Trump deve decidir se divulga informações sobre busca do FBI em sua casa
Após busca do FBI que vasculhou a casa de Trump em busca de documentos secretos, o ex-presidente passou a achincalhar a polícia e o governo, chantageando-os politicamente.
Publicado 12/08/2022 16:43 | Editado 13/08/2022 08:26

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, continua tumultuando o estado democrático de direito do país, mesmo após ter saído do governo. Após uma busca e apreensão feita pela Polícia Federal (FBI) em sua casa na Flórida, na segunda-feira (8), caixas de documentos sigilosos do governo foram levados, dando início a turbulências políticas e escândalo. Após o silêncio do presidente Joe Biden, e um ultimato dado pelo procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, agora a bola está com Trump.
Tanto o FBI, quanto o Departamento de Justiça, passaram a ser ridicularizados por Trump e políticos republicanos, pela situação inédita de vasculhar a casa de um ex-presidente atrás de documentos levados da Casa Branca e não devolvidos. Ele chegou a acusar a polícia de ter “plantado provas” em sua casa. Os republicanos ameaçaram abrir CPI para investigar Garland e o Departamento de Justiça.
O imbróglio tem mostrado a fragilidade a que a democracia dos EUA está exposta, desde que um presidente da República, que não respeita as instituições do país, chega ao lugar mais poderoso de Washington. Segundo especulam os jornais, as informações de que Trump se apropriou podem estar relacionadas com a segurança de outras nações, assim como dados secretos de pessoas importantes e empresas.
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Sexta-feira do ultimato
Por três dias, Garland manteve-se calado até que, nesta quinta-feira (11), veio a público anunciar que solicitou a um tribunal federal autorização para revelar os termos do mandado que motivou a busca e apreensão na casa de Trump, assim como o inventário do material recolhido por agentes do FBI.
Com esse anúncio, Garland fez uma contundente defesa da polícia e do seu departamento, e deu um ultimato nos republicanos. Depois disso, Trump veio dizer que apoiava a revelação das informações e que a ideia executada pelo procurador-geral, de certa forma, era dele.
Trump também alegou que teria entregue os documentos ao Departamento de Justiça se solicitado. “Número um, foi tudo desclassificado. Número dois, eles não precisavam ‘apreender’ nada. Eles poderiam tê-lo quando quisessem sem fazer política e invadir Mar-a-Lago”, escreveu em sua plataforma Truth Social. No entanto, ele manteve a posse dos documentos apesar de vários pedidos de agências, incluindo o Arquivo Nacional, para entregar os registros presidenciais de acordo com a lei federal.
O silêncio da Casa Branca e a suposta confidencialidade dos documentos, no entanto, pode isolar Garland. Há expectativas de que as revelações possam ser frustrantes, já que dificilmente o governo exporia dados sensíveis. Com isso, Trump sairia em vantagem.
A bola está com ele, agora. Assim como o ônus da divulgação de informações que mostrariam que ele agiu de má-fé ao manter consigo documentos que não deveriam ter saído das instalações superseguras do governo. Garland ganha algum fôlego.
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Há um esforço do presidente Joe Biden de garantir a independência do Departamento de Justiça, ao contrário da gestão Trump. Tanto Biden, como Garland estão sob pressão para não prejudicar um potencial adversário eleitoral em 2024. Até mesmo a investigação sobre a invasão do Capitólio sofre pressão política, que coloca Biden e Garland numa situação delicada.
Especialistas em informações confidenciais têm dito na imprensa que a busca incomum ressalta a profunda preocupação entre os funcionários do governo sobre o tipo de informações que poderiam estar localizadas em Mar-a-Lago Club, a casa de Trump, em risco potencial de cair em mãos erradas. As doze caixas apreendidas estavam protegidas apenas por um cadeado.
Especulações
Nesta sexta, o Wall Street Journal informou que teve acesso a uma lista dos documentos removidos da residência, que incluiria materiais marcados como ultrassecretos e destinados a serem vistos apenas em instalações governamentais seguras. Incluídos no manifesto também estavam arquivos referentes ao perdão de Roger J. Stone Jr., um associado de longa data de Trump, e um dossiê informativo sobre o presidente Emmanuel Macron da França.
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Com toda a movimentação judicial, as revelações podem vir a público ainda nesta sexta. Depende dos advogados de Trump não se oporem. O ex-presidente pode, inclusive, divulgar os documentos para seus seguidos nas redes sociais. No entanto, mostra que está resistindo a isso, depois de ter gritado: “Libere os documentos agora!”
A imprensa americana tem explicado o que estaria por trás de tudo isso, por meio de fontes não identificadas. Os documentos estariam relacionados a alguns dos programas mais sigilosos administrados pelos Estados Unidos. Material de “programas de acesso especial” seria uma designação para documentos com informações extremamente sensíveis sobre operações e tecnologias utilizadas fora do país. O Washington Post sugeriu que os documentos tratariam de armas nucleares.
No entanto, a divulgação implicaria também em revelar tudo sobre o mandado de busca. Com isso, Trump pode ficar sabendo quem são os envolvidos na investigação que levou a aprovação da busca em sua casa. A imprensa diz que pessoas envolvidas na investigação da invasão ao Capitólio podem ter revelado, via algum mecanismo de delação premiada, o que Trump teria feito com os documentos, quando saiu do governo.
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Com informações da imprensa dos EUA