Como o apoio de Lula pode mudar as eleições em Minas Gerais

Segundo Wadson Ribeiro, a campanha eleitoral em Minas é uma das mais importantes do País, na medida em que sintetiza o “comportamento do eleitorado” brasileiro. “Nenhum presidente foi eleito sem vencer em Minas Gerais”.

Transformar potencial em voto. Este é o desafio dos candidatos majoritários que integram a chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições em Minas Gerais. Alexandre Kalil (PSD), candidato a governador, e Alexandre da Silveira (PSD), que busca a reeleição ao Senado, estão em segundo lugar nas pesquisas – mas confiam no apoio de Lula para virar o jogo.

Conforme a última pesquisa Datafolha, realizada de 30 de agosto a 1º de setembro, o petista tem 45% das intenções de voto em todo o Brasil, contra 32% do presidente Jair Bolsonaro. Em Minas, porém, a vantagem de Lula é ainda maior: 47% a 30%.

Os números revelam que, entre uma e outra eleição presidencial, o bolsonarismo se desidratou no estado. Em 2018, quando concorreu à Presidência da República pelo PSL, Bolsonaro foi o mais votado entre os mineiros, com 48,31% dos votos válidos no primeiro turno e 58,19% no segundo. Seu desempenho no estado foi proporcionalmente melhor do que no Brasil.

A onda antiestablishment se repetiu no cenário estadual. Há quatro anos, o empresário Romeu Zema (Novo), um candidato sem carisma, até então desconhecido dos eleitores, venceu a disputa ao Palácio Tiradentes com 71,80% dos votos. Detalhe: entre seus adversários estavam dois políticos que já haviam governado Minas – Fernando Pimentel (PT) e Antonio Anastasia (PSDB).

Graças a uma blindagem permanente da grande mídia, Zema busca mais um mandato com taxas de rejeição baixas. Por isso, sua campanha à reeleição quer distância de Bolsonaro. Usando a força da máquina pública, o governador montou a maior coligação entre todos os candidatos. Na propaganda eleitoral em rádio e TV, o tempo de Zema é igualmente o maior – o que o levou até a crescer nas pesquisas após o início da campanha.

Além do apoio de Lula, Kalil tem como credencial sua gestão como prefeito de Belo Horizonte (2017-2022). Em março, quando ele deixou o cargo, seu governo despontava com 73% de aprovação entre os moradores da capital, de acordo com o Instituto Opus. Os investimentos em Saúde e o enfrentamento à pandemia de Covid-19 foram algumas de suas vitrines como prefeito – além, claro, do estilo anticonvencional, que o levou a ser apelidado de “Kalil sincerão”.

A exemplo do duelo nacional entre Lula e Bolsonaro, a eleição em Minas está polarizada – e três fatores podem abrir margem para que a oposição vença Zema nas urnas. Primeiro: mesmo passados 19 dias do início oficial da campanha, os mineiros ainda não estão inteiramente a par das candidaturas. O Datafolha aponta que 93% dos eleitores conhecem Zema, mas apenas 68% conhecem Kalil.

O terceiro colocado, o senador Carlos Viana (PL), que faz campanha atrelado a Bolsonaro, só é conhecido por 36%. Embora não aparente ter chances de decolar na preferência do eleitorado, Viana pode tirar votos de Zema e ajudar a empurrar o pleito para o segundo turno.

A segunda razão para uma eventual reviravolta é a “taxa de infidelidade”. Além dos 7% de indecisos, o Datafolha indica que 37% dos mineiros declaram que podem mudar o voto na eleição estadual. Esta é a situação de um terço dos apoiadores de Zema (34%) – e, entre eles, 25% dizem que podem votar em Kalil.

Cabe, aqui, um comparativo. Na eleição nacional, a margem para a infidelidade despenca: 84% dos eleitores de Bolsonaro e 83% dos eleitores de Lula se declaram “totalmente decididos”. Se daqui até 2 de outubro os mineiros mudarem de voto, provavelmente será na escolha do candidato a governador – e não do presidenciável.

Por fim, existe o “fator Lula” – e este terceiro fator é, sem dúvida, o grande trunfo de Kalil e Silveira. Na sexta-feira (2), a exatamente um mês do primeiro turno, levantamento de Instituto F5 Atualiza Dados mostrou que o ex-presidente é, disparado, o maior cabo eleitoral dos mineiros, com potencial.

A pesquisa mostra que, quando o nome de Kalil é associado ao de Lula, ele passa a liderar a corrida ao governo de Minas com 43,9%. Zema, vinculado ao presidenciável do Novo, Felipe d’Avila, fica com 35%. Já Carlos Viana, ao aparecer ao lado de Bolsonaro, vai a 9,1%.

Fenômeno idêntico ocorre na eleição ao Senado. Quando a candidatura de Silveira é associada à de Lula, o senador conquista 29,5% das intenções de voto. Ele fica mais de dez pontos percentuais à frente do deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), que, ao ser vinculado a Bolsonaro, tem 18,8%.

Wadson Ribeiro, presidente do PCdoB-MG e candidato a deputado federal, diz que a prioridade da esquerda mineira é derrotar Bolsonaro. Minas é o segundo maior colégio eleitoral do País, com quase 16,3 milhões de brasileiros aptos a votarem em outubro. “Nossa expectativa é que o Lula mantenha aqui essa dianteira em relação ao Bolsonaro – e que isso seja um impulso à sua vitória, seja no primeiro turno, seja no segundo”, afirma Wadson.

Segundo ele, a campanha eleitoral em Minas é uma das mais importantes do País, na medida em que sintetiza o “comportamento do eleitorado” brasileiro. “Nenhum presidente foi eleito sem vencer em Minas Gerais”, lembra o dirigente do PCdoB.

Sobre as chances de Kalil, Wadson é otimista. Ainda que fosse bem menos conhecido que Zema, o ex-prefeito de Belo Horizonte iniciou a campanha com 23%. “É um longo caminho de crescimento a ser percorrido, mas o Kalil saiu com um patamar de votos bastante interessante, acima dos 20% das intenções de voto”.

A região metropolitana de Belo Horizonte – onde Kalil é mais conhecido – concentra 5,2 milhões de eleitores, o equivalente a 32% do eleitorado mineiro. A missão de campanha é consolidar essa região, especialmente a capital, como reduto, além de tornar o nome de Kalil mais competitivo no interior. As outras regiões do estado com mais eleitores são o Sul/Sudeste (12,5%), a Zona da Mata (11,1%) e o Triângulo/Alto Parnaíba (11%).

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