, Argentina
José Seoane, professor universitário, Argentina
Paola Gallo Peláez, Co-presidente da MOPASSOL, Argentina
Jorge Cantor, Argentina
Rodolfo Hamawi, professor universitário, Argentina
Emilio Taddei, professor universitário, Argentina
Julio Ferrer, jornalista, Argentina
Juan Ramón Quintana Taborga, ex-ministro, Bolívia
Andrea V. Vlahusic, Co-presidente da MOPASSOL, Argentina
Héctor Bernardo, jornalista, Argentina
María Fernanda de la Quintana, jornalista, Argentina
Jorge Elbaum, professor universitário, Argentina
Carlos López López, Parlamentar do Mercosul
Ana María Ramb, escritora, Argentina
Pamela Dávila, jornalista, Equador
Rafael Urrejola Ditborn, jornalista, Chile
Paula Klachko, professora universitária, Coord. REDH/Cap. Argentino
Henry Morales, Coord. Movimento Pop Tzuk Kim, Guatemala
Manuel Santos Iñurrieta, dramaturgo, Argentina
Carlos Bedoya, Coord. Latindadd , Peru
Alexia Massholder, professora universitária, Argentina
Claudio Katz, economista, Argentina
Marcelo Rodríguez, professor universitário, Argentina
Mario Alderete, Argentina
Graciela Josevich, AUNA Argentina.
Silvina Pachelo Ali, historiadora, Argentina
Lois Pérez Leira, jornalista, Argentina
Paula Vidal, socióloga, Chile
Ricardo Patiño, ex-chanceler, Equador
Egda Josefina Vilchez González, Conselheira, Zulia, Venezuela
Manuel Hidalgo, economista, Chile
Enrique Goldin, jornalista e economista, Argentina
Pepi Gorga, Argentina
Cristina Livitsanos, advogada, Associação Argentina de Juristas
Hipólito Irigoyen Sec. Geral do POPULISMO K, Argentina
Fernando D. Lázaro, educador popular, Argentina
Erika Ortega Sanoja, jornalista, Venezuela
Beatriz Muñoz, Museóloga, Argentina
Clara Algranati, professora universitária, Argentina
Gustavo Daniel Pescetta, produtor e apresentador de rádio, Argentina
Orlando Pérez, jornalista, Equador
Néstor Kohan, sociólogo e historiador, UBA, Argentina
Luisa Valmaggia, jornalista, Argentina
Alejandro Avots, ativista de direitos humanos, Argentina
Francisco Domínguez, Middlesex University, Londres, Reino Unido.
Nuria Giniger, Secretária Geral ATE-CONICET, Argentina
Mariela Castro Espin, CENESEX, Cuba
Yemil Harcha, economista, Chile
Eduardo Salum Yazigi, sociólogo, Chile
Nora Elichiry, psicóloga, Argentina
Enrique Ubieta, escritor, Cuba
Francisco Sierra, professor universitário, Sevilha, Espanha
Mónika Arredondo, psicanalista, Uruguai
Jorge Chamorro, jornalista, Argentina
Ramón Cespedes, Argentina
Graciela Ramírez, jornalista, Cuba e Argentina
Isaac Katz, Argentina
Lucio Oliver Costilla, professor universitário UNAM, México
Raúl Torres, cantor e compositor, Cuba
Carlos Montaño, professor universitário UFRJ, Brasil/Uruguai
Martín Becerra, professor universitário, Argentina
Norma Fernández, documentalista, Argentina
José Suárez, ambientalista, Argentina
Angel R. Villarini Jusino, membro fundador do Movimento Vitória Cidadã, Porto Rico
Matias López, Líder da Juventude Frente Ampla Uruguai
Ana Zabala, psicanalista, Argentina
Rosa Cañadell, Comitê de apoio ao MST da Catalunha
Jorge Amarilla Vázquez, Congregação do Verbo Divino, Paraguai
Fernando de la Cuadra, professor universitário, Chile
Eduardo Sigal, partido Frente Grande, Argentina
Tania Ferreira Felício, capítulo da RedH Argentina
Horacio López, escritor e historiador, Argentina
Monica Peralta Ramos, economista, Argentina
Lilian Riquelme, Paraguai Isabel Gómez, Vice-Presidente da Sociedade de Escritores e Escritores do Chile.
Nadia Bamrirra dos Santos, artista, Brasil
Jorge Arrate, Plataforma Socialista, Chile
Richard Benavides, cientista político, Venezuela
Daniel Devita, rapper, músico e escritor, Argentina
Nubia Gallo, escritora, Colômbia
Tania Díaz, deputada do PSUV, Venezuela
Geovanni Peña, Reumatologista, Venezuela
Santiago Ali Brouchoud, advogado, Argentina
Desiree Santos Amaral, jornalista, Venezuela
Manuel Rodríguez Rodríguez, ex-deputado, Chile
Alicia Lira Matus presidente do grupo de parentes do Politico Executado Chile
Luz Becaceci, professora da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina
Ingrid C Carmona A., Presidente do Movimento Simón Bolívar de Cientistas Sociais MOCIENSO, Venezuela
Ana Valentino, Secretária de Política Internacional do Movimento dos Outubros, Argentina
Alberto Noe, sociólogo, Argentina
Teresa Muñoz Lopera, Human Colombia, Colombia
Manolo Pichardo, ex-presidente do Parlacen e Copppal
Santiago Rivadeneira Aguirre, Crítico de Artes Cênicas, Equador
Graciela Jacob, médica, Rede de Atenção, Direitos e Decisões no Fim da Vida (CONICET) Argentina
Susana Beatriz Alvis Etcheverry, Mestre em Comunicação, Brasil/Argentina
Marta Alaniz, católicos pelo direito de decidir, Argentina
María Dolores Gómez, advogada, Argentina
Astolfo Sangronis Godoy, escritos, Venezuela
Guillermo Garrido, Advogado de Direitos Humanos, Chile
Ricardo Soca, linguista e jornalista, Uruguai
Gabriela Cultelli, REDH, Uruguai