Nelson Piquet recebe 6 milhões do governo e doa meio milhão a Bolsonaro
Dono de empresa devedora de impostos presta serviços ao governo sem licitação e doou mais R$ 200 mil ao PP.
Publicado 03/09/2022 08:31 | Editado 03/09/2022 11:13
Ainda não se sabe se o piloto de Fórmula 1, Nelson Piquet, estava querendo ajudar ou atrapalhar a campanha de Jair Bolsonaro à reeleição. O fato é que ele criou vários embaraços a si mesmo, desde que recebeu R$ 6 milhões do governo e devolveu meio milhão direto à campanha do amigo, registrando o mimo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Com isso, se tornou o maior doador pessoa física da campanha.
Um contrato assinado, sem licitação, em 2019, com o Instituto Nacional de Meteorologia, órgão ligado ao Ministério da Agricultura, rendeu R$ 3,5 milhões à Autotrac, empresa de Piquet, que, um ano depois, recebeu de aditivo mais R$ 3 milhões do governo Bolsonaro. Há previsão de aditivos ao contrato até o fim de 2026, sendo que a mesma empresa é devedora de impostos federais.
A informação foi apurada pelo site Metrópoles e revela que o esportista não se importa com os riscos envolvidos. A exposição dessas informações põe na berlinda a empresa e seus vínculos suspeitos com o governo. Como foi feito o acordo sem licitação, o esquema parece servir para repasses de recursos públicos para a campanha de Bolsonaro.
Ciência e Tecnologia
Piquet também realizou uma doação de 200 mil reais à direção nacional do PP, partido que compõe a coligação nacional com o PL em apoio à reeleição de Bolsonaro. O valor consta na plataforma DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral.
A plataforma também divulga que o candidato à reeleição recebeu R$ 350 mil do empresário Gilson Trennenpohl, acionista marjoritário da Stara S.A. A empresa de maquinário agrícola recebeu do Ministério da Ciência e Tecnologia R$ 2,1 milhões.
Outro elemento que chama a atenção, é que os recursos foram fornecidos às empresas por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que tem sido motivo de muita disputa pelas universidades e entidades de pesquisa científica. A falta de transferências de recursos do FNDCT para estas entidades têm causado enormes dificuldades para a produção científica nacional. Os acordos foram feitos por meio do Ministério de Ciência e Tecnologia, conduzido pelo astronauta Marcos Pontes, candidato ao Senado por São Paulo.
Racismo e homofobia
Este escândalo se tornou o mais novo elemento do processo judicial que o ex-piloto enfrenta na Justiça por racismo e homofobia. Na ação, Piquet pode ser condenado a desembolsar 10 milhões de reais em danos morais coletivos e sociais.
Na ação movida por entidades negras, LGBT+ e de direitos humanos, as autoras do processo afirmam que o repasse ao projeto bolsonarista demonstra que ele auferiu, no mínimo, 7 milhões de reais em 2021, o que, em tese, comprovaria sua capacidade financeira para arcar com a eventual indenização. A Lei de Eleições prevê que só é permitido doar até 10% da renda anual.
A ação foi movida pelo fato do piloto ter se referido ao heptacampeão Lewis Hamilton como “neguinho” e ao tricampeão Nico Rosberg como “bicha”, em uma entrevista, em 2021, desqualificando-os. O Clube dos Pilotos Britânicos suspendeu a inscrição do brasileiro, e a Fórmula 1 decidiu bani-lo da presença em competições.
Nas redes sociais, os perfis subiram a hashtag #JAIRCASHBACK, se referindo à compras realizadas em lojas onde o cliente recebe de volta uma parte do dinheiro investido. Fala-se muito também na mamata criada no governo para os amigos do presidente.