Crescimento brasileiro é “temporário e artificial”, diz Monica de Bolle
Economista analisa o cenário nacional e aponta que a estagflação (estagnação com inflação) mundial pode chegar ao Brasil no início do próximo ano.
Publicado 14/09/2022 19:33
Ao Correio Braziliense, a economista e pesquisadora do Peterson Institute for International Economics (PIIE), Monica de Bolle, analisou a política econômica brasileira e disse enxergar que o momento de estagflação (estagnação com inflação) internacional pode atingir o país no início de 2023.
A estagflação pode colocar o Brasil no rumo do aumento do desemprego e com preços cada vez mais altos, assim como acontece com os alimentos atualmente.
Ainda que o país tenha apresentado queda tímida na inflação e aumento da produção, de Bolle observa que o momento atual da economia está exclusivamente atrelado às eleições de 2022. Isso acontece devido à tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), que cria medidas fiscais insustentáveis, segundo a economista.
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Dessa maneira, o crescimento econômico é temporário e artificial, pois acontece pela tentativa de compra dos eleitores. Por isso esse período deve durar até as eleições, aponta a pesquisadora.
Para o futuro, ela prevê que o Brasil entre no momento estagflacionário mundial e diz que o Banco Central Brasileiro terá muitas dificuldades para controlar isto, uma vez que a economia nacional depende do cenário internacional.
Quando questionada sobre o descolamento da crise internacional propalado pelo atual governo, de Bole reafirma que este é um discurso econômico totalmente político.
Sobre a conjuntura internacional, a economista ressalta as dificuldades impostas pela guerra entre Ucrânia e Rússia, em especial por conta da oferta de petróleo e gás natural. Além da guerra, estes choques de oferta tiveram início com a pandemia de covid-19. De acordo com de Bolle, o período de inflação alta e estagnação econômica perdurará mesmo após o fim da guerra e pode ir até 2024.
Para completar, disse que a política econômica brasileira está desorganizada por causa do ministro Paulo Guedes e que em países como o Brasil, a estagflação é mais difícil de ser contornada por meio da política.
Nesse sentido, criticou o teto de gastos (que não funciona) como foi feito no Brasil. Na sua opinião, é preciso ter dinamismo nas regras fiscais para que se acompanhe a economia, prática comum em outros países.