Jô Soares morre aos 84 anos; personalidades lamentam perda do apresentador

O apresentador, humorista e escritor faleceu em São Paulo, onde estava internado desde julho. Causa da morte não foi divulgada.

Jô Soares no “Programa do Jô”, na Rede Globo; humorista morreu nesta 6ª feira (5/8/2022) | Foto: divulgação/internet

O apresentador, humorista e escritor, José Eugênio Soares, mais conhecido como Jô Soares, morreu na madrugada desta sexta-feira (5) aos 84 anos. A informação foi confirmada por sua ex-mulher Flavia Pedras pelo Instagram.

“Faleceu há alguns minutos o ator, humorista, diretor e escritor Jô Soares. Nos deixou no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, cercado de amor e cuidados. O funeral será apenas para família e amigos próximos”, escreveu Flávia ao postar uma foto de Jô em seu perfil.

Em nota, o hospital informou que ele estava internado desde o dia 28 de julho no hospital Sírio Libanês. Jô faleceu às 2h20 da madrugada e a causa da morte ainda não foi divulgada.

Nas redes sociais, parlamentares e entidades lamentaram a morte do apresentador. Veja abaixo:

Orlando Silva, deputado federal pelo PCdoB-SP

“Muito antes das redes sociais, a diversidade de opiniões passava era aqui: entrevistas desse querido programa do Gordo. Comunicador, escritor, humorista e democrata. Nós da esquerda e movimentos sociais, sempre tivemos voz por lá. No vídeo, Luiz Carlos Prestes em 1990. Vá em paz!”

Jandira Feghali, deputada federal (PCdoB-RJ)

“Acordei com a triste notícia de que Jô Soares se foi. Perdemos um artista completo, uma mente aberta e aguçada que, com humor, trazia temas sérios para o debate. Era único.  ?”

Bruna Brelaz, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE)

“Perdemos hoje um grande ícone da cultura brasileira. Jô Soares marcou a televisão, o cinema e o teatro, com seu talento, personagens memoráveis e humor inigualável. Você vai deixar um legado enorme para a cultura brasileira. Viva o Jô!”

Leci Brandão, artista e deputada estadual (PCdoB-SP)

“Jô Soares, simplesmente um dos maiores humoristas e artistas que o nosso país já produziu, fez sua passagem hoje aos 84 anos. Eu agradeço por todas as risadas, reflexões, sensações e memórias, enfim, todo o legado que ele nos deixou. Que Olorum o receba em festa! Jô é eterno.”

Alice Portugal, deputada federal (PCdoB-BA)

“O Brasil acordou hoje mais sem graça? Perdemos esse artista único, inteligente, sagaz, atento aos principais assuntos do país. Obrigada, Jô, pelo seu talento, pela sua graça e sua dedicação à arte!”

Perpétua Almeida, deputada federal (PCdoB-AC)

“Que tristeza amanhecer aqui no Acre, com 2 horas de diferença do restante do Brasil e vê as notícias da morte de Jô Soares! Logo ele, que a vida inteira nos fez rir, agora nos faz chorar. Vai em paz, Jô! Que Deus te receba de braços abertos. #JôVive”

Lula, ex-presidente da República

“Jô Soares foi um dos atores, autores, comediantes e entrevistadores mais talentosos da história do Brasil. Seus talentos e atividades eram tantos que desafiam categorias. Uma pessoa generosa que por anos conduziu entrevistas que foram um importante espaço de debate para o país. Fui entrevistado por ele várias vezes, sempre com independência e disposição de ouvir o entrevistado. O Brasil hoje, nesse momento tão difícil, perde uma parte do seu humor, talento e inteligência. Mas nunca esquecerá da obra que nos deixou Jô Soares.”

Dilma Roussef, ex-presidenta do Brasil

“É com tristeza que recebo a notícia da passagem de Jô Soares. Escritor notável, humorista brilhante e um entrevistador sensível, Jô foi um artista e intelectual de grande dimensão. Quando eu estava sob intenso ataque da mídia e dos adversários políticos, pouco antes do processo de impeachment, em abril de 2016, ele abriu seu programa para me entrevistar. Foi uma conversa respeitosa e muito importante. Jô foi a única voz dentro da Globo disposta a me ouvir naquele momento. E disso eu não me esqueço. Ele foi um democrata e era um artista de princípios. Lamento profundamente sua morte. O Brasil perde um grande artista e eu, atrevo-me a dizer, perdi um amigo. Meus sentimentos aos familiares, admiradores e fãs deste artista brasileiro de rara sensibilidade.”

Quem foi Jô Soares

Nascido em 1 de janeiro de 1938 no Rio de Janeiro, Jô Soares – ou simplesmente Jô – foi o único filho do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Pereira Leal. Pelo lado materno, foi bisneto do conselheiro Filipe José Pereira Leal, diplomata e político que, no Brasil Imperial, foi governador do Estado do Espírito Santo. Por parte de seu pai, foi sobrinho-bisneto de Francisco Camilo de Holanda, ex-governador da Paraíba.

Queria ser diplomata quando criança. Por isso, além do Português, o apresentador falava mais quatro idiomas: inglês, francês, italiano e espanhol – além de ter bons conhecimentos de alemão. Traduziu um álbum de histórias em quadrinhos de Barbarella, criação do francês Jean-Claude Forest. Estudou no Colégio de São Bento, no Rio de Janeiro; no Colégio São José, em Petrópolis; e em Lausana, na Suíça, no Lycée Jaccard

O apresentador tinha transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Em sua casa, os quadros precisavam estar tombados levemente para a direita.

Jô era sobrinho de Togo Renan Soares, conhecido como “Kanela”, ex-treinador da seleção brasileira de basquete.

Era católico, sendo devoto de Santa Rita de Cássia.

Entre 1959 e 1979, Jô Soares foi casado com a atriz Therezinha Millet Austregésilo, com quem teve seu único filho, Rafael Soares (1964–2014), que era autista e morreu aos 50 anos.

Entre 1980 e 1983, foi casado com atriz Sílvia Bandeira, 12 anos mais nova. Em 1984 começou a namorar a atriz Claudia Raia, romance que durou dois anos.

Também namorou a atriz Mika Lins e, em 1987, casou-se com a designer gráfica Flávia Junqueira Pedras, de quem se separou em 1998.

No dia 4 de agosto de 2016, foi eleito para a Academia Paulista de Letras, assumindo a cadeira 33, que pertenceu ao escritor Francisco Marins.

A carreira como apresentador começou no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) com o programa “Jô Soares Onze e Meia”, que foi ao ar entre 1988 e 1999. Em 2000, o humorista iniciou na TV Globo aquele que se tornou seu programa mais famoso, o “Programa do Jô”, encerrado em 2016.

Cronologia da carreira

Detentor de um talento versátil, além de atuar, dirigir, escrever roteiros, livros e peças de teatro, Jô Soares também foi um apreciador de jazz e chegou a apresentar um programa de rádio na extinta Jornal do Brasil AM, no Rio de Janeiro. Também passou pela extinta Antena 1 Rio de Janeiro.

1956 — Estreia na televisão no elenco da Praça da Alegria, na época na TV Record, onde ficou por 10 anos.

1965 — Protagoniza a única novela de sua carreira, a comédia Ceará contra 007, a trama de maior audiência naquele ano no Brasil. Também na Record.

1967 — Em “Família Trapo”, roteirizava ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega e atuava como Gordon, o mordomo atrapalhado e descompensado. Último trabalho na Record.

1971 — “Faça Humor, Não Faça Guerra” foi primeiro humorístico da TV Globo a contar a com a participação do comediante. O programa em meio à Guerra Fria e ao conflito do Vietnã brincava com o slogan pacifista hippie “Make love, don’t make war” (Faça amor, não faça a guerra).

1973 — “Satiricom”, novo humorístico da TV Globo, com direção de Augusto César Vanucci, realizava roteiros com Max Nunes e Haroldo Barbosa. A atração satirizava o título do filme homônimo de Federico Fellini – “Satyricon”. Na promoção do programa, todavia, diziam que era a “sátira da comunicação” num mundo que tinha virado uma “aldeia global”, expressão que esteve na moda depois dos primeiros anos da TV via satélite.

1976 — “Planeta dos Homens”, nova sátira com o cinema – desta vez, a série cinematográfica “O Planeta dos Macacos”, atuava com roteiros de Haroldo Barbosa.

1981 — “Viva o Gordo”, com direção de Walter Lacet e Francisco Milani, foi o primeiro programa solo dele. Tinha roteiros de Armando Costa. Deu origem ao espetáculo do gênero “one man show” de Jô chamado “Viva o Gordo, Abaixo o Regime” (sátira explícita ao Golpe Militar de 1964 ainda vigente àquela época). As aberturas do programa brincavam com efeitos especiais usando técnica de inserção de imagens de Jô entre cenas famosas do cinema (como em “Cliente Morto Não Paga” e “Zelig”) ou “contracenando” com políticos nacionais e internacionais, como Orestes Quercia, Jânio Quadros, Ronald Reagan etc.

1982 — Participação no “Chico Anysio Show”.

1983 — Participação no musical infantil “Plunct, Plact, Zuuum” e comentarista no Jornal da Globo até 1987.

1988 — Mesmo com a audiência nas alturas, Jô decidiu trocar a Globo pelo SBT, onde lançou uma versão extremamente parecida de “Viva o Gordo”, chamada “Veja o Gordo”. Essa encarnação não teve vida longa, mas o interesse de Jô ao fazer a mudança de canal era outro. Ele conseguiu de Sílvio Santos a promessa de comandar um programa noturno de entrevistas, que estreou no mesmo ano do humorístico e “Jô Soares Onze e Meia” acabou virando o primeiro talk show da TV brasileira, abrindo caminho para outros humoristas seguirem sua deixa.

2000 — Trazido de volta para a Rede Globo, apresentou o “Programa do Jô” até se aposentar das telas em 2016. Fez participação no especial de Natal do programa “Sai de Baixo” — episódio “No Natal a Gente Vem Te Mudar” (sátira ao título da peça de Naum Alves de Souza, “No Natal a Gente Vem Te Buscar”) como Papai Noel.

Livros

1972 — Os dilemas do Fantasma e do Capitão América — capítulo no livro Shazam!, de Álvaro de Moya

1983 — O Astronauta Sem Regime

1992 — Humor Nos Tempos do Collor

1994 — A Copa Que Ninguém Viu e a Que Não Queremos Lembrar

1995 — O Xangô de Baker Street

1998 — O Homem que Matou Getúlio Vargas

2005 — Assassinatos na Academia Brasileira de Letras

2011 — As Esganadas

2017 — O Livro De Jô – Uma Autobiografia Desautorizada – Vol. 1

2018 — O Livro De Jô – Uma Autobiografia Desautorizada – Vol. 2

‘Ricardo Iii’ De Shakespeare – Tradução e Adaptação editada em livro pela Imprensa Oficial

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Com informações de agências

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