Campanha ganha tração após sabatinas na Globo e debate na Band

Estreia da campanha na grande mídia foi particularmente ruim para Bolsonaro. Para quem precisa buscar o voto dos indecisos ou ao menos recuperar parte dos eleitores de 2018 que mudaram de opção, o presidete fracassou.

A campanha eleitoral de 2022, iniciada oficialmente em 16 de agosto, começa a ganhar tração após duas semanas. Além do início da propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV na sexta-feira (26), os últimos dias foram marcados pelas sabatinas de presidenciáveis ao Jornal Nacional (JN), da TV Globo, e pelo primeiro debate realizado pela Band com os principais candidatos ao Planalto.

Aos poucos, a percepção de que os brasileiros ainda não entraram no “clima” das eleições vai ficando para trás. As entrevistas ao JN – especialmente as de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – tiveram boas audiências, além de ampla repercussão nas redes sociais.

Conforme dados consolidados da Kantar Ibope Media, houve um empate entre o ex-presidente e o atual mandatário. A entrevista de Bolsonaro a William Bonner e Renata Vasconcellos – que abriu na segunda-feira (22) a série do JN – alcançou uma média 32,7 pontos de audiência na Grande São Paulo. Cada ponto equivale a 74.666 domicílios. O share (índice de televisores ligados que estavam sintonizados na emissora) foi de 46,7%.

Com Lula, sabatinado na quinta-feira (25), a audiência foi da mesma ordem de grandeza: 32,3 pontos de ibope e 47% de share. O petista, porém, sobressaiu nas redes sociais. Levantamento da Quaest Pesquisa e Consultoria indica que, nos 40 minutos em que Lula foi entrevistado, 15 milhões de usuários o citaram nas redes, sendo 48% de menções positivas e 52% de negativas. Já Bolsonaro, em 40 minutos ao vivo, atingiu 9 milhões de contas, com 35% de citações positivas e 65% negativas.

O debate na Band reuniu um número maior de candidatos – seis, contra quatro das sabatinas na TV Globo. Na Grande São Paulo, a audiência foi de 13,3 pontos, com picos de 14,5 pontos, conforme a Kantar Ibope. Comparado com o primeiro debate da eleição presidencial de 2018, o número de telespectadores da emissora praticamente dobrou – a Band chegou a superar a Globo neste domingo.

Igualmente significativa foi a audiência na internet. A Band promoveu o encontro dos presidenciáveis em parceria com a TV Cultura, o portal UOL e o jornal Folha de S.Paulo. No YouTube, enquanto o debate estava no ar, esse pool chegou a 2 milhões de espectadores simultâneos, sendo 1,6 milhão no canal da Band e 400 mil no canal do UOL.

A estreia da campanha na grande mídia foi particularmente ruim para Bolsonaro. Mesmo abusando das fake news – sem o devido contraponto dos organizadores –, o presidente mirou exclusivamente sua “bolha” durante a sabatina no JN. Para quem precisa buscar o voto dos indecisos ou ao menos recuperar parte dos eleitores de 2018 que mudaram de opção, Bolsonaro fracassou.

Com relação ao debate, uma pesquisa qualitativa também mostrou ruídos para o bolsonarismo. O instituto Datafolha dividiu 64 eleitores indecisos em três salas virtuais para acompanhar a transmissão e avaliar desempenho dos candidatos. Entre esses eleitores, 51% consideraram que, ao final dos três blocos do encontro, Bolsonaro foi o que se saiu pior entre todos os participantes.

Além disso, com denúncias de abusos cometidos pelo governo Bolsonaro, houve uma disparada em buscas na internet por temas comprometedores para o presidente. Entre as cinco expressões mais procuradas no Google durante a realização do encontro na Band, duas dizem respeito à gestão bolsonarista: “O que é o sigilo de 100 anos?” e “Quem aprovou o orçamento secreto?”. O termo “misoginia” – que significa aversão mórbida à mulher – ficou igualmente entre as buscas de destaque no Google Trends.

Um dos efeitos dessa rodada de aparições na grande mídia é que Bolsonaro tende a reduzir suas idas a programas de rádio e TV. Nesta segunda (29), por exemplo, ele não compareceu à sabatina que estava prevista na Jornal da Manhã, da Rádio Jovem Pan. De acordo com a emissora, a entrevista foi remarcada para 5 de setembro. Bolsonaro tampouco tem presença confirmada nos próximos debates entre presidenciáveis, marcados para os dias 13 de setembro (CNBB), 24 (SBT) e 29 (TV Globo).

Autor