Com chance de derrota no 1º turno, Bolsonaro ataca Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU
Bolsonaro ainda falou que “extirpou a corrupção”, espalhou fake news sobre a pandemia e ressaltou dados econômicos que foram trabalhados visando às eleições.
Publicado 20/09/2022 12:59 | Editado 20/09/2022 15:20
A abertura da 77ª Assembleia Geral Organização das Nações Unidas (ONU), aconteceu nesta terça-feira (20), em Nova York. O presidente Jair Bolsonaro (PL) realizou um discurso voltado para o Brasil, visando as eleições de outubro. Assim, atacou o ex-presidente Lula (PT) como forma de gerar conteúdo para os seus seguidores e destacou dados econômicos como a queda do preço dos combustíveis e energia, pelos quais o governo trabalha de forma eleitoreira.
Historicamente, o chefe de estado do Brasil é o primeiro a discursar, logo após a fala do secretário-geral da ONU. Em seguida, fala o presidente dos Estados Unidos, nessa ordem:
- Secretário-geral da ONU
- Presidente do Brasil
- Presidente dos EUA
No entanto, o presidente norte-americano Joe Biden só irá discursar na quarta-feira (21). A alegação para a mudança foi a viagem do mandatário para o funeral da rainha Elizabeth II, em Londres.
De acordo com o jornalista Guga Chacra, que acompanha o discurso in loco: “Quase nenhum jornalista estrangeiro na sala de imprensa da ONU presta atenção ou sequer escuta o discurso de Bolsonaro”. Isso acontece pela ausência de Biden.
Segundo o jornalista Jamil Chade, diversos países que participam do encontro articulam o reconhecimento imediato do resultado das urnas nas eleições do Brasil em outubro. O ato visa conter os discursos antidemocráticos promovidos por Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro.
Discurso de Bolsonaro
Em seu discurso, Bolsonaro falou que “durante a pandemia de covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos”. Disse que garantiu “auxílio financeiro, emergencial, aos mais necessitados” além de “amplo programa de imunização, inclusive com produção doméstica de vacinas”.
Como se sabe, o Brasil se aproxima de 700 mil mortes por covid-19, o Ministério da Saúde atrasou a compra das vacinas da Pfizer e esteve envolvido em um escândalo na compra das vacinas Covaxin, sem contar na inércia quanto aos respiradores. Outro ponto, é que o governo inicialmente previa o Auxílio Emergencial somente em R$200 durante a pandemia. Somente com a mobilização da bancada de oposição é que o Auxílio chegou a R$600.
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Bolsonaro também disse que a corrupção foi extirpada no seu governo, sem falar dos casos de “gabinete paralelo” no Ministério da Educação, exportação ilegal de madeira, compra de vacinas, desvios na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), entre outros.
Sem citar diretamente o ex-presidente Lula, mentiu ao dizer que ele foi condenado em três instâncias, uma vez que Lula foi inocentado e teve os processos contra ele anulados. O ataque acontece após mais uma pesquisa colocar o ex-presidente com chance de vitória no 1º turno das eleições.
Veja o que disse Bolsonaro ao atacar a esquerda: “No meu governo extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras, por má gestão, loteamento político e em desvios, chegou à casa dos 170 bilhões de dólares. O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade”.
Na Assembleia, Bolsonaro ainda falou que “a pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil ela já começou a cair de forma acentuada”. No entanto, dados apontam que 33 milhões de brasileiros passam fome no país.
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Em certo momento, o presidente deu ênfase que a taxa de desemprego chegou a 9%, porém o dado escamoteia que o Brasil tem 40 milhões de trabalhadores informais.
Durante o discurso, afirmou que o “preço da gasolina caiu mais de 30%”, “que o custo da energia não caiu por conta de tabelamento de preços, ou qualquer outro tipo de intervenção federal” e que a queda “foi resultado de uma política de racionalização dos impostos”. A afirmação, no entanto, é inverídica sendo que o governo trabalhou para reduzir o ICMS de combustíveis e para a energia.
Sobre a agenda internacional, em relação à guerra entre Ucrânia e Rússia, falou em evitar bloqueios. “Nas Nações Unidas temos tentado evitar os bloqueios dos canais de diálogo, causado pela polarização em torno do conflito. É nesse sentido que somos contra o isolamento diplomático e econômico”, disse em referência às sanções feitas à Rússia – sem citar o país – pelo Ocidente.
Discursos anteriores
Este foi o quarto discurso de Bolsonaro. No primeiro deles, em 2019, o seu discurso foi centrado em negar o aumento das queimadas na Amazônia, situação que alarmou o mundo. Na ocasião disse que não iria demarcar nenhuma terra indígena e criticou países latino-americanos de esquerda.
Já em 2020, mais uma vez, distorceu dados sobre queimadas na Amazônia e Pantanal, também criticou as medidas de proteção contra o avanço da pandemia de covid-19, como isolamento social e lockdowns e defendeu a cloroquina, medicamento sem eficácia contra o coronavírus. Os discursos ocorreram de forma online por conta da pandemia.
No ano anterior, em 2021, mais uma vez o governo trouxe dados sobre a Amazônia e preservação ambiental inverídicos, defendeu o tratamento precoce para combate ao coronavírus e fez referências ao financiamento de obras, no passado, pelo BNDES em países como Cuba.