Cida Pedrosa lança ‘Estesia’ seu primeiro livro de haicai

‘Estesia’ traz 40 poemas e imagens produzidas pela própria autora, em sua casa e em passeios diários com seu cachorro, no auge da pandemia de Covid-19

A poeta pernambucana produziu poemas metrificados durante o período de isolamento na pandemia | Foto: Roberto Jaffier/Divulgação

A pernambucana Cida Pedrosa, vencedora do Prêmio Jabuti 2020, nas categorias Livro do Ano e Poesia, com ‘Solo para Vialejo’, transformou o período mais crítico da pandemia de Covid-19 em um momento de profunda contemplação e inspiração que foi registrado em 40 haicais (gênero de poesia com forma fixa e temas referentes ao cotidiano e à natureza) acompanhados de fotografias de sua autoria.

‘Estesia, primeiro livro do gênero de Cida, será lançado nesta quinta-feira (11), às 18 horas, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), na Passa Disco – Galeria Hora Center, localizada no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife. A obra foi disponibilizada em e-book, em setembro de 2020, durante uma live que se tornou alvo de ataques da extrema direita, e agora ganha versão impressa.

Lançamento no Festival de Inverno de Garanhuns | Foto: João Paulo Seixas

Inspiração no isolamento

O livro surgiu da desaceleração. Do distanciamento de uma rotina de correria diária, para um dia a dia de incertezas e reflexões inadiáveis. Cida conta que estava trabalhando, em homeoffice e na campanha para vereadora, e saía para passear com seu cachorro, um Lhasa Apso de 13 anos chamado Bob Marley. Entre a tensão do confinamento e as notícias de inúmeras mortes, retomou um hábito da adolescência vivida no Sertão: o de contemplar a natureza e o meio. De sentir a cidade e os instantes. E decidiu registrar tudo e unir contemplação, fotografias e poemas.

Às vezes, escrevia na rua mesmo, quando tirava as fotos, noutras, gravava áudios para escrever em casa. “Não sou profissional de fotografia, mas gosto muito de registrar o que vejo e sempre amei poemas metrificados, como os que eu lia naquele momento e me deram uma vontade imensa de experimentar o gênero”, relatou a vereadora.

Da janela de seu apartamento no 12º andar, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, Cida percebeu o pôr do sol enclausurado. Os desejos presos no concreto. A flor que alimenta os pobres. Memórias foram surgindo aos quatro cantos, como a de sua terra, Bodocó, no Sertão pernambucano, tão presente no cacto pendurado na varanda. Ao todo, ela fez 70 haicais e fotos e selecionou 40 para o livro.

“O mundo não é mais o mesmo. Essa coisa que nos colocou diante da morte também nos coloca uma urgência de repensar a forma como nos relacionamos com o mundo. E o livro dá um toque sobre isso: a beleza precisa reagir”, declara, remetendo a observação a um dos haicais de ‘Estesia’ que acompanha a imagem de uma flor lilás:

Clitóris lilás

A alegrar o passeio.

Reage a beleza.

Passado o pico da pandemia, de volta à correria diária, Cida salienta que “o distanciamento da dor maior da morte (no pico da pandemia) mostra o tamanho que ela teve para você”, por isso o livro vai ser sempre atual. E observa o quanto “a correria também é uma morte, uma perda, pois falta espaço para o fluir da literatura, falta o espaço do bom, do belo”.

Ainda assim, a escritora se dispõe a buscar esse espaço e se debruça sobre três novas obras, uma de prosa poética, outra de poesia erótica e uma de contos, pois, segundo ela, escrever é sua salvação, o que a mantém viva. Mas admite: “Para mim, é novo constatar que mudei, com a pandemia, mas não tanto quanto gostaria. Continuo em busca de minha Passárgada”.

Sobre a autora

Cida Pedrosa

Cida Pedrosa saiu de Bodocó para o Recife em 1978, onde se consolidou como poeta. Ainda adolescente, em 1980, integrou o Movimento dos Escritores Independentes (MEIPE) e dois anos depois publicou o primeiro de seus dez livros, Restos do Fim (1982). Depois vieram O cavaleiro da Epifania (1986); Cântaro (2000); Gume (2005); As filhas de Lilith (2009); Miúdos (2011); Claranã (2015); Gris (2018); Solo para Vialejo (2019) e o e-book, Estesia (2020).

Formada em Direito, Cida Pedrosa se engajou cedo na luta em defesa dos direitos humanos e, em 1995, ingressou na gestão pública, sendo eleita vereadora pelo PCdoB em 2020, mesmo ano em que ‘Solo para Vialejo’ saiu vencedor nas categorias Poesia e Livro do Ano no Prêmio Jabuti. Segundo ela, sua escrita tem função social.

Serviço:

Lançamento do livro ‘Estesia’, de Cida Pedrosa
Data: 11 de agosto (quinta-feira)
Onde: Passa Disco – Galeria Hora Center (Rua da Hora, 345, Espinheiro, Recife)
Horário: 18 horas
Preço do livro: R$ 25,00 (impresso) e R$ 10,00 (E-book)

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